O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sábado, 13 de fevereiro de 2010

Em homenagem a Agostinho da Silva, nascido há 104 anos




"Não me preocupa no que penso nem a originalidade nem a coerência. Quanto à primeira, tudo aquilo com que concordo passa a ser meu — ou já meu era e ainda se me não tinha revelado. A minha originalidade está só, porventura, na digestão que faço. Pelo que respeita à coerência, bem me rala; o que penso ou escrevo hoje é do eu de hoje; o de amanhã é livre de, a partir de hoje, ter sua trajectória própria e sua meta particular. Mas, se quiserem pôr-me assinatura que notário reconheça, dirão que tenho a coerência do incoerente e a originalidade de não me importar nada com isso"

- Agostinho da Silva, Pensamento em Farmácia de Província, 1 [1977], in Textos e Ensaios Filosóficos II, p.319.

Parabéns, Agostinho, por haveres sido e deixado um exemplo de liberdade! O único que em ti podemos seguir sem te trair e nos trairmos. Foste sem fronteiras e só isso importa.

4 comentários:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Julio Teixeira disse...

Que maravilha!

E ver que é apenas dois anos mais velho que um certo senhor conhecido por 102 anos de hipocrisia!
Infelizmente esse coma ambulante ainda está por aqui.

Agostinho partiu para o merecido descanso e de missão cumprida.

Anónimo disse...

"Foste sem fronteiras e só isso importa". Sublinho, Paulo, as palavras e, mais do que elas o que com elas importa pensar, agir e "ser" em liberdade, principalmente a liberdade de nós, do "eu" como lugar fixo de qualquer coisa. Libertar-mo-nos dessa prisão é receber a presença da vida, impermanente em cada momento e livre do labirinto do "eu".

Aprecio muito esta dedicação e entrega ao "mundo", em cada instante, e em cada lugar, sendo o tudo e vendo o tudo.

Obrigada por me lembrar isso.

Magno jardim disse...

Descança em paz.