O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Natureza e Saudade - Poisagens onde o olhar se põe



Que foi que se sumiu entre um rasgo de azul e o ramo mais alto da árvore sem folhas?



Irreal como um castelo entre árvores milenares é um poço, como uma serpente, onde se vêem olhos a espreitar-nos por dentro.



A folha brilha na luz de um pingo de chuva alta no muro. Um sopro a desfaz. Tudo respira a humidade dos mitos e a humanidade de nós.



Vejo a flor da neve a florescer nos dedos cor-de-rosa do frio. O rosto encosta-se à inclinação da hora e a água refresca-o, em pingas de nostalgia e fim de tarde.



Cavalga-se o vento numa onda verde, há forças que se manifestam no frio e na ausência de neve. Saudades do branco!


Uma rosa no mar floresce azul, vem o branco do frio limpar de novo ar, as pontes e os rios.


Os rios nascem no peito e vão também na paisagem, como restos de madeira e coisas verdes, à superfície das águas apressadas do Inverno.

Arde um silêncio ao cimo do espelho verde. Arde uma luz de aurora, um fogo, entre as águas
e as searas do vento.


Semeia verões no bico a gaivota arqueada em asas.


Estou assim encostada à vida, como um retrato encostado à mão do rosto. Como uma mão dormente sobre a hora. Um vago azul.


Rasgões de azul vêm chorar entre o musgo e a pedra escura!


É o céu que se baixa para contemplar a torre por onde espreita o olhar.


Toda a hora é uma árvore e todo o ramo uma Saudade da Hora.

7 comentários:

Heduardo Kiesse disse...

Põe-me um pouco de saudade no coração e Sintra bem ao fundo do que ainda sei sentir!



abraço vosso.

Anónimo disse...

Põe-se-me a tua voz no olhar saudoso e a tua palavra suspensa no sentir de um nervura ao fundo de uma parede por onde o musgo sobe.

Abraço "para-doxos" onde fui ler, como se soltassem pássaros e borboletas das sílabas,

Voo com as aves e com Sintra a clarear...

Anónimo disse...

"Uma nervura", claro. Perdoem-me não reler o que escrevo, aqui.

Magno jardim disse...

Com duas mãos – O Acto e o Destino – Desvendamos

Da mão que desvendou
Fosse a hora que haver ou a que havia.

A mão que ao ocidente o véu rasgou
Foi alma a Ciência e corpo a Ousadia.

Da mão que o conduzi-o
Fosse Acaso ou Vontade ou Temporal.

A mão que ergueu o Facho que luzio
Foi Deus a alma e o corpo Portugal.

:)

Anónimo disse...

Seja o quinto o novo Império por haver
Seja o olhar que o diz, o braço que o levanta
Seja o que for que seja essa raiz de ser
É do caminho que o Quinto se encanta

Seja rio ou Saudade o que nos move
Andamos sempre em busca do que vem
Futuro que nos olha e nos envolve
Seja a Hora que o ganhe um mais além.

Nada que diga nos leva em Saudade
Se não houver razão que a busque e ame
Nada me traz o que Agora aqui arde
É no instante que se acende a chama.

E o instante é o mesmo no jardim
A Hora é Agora e já vive Aqui
A lembrança que é eco do que chora.

(Báaa!!! Não sei fazer sonetos! Preciso do JCN, para desencobrir, desocultar... e desferir com a sua certeira seta o que está a mais e o que menos se acerta... Estão os violinos roufenhos! :)

Um sorriso para vós.
De Saudades.

Magno jardim disse...

"E eu vou e a luz do Gládio erguido dá,
Dá contra a hora em que errada
Novos infiéis vençam."


De saudades vive o Homem,
De "JCN" a hora.

De jardim um abraço,
Do "toco" a amizade.

:)

ethel disse...

Volta JCN! Traz-nos um soneto - daqueles que encantam!
Regressei de viagem outra. Meu paladar Canela