O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

contribuinte

os pobres também estão na lista?
eu por mim encobria a miséria que o patrão me paga.
posso sofrer mas não quero ser apontado.
prefiro roubar.

à luta

8 comentários:

platero disse...

Boa reflexão, BAAL

abraço

João de Castro Nunes disse...

E será que vossemecê vale mesmo... a tal miséria que o seu patrão lhe paga? É caso para questionar. Faz-me lembrar o caso daquele padre que vendia os sermões por um carro de estrume. Chamado à presença do bispo, que lhe deu forte reprimenda pela indignidade da transação, ter-lhe-ia respondiso: "E quem garante a Vossa Reverência que eles valem isso?". JCN

ethel disse...

Venho de um lugar distante que não precisa de carimbo para certificar a verdade. Se me perguntarem se fica a leste não vou saber o que responder. Trago ele na memória.
Quando me casei bastou um abraço e um beijo melado, promessa de amor. Não havia notários, nem padres para selarem as juras eternas segredadas na cama.
Venho de um lugar desconhecido – tão sonhado que acredito verdade.
Venho de um lugar que abraça o trabalho como se abraça um filho. Sem horas não bato o ponto – danço a cada encontro. Sem dinheiro compro a maçã no lugar do Senhor João. Sem cerimónia dou em troca o que sei fazer.
Sem horas, trabalho sem dar conta da hora.
Venho doutras paragens. Não sei de cor a conta da luz, nem a do gas. Sequer sei a conta da água. Na mercearia me espanto, no supermercado sucumbo. Na esquina me amasso contra o vizinho apressado. No trabalho o chefe me ensurdece com a pergunta:
- Quantos 500 vale o teu trabalho?
Não faço ideia se muitos ou poucos. Não me lembro quantas de mim fui eu na troca da maçã.
- Quantos 500 pagam o teu aluguel? E a tua comida? E a escola do teu filho?
- Somam esses tantos 500...
- O teu salário não vale um quinto desses 500!
Venho de um lugar que não sabe responder quantos 500 são precisos para se viver com dignidade.
Venho de outras paragens – de um lugar desconhecido. Quem sabe sonhado. Mesmo junto do coração.

baal disse...

mas de um lugar onde a indignidade do estado não prolifera. onde os padrecos e os vendedores de estrume não são a mesma coisa, vens tu paladar(de um lugar onde pudeste amar).e eu questiono(a ti jcn), e o meu patrão trabalhou? mais trabalhei eu desde que tenho consciência, o meu pai trabalhava, a minha mãe trabalhava a criar-nos e eu sempre soube que seria um trabalhador. mas uma coisa aprendi:
não é o patrão se decide se sou bom ou não.

Anónimo disse...

Claro. Eu não preciso que a minha chefe me diga que sou linda.

baal disse...

e és? ou só disses que és para chatear a patroa?

João de Castro Nunes disse...

Conversas... de fazer chorar as pedras! Avaliadas em carros de estrume, a quantos correspondem?... JCN

ethel disse...
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