O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sábado, 6 de fevereiro de 2010

(i)mu(n)do


Pouco dura

casca de árvore

largada aos elementos

úbere de antigos prantos

a pele revestida por dentro

do musgo do esquecimento

o estranhamento de mim

os dias são o resultado

duma combinatória sem nexo

a arte da atenção

o apego esventrado exposto ao sol

caracol com os cornichos ao sol

a infância toda precipitada das nuvens cinzentas

e o fim ali à mão de semear

tudo acaba na inversão das polaridades do espanto

não tem princípio o que de si nada espera

a vida é uma quimera de retalhos de momentos dissemelhantes

vai para Lisboa a carochinha rutilante num dia antiquíssimo de Primavera

E leva consigo todos os livros da estante impossível de ser eterno

voltará no Inverno para me segregar uma nova meninice

no secreto da esperança

os sapatos velhos que já não uso povoam caixas empoeiradas

de sonhos de ir além

todas as praias me rasgam no coração a miragem triste

de haver duas margens no amor e no engano que há em ser gente

e ser ninguém

o sopro que me anima é um arroubo cigano que me torna presente

a impossibilidade de ser mais que tudo o que não sou



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5 comentários:

platero disse...

Gostaria de ter sido eu a escrever

Posso roubar?
abraço

Anónimo disse...

Paulo Feitais,

O poema é belo, a imagem de uma brilhante e imensa azul(aridade)... Mas... desculpe estes meus ouvidos e olhos se perderem na bela e tão íntima e familiar e amada voz de Llasa de Sela. Valeu o dia nascente! Sorriu de lá de onde a Primavera é eterna.
Grata.

Saudades tinha de si...

João de Castro Nunes disse...

Salvou-se, de facto, a voz de Lhasa de Sela! JCN

audrey disse...

qd a conheci... há mt pc tp........

fiquei......rendida

comove-me...
comoveu-me...............
imenso..


e conheci-a qd procurava uma melodia q servisse de homenagem a uma amiga minha que faleceu.........

descobri-a por acaso,
ptt............

e, por acaso descobri

que ela e a minha amiga
faziam anos no mesmo dia de Setembro
e que....
ambas morreram num mês de Janeiro.....................

Cnidária disse...

tudo acaba na inversão das polaridades do espanto