O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


domingo, 6 de dezembro de 2009

aí então a estória dos dentes das palavras


as palavras têm dentes
não sei se como nós:
incisivos caninos molares

se como os tubarões
em duas ou três filas
ou como os crocodilos
afiados que nem serrotes de podar

há palavras que mordem
mas deixam de morder
quando perdem os dentes

outras que passam a dizer
coisas completamente diferentes
com a simples queda de um dente

veja-se por exemplo a palavra encerrar:
arranque-se-lhe um dos erres incisivos
-o que passamos a ter?

encerar
- que nada tem a ver com encerrar

isto é:

a não ser
que se trate
de um estabelecimento comercial
em que se escreva na montra:

estimados clientes:
encerramos às Quintas
- para encerar

mesmo com um dente a menos
as palavras são sempre
uma caixinha de surpresas

2 comentários:

João de Castro Nunes disse...

Com surpresas ou sem elas
com mais dente ou menos dente
as palavras são cadelas
quando se atiram à gente.

JCN

platero disse...

Boa,JNC

abraço