O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

sem título





"Diligências de luz, velhas tristezas
das almas que morreram para a luta!
Sois as sombras amadas de belezas
hoje mais frias do que a pedra bruta.
Murmúrios incógnitos de gruta
onde o Mar canta os salmos e as rudezas
de obscuras religiões — voz impoluta
de todas as titânicas grandezas.

Passai, lembrando as sensações antigas,
paixões que foram já dóceis amigas,
na luz de eternos sóis glorificadas.

Alegrias de há tempos! E hoje e agora,
velhas tristezas que se vão embora
no poente da Saudade amortalhadas!"

João da Cruz e Sousa, Velhas Tristezas

3 comentários:

João de Castro Nunes disse...

De quando em quando, a Poesia passa, envolta em metafóricos símbolos e doces palavras, pelo assanhado ninho das serpentes! JCN

baal disse...

assim é. e não se vislumbra qualquer esperança. os dias são de escuridão. não é o medo que nos tolhe. é a tristeza

Anónimo disse...

"não é o medo que nos tolhe. é a tristeza."
Mesmo minusculada a frase tocou-me. É verdadeiramente bela, baal. Béelo!
Belo!

"à luta!"