O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 27 de outubro de 2009

"Sem deixar atrás de mim nenhum rasto por todo o lado irei"

O ruído seco de uma pedra contra um bambu!
E tudo o que tinha aprendido foi esquecido num instante.
Não havia nenhuma necessidade de exercício e de disciplina.
Em cada acto e movimento da vida quotidiana
Manifesto a Via eterna.
Não mais cairei numa armadilha escondida.
Sem deixar atrás de mim nenhum rasto por todo o lado irei.

- Hsiang Yen

3 comentários:

Luiz Pires dos Reys disse...

"O ruído seco de uma pedra contra um bambu!" é a mais afiada das lâminas.

Não deixa "nenhum rasto": é ele o rasto mesmo... da "armadilha escondida".

Anónimo disse...

Um estado de alerta, de máxima concentração e simultaneamente, (paradoxo dos paradoxos!) de máxima dispersão. Calma e tensão: o que acontece, acontece verdadeiramente ali! Irrepetível, sem deixar rasto!...

Não se deixando apanhar... aprisionar, a mente segue sem deixar rasto, sempre as ideias a nascer, novas, fluindo na dança...
até... ZUT!
A armadilha!
É Zen, a estética da nudez.

Anónimo disse...

hitotsu ochite futatsu ochitaru tsubaki kana

Uma cai ...
E duas caem a seguir —
Camélias!

Shiki
.................................
mono okeba soko ni umarenu aki no kage

Em qualquer lugar
Onde se deixem as coisas,
As sombras do outono.

Kyoshi
.................................
kono michi ya yuku hito nashi ni aki no kure

Por este caminho,
Ninguém mais passa —
Tarde de outono.

Bashô
...

Boa noite.