O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quarta-feira, 10 de junho de 2009

"... não existe nada que seja mais terrível do que o infinito"

No horizonte do infinito - Deixamos a terra, subimos a bordo! Destruímos a ponte atrás de nós, melhor, destruímos a terra atrás de nós. E agora, barquinho, toma cuidado! Dos teus lados está o oceano; é verdade que nem sempre brame; a sua toalha estende-se às vezes como seda e ouro, um sonho de bondade. Mas virão as horas em que reconhecerás que ele é infinito e que não existe nada que seja mais terrível do que o infinito. Ah, pobre pássaro, que te sentias livre e que esbarras agora com as grades desta gaiola! Desgraçado de ti se fores dominado pela nostalgia [Heimweh]da terra, como se lá em baixo tivesse havido mais liberdade... agora que deixou de haver "terra"!

- Friedrich Nietzsche, A Gaia Ciência, tradução de Alfredo Margarido, Lisboa, Guimarães Editores, 1977, p.143.

4 comentários:

Anónimo disse...

Achei interessantíssima, Paulo, essa relexão que aqui nos traz, a prevenir-nos de que as nossas agonias e melancolias nada são perante o terrível infinito, sem nenhuma ponte para atravessar, suspensos ou mesmo terrivelmente abismados nesse infinito. Ai de nós, que já não podemos chamar a terra que já não há. Sem pontes nem terra, aí, sim, enfrentamos o tal "salto sem rede" de que andamos há algum tempo a falar.

Grata por me ter tirado a terra e o mar debaixo dos pés e me ter deixado no "terrível infinito" mais terrível ainda, porque não "chão" em nada que existe. "Estamos ainda a tempo?..."

Um abraço.

Paulo Borges disse...

Saudades,

Estamos sempre a tempo de perder o tempo sem perda de tempo!

Abraço

Anónimo disse...

É sempre uma gaiola maior....?

Paulo Borges disse...

Enquanto quisermos ser livres a própria liberdade será uma gaiola.