O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 8 de dezembro de 2009

"Pascoalinas"... de antes do Natal



I. No princípio, era o Desejo; depois, a cousa desejada ou, melhor, a sua lembrança.

VI. Se nos enlevamos na contemplação da criatura bem amada, é porque, entre nós e e ela, paira sempre a sua lembrança.

VII. Nunca vi, diante do meus olhos, a mulher bem amada. Isso que parecia ela, servia apenas para eu sentir por ela mais saudades,
O murmúrio da água aumenta a sede.

X. Não ames a cousa, na própria cousa; amai-a, na sua presença de saudade.
Eis o perfeito estado amoroso.

Verbo Escuro,Turbamulta, Teixeira de Pascoaes, Assírio & Alvim

7 comentários:

Paulo Borges disse...

Isto recorda Antonio Machado, Bernardo Soares e a impossibilidade do amor... É uma visão demasiado presente na alma portuguesa para que não me pergunte se não reside aqui uma das suas maiores ilusões e vulnerabilidades, que nos fazem vagabundear persistentemente num limbo de desincarnação e irrealidade...

Anónimo disse...

Pascoaes também diz: "A 'cousa' encobre o 'ser'. Ó divino eclipse!

Talvez, Paulo. Penso, contudo, que a par desse "amar" a lembrança da cousa e vagabundear nesse limbo de irrealidade, como bem diz, nunca "matou" em nós a possibilidade de amar. Veja-se que na alma portuguesa (e não só, na alma humana universal...)encontramos o fulgor da visão camoneana, o amar o Amor, o que nos torna luz e espectro, espírito e o corpo. Ilha dos Amores vivida, em um tempo real e irreal.

Não acho que os portugeses só amem em saudade... e a prova... somos nós e está em nós.

Um abraço, Paulo.

platero disse...

Saudades e Paulo

tinha saudades da qualidade do Vosso pensamento.
às vezes penso que eu próprio contribuo para essa desertificação.
Com Copenhaga aí, não deixo de me rever poluidor

abraços a vocês
e não preciso que me expliquem nada

Anónimo disse...

Meu querido Platero,

Meu querido Platero!...

Assim me deixas... a repetir o nome com que aqui nos brindas...

Um bom dia 8 de Dezembro... dia da Imaculada...

João de Castro Nunes disse...

E porque não... com paramento azul e tudo?!... JCN

para quê? disse...

... paramento.

João de Castro Nunes disse...

És um ignorante... primário! JCN