O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Antepassados oradores

Na serra perdem-se os caminhos
saltam-se muros
pelas pedras avança o rio
que é o céu correndo destinos

por entre musgos e minérios
as árvores são outonos
no coração o tesouro
de falos em flor os patronos

no templo, forno, gruta, anta
se alquimizam rostos sem rasto
a escuta dá-lhes o negro e o abrigo
e no denso nocturno cada gesto é oração
e do fundo onde é fundo irradia o Abismo.


Convento dos Capuchos, ao Entardecer

4 comentários:

platero disse...

Bonito, Luiza

beijinho

João de Castro Nunes disse...

Que diriam... os capuchinhos... se não estivessem obrigados à regra do silêncio?!... Nem quero... imaginar! "Porra, senhor abade!" (Bispo do Porto). JCN

Julio Teixeira disse...

Bonito.
Saudoso de algum tempo em algum lugar de remoto passado.

Julio Teixeira disse...

E que até neste momento gostaria de lá voltar.
Sério, muito melancolicamente gostaria de ir aí.

Não, não sei quando nem onde foi.

Distante, muito distante distila mágoas de saudade, incerteza e a crença de não compreender, quando nem onde foi.
Uma tristeza infantil, uma saudade cega.
Mas sinto com o fígado que estive por aí, sem ser aí nenhum lugar no tempo nem no espaço.

E até chega a doer um poco.