O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


domingo, 28 de junho de 2009

execução

Um círculo de sangue

Ínfimo entre a noite e o dia.

Nem sombras

Nem sonhos:

Rumor de salitre

Laminando os olhos

(Microscópico alvitre)

Antes do silêncio.

Mas antes do silêncio.

A palavra com voz,

Um símbolo no termo

Da luz petrificando

A teia

No labor de aranha.

Um círculo de morte

Suspendendo o sangue.

3 comentários:

platero disse...

bons olhos te leiam.
Há que séculos não davas sinal de vida.
Ontem estive com Maria na Arena de Évora, ouvindo música de Cabo-Verde.
encontrámo-nos por acaso. Como sempre.
Bom trabalho - abraço

fas disse...

Grato, grato. Como vão as rosas?

sentada nas cinzas disse...

Os pais aconselham bem os filhos. Os pais dizem aos filhos para não se deixarem entusiasmar pelas suas fantasias pois sabem, talvez por experiência própria, que quando as crianças são expostas durante muito tempo a efeitos mágicos, começam a acreditar em feiticeiros. Isso perturba. O espírito é sobrealimentado por visões virtuais, o que interfere com a possibilidade de poder lidar eficientemente com a realidade. Uma vida rica de fantasia fecha a realidade à chave, impossibilitando-a. Não é uma coisa boa.
Também instigar a confiança com eloquentes cuidados maternos compondo e recompondo a imagem pode parecer bem, mas não deixa de ser outra fraude, não é verdade?
Indubitavelmente tudo tende à frustração porque tudo parece, mesmo quando é… O pé é uma pata; o sapato é um tamanco; o sol é uma cartoolina recortada, sem fogo dentro; a caneta de ouro não passa de um pau de escrever na areia, aquela de que tenho tantas saudades…
Não há implante de espírito que me valha. Não há cruz nem rosa porque o símbolo se tornou tangível e perdeu-se.