O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Será necessário que todos os homens sejam
homens? Também pode haver, sob formas
humanas, homens diferentes do homem.


A coesão geral, interior, harmónica, não existe,
mas existirá.


A doença, como a morte, faz parte dos prazeres
do homem.


O mundo é um tropo universal do espírito,
uma imagem simbólica dêste.


Todo o visível adére ao invisível, tudo o que
pode entender-se ao que não se pode entender,
todo o sensível ao insensível. Talvez tudo o que
pode pensar-se ao que não se pode pensar.


Como a doença, a vida nasce de uma paragem,
de uma limitação, de um contacto.


A filosofia não tem que explicar a natureza,
tem que explicar-se a si-mesma.


Tudo acontece em nós muito antes de ter acon-
tecido.


Quem pode criar uma ciência deve poder crear
uma não-ciência. Quem pode tornar uma coisa
compreensível deve poder torná-la incompreen-
sível.


Os corpos são pensamentos precipitados e cris-
talisados no espaço.


O que há de melhor nas ciências é o seu ingre-
diente filosófico, como a vida é o que há de
melhor nos corpos orgânicos. Despojem as
ciências da sua filosofia, que fica? Terra, ar
e água.


O amor é o fim último da história universal.
O amen do universo.


A linha curva é a vitória da natureza sobre a
regra.


O mar é uma essência líquida de rapariga.


Friedrich Leopold Freiherr von Hardenberg dito Novalis in «Fragmentos». Trad. Mário Cesariny. Assírio & Alvim, 1986.

1 comentário:

João de Castro Nunes disse...

É sempre bom desenterrar... estas coisas! JCN