Pouco dura
casca de árvore
largada aos elementos
úbere de antigos prantos
a pele revestida por dentro
do musgo do esquecimento
o estranhamento de mim
os dias são o resultado
duma combinatória sem nexo
a arte da atenção
o apego esventrado exposto ao sol
caracol com os cornichos ao sol
a infância toda precipitada das nuvens cinzentas
e o fim ali à mão de semear
tudo acaba na inversão das polaridades do espanto
não tem princípio o que de si nada espera
a vida é uma quimera de retalhos de momentos dissemelhantes
vai para Lisboa a carochinha rutilante num dia antiquíssimo de Primavera
E leva consigo todos os livros da estante impossível de ser eterno
voltará no Inverno para me segregar uma nova meninice
no secreto da esperança
os sapatos velhos que já não uso povoam caixas empoeiradas
de sonhos de ir além
todas as praias me rasgam no coração a miragem triste
de haver duas margens no amor e no engano que há em ser gente
e ser ninguém
o sopro que me anima é um arroubo cigano que me torna presente
a impossibilidade de ser mais que tudo o que não sou
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5 comentários:
Gostaria de ter sido eu a escrever
Posso roubar?
abraço
Paulo Feitais,
O poema é belo, a imagem de uma brilhante e imensa azul(aridade)... Mas... desculpe estes meus ouvidos e olhos se perderem na bela e tão íntima e familiar e amada voz de Llasa de Sela. Valeu o dia nascente! Sorriu de lá de onde a Primavera é eterna.
Grata.
Saudades tinha de si...
Salvou-se, de facto, a voz de Lhasa de Sela! JCN
qd a conheci... há mt pc tp........
fiquei......rendida
comove-me...
comoveu-me...............
imenso..
e conheci-a qd procurava uma melodia q servisse de homenagem a uma amiga minha que faleceu.........
descobri-a por acaso,
ptt............
e, por acaso descobri
que ela e a minha amiga
faziam anos no mesmo dia de Setembro
e que....
ambas morreram num mês de Janeiro.....................
tudo acaba na inversão das polaridades do espanto
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