O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

TRAPOS

(Artigo da autoria de Sandra Maria Ferreira publicado em "Escrita dos Sentidos" do Jornal Entre Vilas)
“O que se leva da terra, leva-se no rosto.” A terra das Ameixas verdes, Herta Mὕller (Nobel 2009)
Desde que nós, os humanos, vestimos a Alma o mundo ficou mais triste: perdeu transparência. As vestes são meias verdades. Farrapos. Iludem. Escondem. Tapam.
Ao querer tocar alguém o Homem toca primeiro as vestes: não é verdadeiro o primeiro toque. Perdeu-se a sensação pura.
Se num dia de sol o Homem quiser ver o calor da videira com a cara tapada não estará, realmente, a ver. Estará primeiro a pensar que vê e não a sentir a visão. Tudo isto o Homem tem feito: veste-se, excede-se com o aspecto exterior.
Meias verdades são farrapos, trapos: ilusão.
Era Natal e o Homem com olhos tapados não viu. E a culpa do Natal não ser todos os dias (há sempre um culpado) será dos trapos que somos ou dos que usamos?

3 comentários:

João de Castro Nunes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Trapos! JCN!

Anónimo disse...

Que trapos?

E por que não guardanapos?!

(brincadeira, Papoila Sonhadora!)

Interessante, "Escrita dos Sentidos"
... e o Homem com os olhos tapados não viu."

Gostei.

Abraço natalício.