O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sexta-feira, 19 de junho de 2009

Relendo Céline com Pacheco


Fonte: imagem Google


Não há nada mais terrível dentro de nós e sobre a terra e, talvez até, nos céus, do que aquilo que ainda não foi dito.
Só ficaremos de todo tranquilos quando tudo tiver sido dito, dito duma vez para sempre; só então tudo estará em silêncio, ninguém mais terá medo de se calar.

Céline,“A Viagem ao Fim da Noite”,
citado por Luiz Pacheco, in “Crítica de Circunstância”,
Editora Ulisseia, Lisboa, 1966, pág. 85

12 comentários:

Liliana Gonçalves disse...

Este excerto, em mim ressoou. A intranquilidade que em nós habita por não termos dito tudo aquilo que queríamos dizer, é de facto a 'perseguição' do homem na sombra. É nesta viagem, que nos é concedida, neste tempo, que erigimos a descoberta e do 'dito e do não-dito'; a procura até ao derradeiro instante.

Grata pela partilha.

Não dizendo disse...

Tenho tantas Saudades
Como areia tem o mar
Tantas, tantas, Saudades
Que não as posso contar...

(pingando, lenta, cada tecla do piano)

Apeteceu-me disse...

Sei que está desajustado ao tema.

afhahqh disse...

Texto belíssimo que pode ser usado para falar da liberdade de expressão e da necessidade de expressão.

Expressamente disse...

Expressa-te no penico.

Expressando-se disse...

Infelizmente não escrevi a quadra que postei. Não sei quem a escreveu. Ouvi-a a ser cantada por um tenor do coro do Teatro Nacional de S. Carlos há uns anos atrás, acompanhado ao piano e... comoveu-me sim.

Fala Obscuro disse...

O que ainda não foi dito! É esse que tardará o SiLêncio; É talvez Isso de que têm medo, os que em Silêncio, silenciam a Palavra. E a Palavra é o que Adorna. Porque, para os Guaranis, o Verbo, a Alma e a Palavra são o nascido para Sempre. O Agora da fala! O Eterno Nascido!

Ai olé, ai olé disse...

Vocês são o máximo. Isto é o que eu chamo de um verdadeiro bailinho. É só apontar livrinhos de gaiola e lá vem a ração toda preparadinha cheia de ingredientes psicológicos... É ou não é? Ah! É capaz de ser! Talvez não seja. Mas será que foi de propósito? Não pode ser, as palavras falam por si.
Vês, vês? A gente sabe o que ela própria não sabe? E o que será? Não sabemos! Ela recusa-se a ser. Não, não, ela não é. Ai, é, é. Será? deixa ver que mais diz e o que lê...
Que confusão, não?
Mas não deixam de ser uma raça gira de estudar!

Pensando disse...

Desenvolver uma tese, sei lá...

títalos disse...

"De palavrão em palavrão descobre a menina o papão." - por exemplos!

andapacheco disse...

É terrível. É mesmo terrível dentro de nós a silenciar com medo de se calar!

Já me calei mas ainda disse...

Andapacheco? Deixó tar!