O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


domingo, 25 de outubro de 2009

serenidade

Não tens rosto

E contudo pé-ante-pé

Suspensa no rebordo dos beirais

Acompanhas a solidão

O ranger das telhas parece que torna ocas as coisas

Mas eu sei que a aldeia em que brinco quando menino

Só tem casas pretéritas

Há muito sem telhado

Silenciosa viste cada ilusão

Como cal viva a borbulhar no interior da espera

A argamassa do tédio tem uma consistência esponjosa

Há sempre um lado de dentro quando se tem a consciência da imensidade

As vidraças ficam embaciadas da ansiedade com que se procura a novidade

mesmo ao dobrar da esquina sabe-se lá o que lá estará

sei-te apenas presente

aquífero e semente do fim

talvez fosse bom se agora viesses com a Primavera

a bênção das brisas que nada resguarda

nem o medo do frio

mas que sei eu disso

2 comentários:

platero disse...

identifico-me com lindo poema
O ranger das telhas parece que nos torna ocos - e às telhas

nós - além das telhas

abraço

João de Castro Nunes disse...

Independentemente da sua forma de expressão, sente-se onde é que está a Poesia. JCN