O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 20 de outubro de 2009

"As visões poéticas são autónomas, a sua comunicação esotérica." (António José Fortes) - Ah sim?

"Poets come from homes where women rule: the sister of Trakl and those of Yesenin and Mayakovsky, the aunts of Blok, the grandmother of Hölderlin and that of Lermontov, the nurse of Pushkin, and above all, of course, the mothers, the poets' mothers, behind whom the fathers' shadows pale. Lady Wilde and Frau Rilke dressed their sons like little girls. Are you wondering why the child looked so anxiously at himself in the mirror? "It's time to become a man," Jiri Orten* wrote in his diary. During his entire life the poet searches for masculinity in the features of his face."

*Poeta Checo que morreu em 1941 aos 22 anos.

Milan Kundera, "Life is Elsewhere", New York, NY: HarperCollins Publishers Inc., p. 129

31 comentários:

antiquíssima disse...

Uma leitura feminista da história da poesia? Feminista, ou seja, não feminina.

Ana Margarida Esteves disse...

Kundera pouco ou nada tem de feminista... Muito pelo contrário... Nem de cultor do Feminino, diga-se de passagem...

A sua marca distintiva é a ironia e a chamada de atenção para o narcisismo e a neurose que sustentam muita "poesia"...

Ana Margarida Esteves disse...

Os poetas são muitas vezes pessoas incapazes de viver em pleno, refugiando-se por isso no sonho de um "além" onde a vida acontece de feição com os seus desejos frustrados... Lembrem-se de Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Antero de Quental e tantos outros ...

João de Castro Nunes disse...

Que injustiça! Acaso haverá Poetas que não vivam... em pleno?!... Se os há... não são Poetas, mas tão-só... versejadores. JCN

Luiz Pires dos Reys disse...

Ana Margarida Esteves, bem ao seu jeito e igual a si própria, fornecida da costumeira inglesice, claro, para não variar - e aqui (que nem uma Georg Sand do séc XXI) com a pachorrenta bengalinha de Kundera mais o pesadume da sua já insustentável ironia - mostra confundir fulguração poética com poético sujeito.

Este, pode ser rico ou pobre, dandy ou pedante, cego ou surdo, bêbado ou abstémio, um Don Juan ou um desmulherento, lésbica ou maricas, maníaco ou frustrado, inferiorizado ou hiper-egoico, ortónimo ou heterónimo, diplomata ou sapateiro, abade ou sacrista, rei ou marquesa, etc., etc. etc.

Quanto à “neurose que sustenta muita ‘poesia’ ", humm ... tivemos por cá (lembram-se ainda?), as três Mariazinhas das “Novas Cartas Portuguesas”, com certeza, e depois?

Cada um tem a neurose que lhe cabe ter ou merece. Mas reduzir a qualidade ou bodeguice de quanto saia de tais criaturas e criaturos poetantes, recomendáveis ou nem por isso, a mero subproduto de divã freudiano parece-me não apenas muito inverdadeiro, parece-me sobremaneira de uma desmesurada inexactidão, o que é nota de alguma miopia ou já até de vontade de não ver, que também muito há disso.

Porque será que mulher de veia manifestamente impoética, mas com "autonomia" às palettes, fala sempre como se fosse uma pitonisa do avesso?

Bem, para bom entendedor... um "Ah, sim?" basta.


P.S.
Tudo, em tão poucas palavras disse aqui Antiquíssima, a quem aqui dirijo a minha vénia, e retiraria chapeleta se a usasse:

"Feminista, ou seja, não feminina."


(Até daqui a mais 6 meses, Ana Margarida!)

Luiz Pires dos Reys disse...

Nota de rodapé
(que ficou colada à sola do sapato: diacho!):

Espero que haja por aqui alguém que faça saber a Ana Margarida que eu sou um bocadinho para o cáustico, mas que, ainda assim, sou bom rapaz?

O "armado aos cucos" do nevoeiro agradece.
(private joke!)

Ana Margarida Esteves disse...

Meu caro Damien, ou Lapdrey ou seja lá o que a sua petulância de pseudo-literato que não deve ter nada de mais impressionante na sua pessoa ou na sua existência do que a arte de citar nomes sonantes e manipular palavras:

Quem disse que será daqui a seis meses? Será quando me apetecer. Pode ser daqui a seis meses, daqui a seis dias ou até daqui a seis horas.

Este blogue, que começou por ser um espaço tão interessante e enriquecedor, só tem contribuido para criar em mim um certo nojo por algo que antes tinha em alta estima" A chamada "intelectualidade" da nossa época, a "vida da mente", as "artes e letras" dos nossos tristes tempos.

Tudo isso uma choldra, uma cloaca imunda de vaidades, um sintoma febril deste Ocidente refém de uma razão hipertrofiada e decadente que faz com que aqueles que sejam autorizados como legítimos representantes da vida e seus reguladores sejam as criaturas menos saudáveis e equilibradas que por aí andam. É como nos charcos ou nos rios em vias de secarem: Os detritos vêm todos ao de cima e acabam a espetar o dedinho pedagógico à bicharada que fica lá embaixo.

Venho também cada vez menos aqui pois a liberdade que caracterizou os primeiros meses da Serpente foi morta, executada em praça pública por meia duzia de "pintas" que criaram por aqui um ambiente pidesco, repressivo, assassino de toda e qualquer verdadeira criatividade.

Relativamente à minha "inglesice": Não me atinge. Não sou dada a purismos ou patriotismos bacocos. Sou um produto bastardo desta globalização que o nosso Portugal alavancou.

Não percisa de dizer aos outros para me avisar de o senhor é cáustico. Sou perceptiva o suficiente para me ter apercebido disso há muito tempo.

Rapaz?! Já passou dessa faixa etária faz muito... Ou será que está num estado de espírito fadista? "Ai quem me dera/ter outra vez vinte anos (...)".

Um conselho: Respeite as suas barbas grisalhas. Meta-se com alguém da sua idade. Deixe-se de pseudónimos petulantes que o fazem parecer um adolescente. Tenha um pouco de respeito por si mesmo.

É realmente um poeta? Um romancista, ensaísta ou até mesmo um crítico literário? Porque não se esforça então em publicar em vez de estar a perder tempo em blogues? Mande o seu trabalho para as editoras! Arranje força moral para aguentar as cartas de rejeição e aplicar as críticas cnstrutivas ao seu trabalho para, então sim, ter uma publicação da qual se possa orgulhar!

Orgulho-me também da minha "impoeticidade" que assumo cada vez mais.

Agradeço imenso à Serpente e a "Nova Águia" por me terem mostrado onde, com quem e com o quê não vale a pena estar a gastar o meu tempo.

Não peço a ninguém que faça saber que, não obstante a minha "causticidade" sou "boa pessoa" pois acho que ninguém é bom juiz de si mesmo e que é injusto estar a pedir aos outros que difundam julgamentos que podem estar muito longe de ser objectivos.

Luiz Pires dos Reys disse...

Obrigado, Ana Margarida. Demonstrou(-se), tão objectiva e lindamente!
Como seria de esperar também, foi uma resposta não-resposta, com a comida fora do prato, digamos. Que porcarcia!

Quanto ao resto dos considerandos:simples baboseirices de universitária emigrada com a orgulhosidade ferida na guelra de fémina. Pouca coisa, portanto.

Quanto ao tema em debate, nem um gaz nem um zurro.
E o tom, bem, esse continua, pois claro, o do "Ah, sim?"
Pois...

Confirmo, entretanto: “não” tenho nada mais na minha existência, não. Tal como toda a gente, faço por, da existência, fazer sair uma vida, sem –ismos nem -ardes. Nada do que se passe consigo, que faz por arrebitar-se da vida alguma existência que fique para as revistas da especialidade. Curto.

A única coisa, porventura, de acerto que escreveu, Ana Margarida, dentro do pratinho portanto, foi o último parágrafo: precisamente aquilo relativamente ao que eu fiz, por si, e apenas por isso, concessão a mim mesmo.

Viu? Cá se fazem, cá se pagam. Comigo é tiro e queda. Consigo também.

Até daqui a seis horas (se não for já já, a seguir).

Ainda bem que está na escola: é lá que se não aprende a aprender. Em chegando a essa conclusão, chegará a muito do resto.

Paulo Borges disse...

Lamento ver pessoas que tenho igualmente por amigas a ferirem-se mutuamente. Mas que se há-de fazer? A vida também é isto: confusão, luta e dor.

Isto também mostra que a Serpente se mantém como um espaço de liberdade: entra e sai quem quer e quando quer, diz-se o que se quer, nos limites mínimos da civilidade. As portas estão sempre abertas e os espaços sempre em branco.

Não nos levemos e às palavras demasiado a sério: tudo bolas de sabão!

Luiz Pires dos Reys disse...

Se uma e outra vez, Paulo, verifico (malgré moi!) que não consigo fugir a uma espécie de fado-carisma-destino de ser um certo ou incerto "bobo da corte", e dizer à face do Rei - de todos os reis (*) aqui, portanto - ou de ser uma espécie de minúsculo "yourodivy", não logrando fugir de dizer aquilo que um "imperativo" que mo manda, me manda que diga, por outro lado, constato que isso tem frutos, e inesperadíssimos, vejo, em quem menos eu poderia esperá-los aqui. Por aí, vejo que coisa minha apenas não o alcançaria.

Mas, precisamente, aquilo que eu possa esperar ou desejar nisto é exactamente aquilo que para nada importa para o caso.

Não é o meu gosto, opinião, parecer ou juízo, que estão aqui em causa. Quando os exprimo, sempre me estatelo a toda a largura e comprido: aí sou apenas "eu". E sou, sei melhor que ninguém, pouco menos que nada.

Quando o não seja, quando sou transparente, qual asa da borboleta de alma e ânimo, se sou fiel a isso sou de alguma valia; caso contrário, sou coisa nenhuma, e sou apenas um voejar titubeante, em delírio de si, que a si mesmo se procura e não encontra.

Não vou obviamente dizer mais nada porque concordo com Ana Margarida (e com ela concordo mais do que ela sequer imagine) em que "ninguém é bom juiz de si mesmo", por ser, na verdade, "injusto estar a pedir aos outros que difundam julgamentos que podem estar muito longe de ser objectivos."

De facto, ninguém é suficientemente objectivo. Se o fosse, seria uma espécie de pedra em gente, que equivaleria a ser um monstro, visto que a flor e fruto de sermos humanos é sermos, mutuamente e por igual, luz e sombra uns dos outros, na in-diferença a uma coisa e a outra, que, em apatheia ou em nirvana, nos liberte, salve e livre de sermos mares onde desaguam apenas todos os rios das lágrimas que vertemos no que nos nega, e nos não afirme nem firme.

Saúdo-te, Paulo.
Saúdo também, de cara e coração lavados, Ana Margarida, e todos aqui.

Com uma profunda metanoia, na expressão dum namastê do mais amoroso trespasse: como lâmina que corta diamantes impolidos. Por amor: como um bom pai que repreendesse um filho, porque desmedidamente o ama e quer bem.


(*)"Todos em El-Rei, El-Rei em todos; e sem Rei nenhum, que o não precisamos para nada, pois o Rei o somos" (Agostinho da Silva, "Quinze Princípios Portugueses")

Joana Serrado disse...

caro damien.
As discussoes com a AME não me interessam, mas como poetisa, aprendiz de poetisa, de origem portuguesa, fiquei extremamente ofendida pela tua observação das "Mariazinhas" , um importante contributo da escrita no/do feminino. Sim é feminista. Sim rejeita um certo femino (quando menorizado). Depois das Mariazinhas (que não foi há tantos anos) as mulheres puderam votar, puderam viajar para o estrangeiro sem a autorizaçåo dos maridos ou chefes de familia, puderam estudar. A escrita (como outras formas culturais) foram vedadas as mulheres, exemplarmente retratadas pelo post de AME. Nunca tiveram direito ao seu " quarto próprio" na casa. Mas isso o damien certamente sabe. Agora que os homens ainda mandam nas letras é verdade. Por isso mesmo, é necessário promover a visibilidade das mulheres - e isso tem de partir, naturalmente, de nós.
Feminizado ou " poetisa" continua a ser um insulto na língua portuguesa, e noutras. Enquanto não mudarmos a nossa linguagem não mudamos o nosso pensamento. (e isto é para o Baal).

Um abraço a todos.
Joana

baal disse...

por favor joana, não sejas tão sectária. toda a minha vida respeitei as minhas companheiras de luta (e amantes),perante a sua escrita (eu um homem da retórica e da luta) sempre senti admiração.
e contra a tua opinião não acredito que as as mulheres sejam prejudicadas em alguma àrea cultural do nosso país (talvez em filosofia mas é devido á sensibilidade exacerbada).

João de Castro Nunes disse...

O que é preciso, Joana Serrado, é mudar primeiro o pensamento; a linguagem... vem depois! JCN

Luiz Pires dos Reys disse...

A linguagem deve, sem dúvida adequar-se ao que se sentiu, pensou e quer dizer, mas não só. Creio, entretanto, que também não ficou claro o ponto de cuja vista escrevi os comentários acima. Ele, o "ponto", não é nem pode ser fixo e, muito menos, estar nele ferido de fixidez.

As minhas "adjectivações", nomeadamente as "Mariazinhas", são obviamente, não para ofender a ditas, que prezo (razão alguma tenho para não o fazer), mas para assinalar a AME que essa coisa de “emancipação” não passa de outra coisa: o macaquear, nos diversas expressões afeminadas e masculinizadas do padrão-homem|mulher tido por arquetípico: é disso que falo.

Eu podia também ter falado dos saguins comedores de relógios derretidos do "bando" do Cesariny, dos concertinos e descontertados moçoilos do grupinho da Poesia 61, agora todos muito refastelados e burgueses, ou dos meninos de bibe e galão filosófico da escolinha de café de Álvaro Ribeiro – tê-lo-ia feito, e ninguém se teria insurgido.

Por outro lado, frases como "os poetas são muitas vezes pessoas incapazes de viver em pleno" que de facto nada exprimem, porque podem ser aplicados em geral a todo o qualificativo genérico. Seja como for: de quem pode dizer-se que viva “em pleno”?

Frases como esta (em que alguma coisa se diz que muitas vezes ocorre noutra coisa) nada exprimem senão uma difusa generalidade a que se contrapõe outra quase de igual generalidade, de outras coisas que muitas vezes ocorrem em outras coisas.

Nada de muita mudança ocorre assim com frases destas que mirem ancorar-se seja num combate de sexos, seja numa póstera permuta de preponderância dum sexo sobre o outro.

Seja como for, e para que conste, eu sou daqueles que estão convictos que, hoje, é bem mais precisa uma mulher em qualquer posto de liderança do que muitos homens. A mulher dá sempre um contributo notável em mais-valia de descomplicação analítica, de clareza de processos e de objectividade no realmente necessário.

Plenitude, por outro lado, é uma espécie de “rebentar da escala”, coisa para que, no âmbito e nível de limite e limitações em que vivemos, não faz o mínimo sentido fazer apelo. É um pouco um platonismo sem teoria das ideias.

(Cont.)

Luiz Pires dos Reys disse...

(Cont.)

Depois das “Mariazinhas” as mulheres puderam votar, Joana?

Talvez tenha acontecido alguma outra coisa, de mais assinalável e que mais tenha permitido - do que a “escandaleira” das ”Mariazinhas”, à época - que, quer o voto das mulheres, quer o dos homens servisse para alguma outra coisa, a partir daí, que não para encher balões rotos, salazarentos.

Agora, ao que bem parece, estamos a voltar, por outras perversas mas muito democraticamente “respeitáveis” razões, a um tempo em que o voto é, de novo, despudoradamente instrumentalizável e tendencialmente inútil, ainda quando seja tido como "útil" certo voto: com a agravante, desta feita, de vir ele travestido com o selo um tanto perverso duma certa "ditadura das maiorias", absolutas ou relativamente pouco relativas.

A verdadeira maioria do país é silenciosa: essa é que é essa! Mas dessa ninguém fala ou quer falar. Nâo é manipulável.

Isso da escrita “no feminino”, entretanto, só lembra (em geral) a feministas ou a quem passe pela cabeça que arte tem sexo. É um pouco como a conversa do “cinema português” ou da “filosofia portuguesa”. Feição não é feitio.

É (desculpe-se-me o bizarro da comparação) o mesmo que dizer que há uma culinária masculina e outra feminina, ou dizer que Agustina não tem uma escrita tão feminina como Natália Correia a tem, quando o que ambas têm de “matronas” é tão diverso como o masculino e o feminino. Ou como dizer que é "afeminado" um homem com um rosto de traços mais semelhantes aos tidos por femininos do que um calmeirão de barba rija com trejeitos de larilas. Tudo vai da combinação, da mistura e do tempero.

Não há sexos “puros”: isso já devia estar mais do que interiorizado – há, sim, conjugação de padrões e respectivos matizes na hereditariedade e no "perfil" hormonal do sujeito, ora de elementos mais afins dos femininos, ora dos masculinos.

E a fémina e o machão são apenas e tão-só quase “aberrações” no extremar de tais “cozinhados” do cruzamento hereditário e biológico humano, mais os respectivos hors-d’oeuvres da educação que se recebe, a ajudar ou desajudar quanto baste.

Quando AME diz que “Kundera pouco ou nada tem de feminista... Muito pelo contrário...”, eu não tenho dificuldade em acompanhá-la na primeira metade da citação, mas, quanto à segunda, dou comigo a perguntar o que seja isso do “muito pelo contrário" de feminista? Será que é um don juan, ou algum machão da Buraca, um atleta daqueles mais másculos, o “galo” dum harém ou um engatatão algarvio? Torna-se difícil escolher.

Mas torna-se sobretudo ridículo. Como ridículo é o facto de, por óbvios motivos das tais “neuroses”, não se ver facilmente uma feminista com cara de "gaja de calendário de bate-chapas", mas só aqueloutras carantonhas olheirentas e despenteadas que não fazem parar trânsito ou conversa alguma de café, nem vesgueam olhares, e nem puxam, à força toda, a libido a um abundante salivar.

Anónimo disse...

Amigos,

Uma vez que junto letras e sou mulher... e estou aqui, apesar de me ser sempre difícil acostumar a mente, treiná-la a procurar uma expressão prosaica de discorrer clara e objectivamente, sempre contranatura em mim... É como e tivesse, mal comparado, de ligar uma ficha e desligar outra... e isso é pnoso.(Só esta afirmação já iria de encontro ao que a Ana Margarida aqui tem vindo a defender em diversas situações ao longo do tempo: a tese para mim desinteressante de que os poetas, escritores e... provavelemente outros artistas “não batem bem da bola”, desculpem o vernáculo, ou são portadores de neuroses graves, provocadas por mães castradoras. Se bem tenho lido algumas dessas anteriores reflexões que não colheram à epoca grande sucesso. Mas isso não interessa mesmo nada (digo-o sem ironia).

Nunca fui, assumi ou pensei... ou senti, (não se assustem que eu não mordo, não mato, nem firo com intenção maliciosa),...ou senti - dizia eu - qualquer tipo de afinidade com as classificações, definições ou limites: fronteiras, portanto, relativas às coisas do mundo, aos conceitos, etc.

Já se sabe de há muito que não há nada de mais mutável que o mundo e também o homem... e até as vontades...
Lembro-me de considerar, com naturalidade, que o que é perfeitamente definido, fechado em seus limites, é aos olhos da humanidade menos interessante e apelativo do que o que que existe fechado na sua definição.

Quero dizer com isto que tenho sido desde sempre avessa às designadas separações, que em lugar de fazer avançar o pensamento, o paralizam e fazem estagnar. O tipo de opiniãoes como as que com frequência ouvimos: “as feministas é que tiveram razão... “ “são... isto... aquilo” Isso me deixa sempre desconfiada... desconfortável, nunca mobilizada. Contudo, sou suficientemente antigapara ter vivido ,e vivi, isso!...

Anónimo disse...

(cont.)

A velha polémica de existir ou não uma escrita feminina e de como e quando ela deve ser e quais as características que melhor a limitam... desta ou daquela maneira... (perdoe-me quem faz disso matéria de estudo sério e profundo) Nada diso me move, me interessa.

Aceito, sem qualquer limite mental a mudança e vir eu a mudar de opinião. Não é assim tão importante(O Paulo Borges o lembrou) o que se afirma e a palavra com que se afirma.
Ponho o discurso na primeira pessoa, apenas por que dá mais jeito, ou é mais a meu jeito - como diria JCN! -(Um Senhor cheio de defeitos e de virtudes como nós) (riso duplo!)

Com indiferença e alguma estranheza tenho ouvido dizer: “X escreve para as mulheres”; “Y exprime-se com um conhecimento verdadeiro das motivações psicológicas da mulher!” Como? Diga? Pfff!! Encolho os ombros e prefiro calar-me, outras vezes... ainda tento separar mais... mas não consigo: já está tudo separado! (ironia). Por acaso ainda não ouvi dizer:”.. a Z tem uma estrutura narrativa demasiado masculina! (Já ouvi, sim senhora!) É o mesmo fenómeno!

Penso que é sempre um modo de conservar o esteriótipo, contribuir, quam sabe ou não? quicá, para prolongar e conservar a errada ideia de que cada coisa é só uma coisa limitada em si mesma.

Sempre é melhor e mais “moderno” creio, (aqui de novo irónica) evitar rotular. Trazer mais preconceito... não adianta... Já temos os conceitos que tanto nos baralham! Pelo menos a mim.!

E... Ana Margarida, é tudo uma questão de escolha. É quase sempre, creio, uma questão de escolha...
De ligar a ficha da objectividade e desligar a da criatividade...
Que se faça essa escolha com convicção, coisa que o poeta não logra conseguir... pois é coisa que raramente entra na sua "dieta", essa de fortes ou fracas convicções.

Acho que escrevi muito e me expressei mal, aos solavancos: escrita cansada, um pouco, mas deixará de o ser quando descansar (dá para perceber?)

Que longe estamos de onde nos avistamos! E ao mesmo tempo que saudosos de nós!

Um abraço a todos

Joana Serrado disse...

Obrigada a todos pelos vossos comentarios. Esta discussao poderia continuar...mas seria enfastioso. Confesso que nem sequer me referi a questao das neuroses, e estava apenas interessada na questao do feminino. (Deve ser a minha parte neurótica) Compreendo que a discussao da literatura femina, ou mesmo o feminismo, continue a assustar, como sendo depreciador, ou menorizante (particularizante). Vejo-o de outra maneira: feminismo aplica-se tanto aos homens como aos animais e `as mulheres. Aliás, a conquista de direitos paternais por parte doos homens foi graças a um movimento feminista. Ainda diria, como aprendiz de poetisa, que o feminismo devolveu aos homens o direito a chorar.
Claro que tudo tem de ser acompanhado com essa mudança económica e social, Damien. E fico contente feliz pelas amantes do Baal (perdoeem-me o meu bovarismo incorrigivel. Depois de tantas brigas que por cá andam, um bocadinho de flirt só serve para animar as tropas!) Para a Saudades, que tanto digna a Poesia conjugada em todas as formas, as minhas ânsias amorosas...

Anónimo disse...

Joana,

São ânsias... e são sorrisos que daqui lhe mando Joana. Creia que compreendo bem, ou penso compreender o sentido do seu "feminino". Parece-me mais claro.

Quis referir-me`às opiniões que a Ana Margarida tem aqui expressado... e depois misturei no discurso as duas ideias. A escrita às vezes desencontra-se-me do pensamento ou do que queria dizer...

Concordo com a atitude mais "flirtuosa" e menos "animosa"...
Na verdade, baal parece ser...:) "mui gracioso e mui terno" chora, mas não quer chorar... e...
confessou, por brincadeira, que tem medo de mim. Ai, pobre de mim, criatura inofensiva!

Mas, minha cara Joana,

...o feminino... no homem... temos que voltar a falar disso!
Talves seja (ou não?) preconceito já virado do avesso? Nã!!!
Tenho meditação até ao Natal...

Ansiemo-nos amorosamente,
sua admiradora, Saudosa Saudades...

(risos neuróticos!!)

Joana Serrado disse...

querida saudades, eu é que sou sua admiradora e estou a descobrir a sua obra. Sim, vamos flirtando, assustando, e pondo os homens a chorar....(por mais!)
Um abrço sempre ansioso.
Joana

Luiz Pires dos Reys disse...

Já comprei lencinhos de papel: em rolo.

João de Castro Nunes disse...

"saudadesdofutiro": os meus "defeitos"... não serão virtudes exacerbadas?!... JCN

Anónimo disse...

Ena, ena!
Olha o duo em unis(sono)!
Bem me parecia!...

What? JCN!?

Que eu atiro tiros e mando setinhas certeirinhas (que primor de aliteração em "t") já todos tabem... ups! sabem ou sabiam,

(tenham medo! tenham muito medo!...Riso de medo e riso de riso de medo!)

Agora que evoluí para "saudadesdofutiro" é que desconhecia...isso só o sabe o campeão do soneto, o sô-netão! (risos bem dispostos, muitos!)

Quando ao Senhor Damião (de Dóis) é que eu tsmbém ignorava que já tinha aderido ao movimento da escrita masculina-feminina do avesso... Bem!... Pelas muitas lágrimas que se propõe chorar... para essa eventualidade já se encontrará muitíssimo bem prevenido, pois vai chorar! Assim o prevê, ao informar-nos que vai comprar rolos de lencinhos de papel.
Só por isso vou-lhes dedicar umas quadradinhas, aqui vão, aos pares! Não aos trios que é mais económico!

Damião que era de Góis
Tinha um chapéu engraçado
Ia à pesca aos girassóis
Jota Cê ia a seu lado.


Como não tinha defeitos
Esse pobre homem de Cristo
Escrevia quadras sem jeito
Maior era o desafio

Escreviam coisas pesadas
Do abade da invicta
Tinham cá umas tiradas
Os rouxinóis da "botica"...

(Isto precisa de treino. No tempo em que eu era "obscuro" é que era...
Ninguém chorava nem tinha defeitos...só eu... o resto... era tudo puro.. tudo no "fe-miiniiino!"

A-b-r-eijos aos dois...

Anónimo disse...

E Joana... não tenho obra...
que me des-cobre... ou des-cubra...

Hummm... esta voltou a não ter graça... Ó Saudades! - O quê? Como?
"pois" :)

Um beijinho

Anónimo disse...

JCN,

Na segunda quadra, nos versos pares, distraí-me com a rima... também para rimar com "Cristo"... não é fácil (nem o arame do Saramago teria "visto" o "xisto" mandado ao "Evaristo"... não estava isso aqui "previsto"...)

Para Lanzelote e a trote!

P.S. um dia havemos também de partir... nozes e castanhas... piladas... se tivermos dentes...

João de Castro Nunes disse...

Engenho e graça... não lhe falta,, "saudadesdofuturo"! Perante a sua mortífera pontaria... "desisto" da minha arma secreta... que aliás ainda não tem "registo". Sabe?... ando a ver se arranjo algum defeito... para lhe dar ensejo a afinar a pontaria. Por enquanto, fico-me pela escabrosa, mas autorizada terminologia do prelado portuense e do termo que melhor rima com o "serralheiro", o tal dos óculos de arame, que só permitem ver para uma banda. Não sei me entendem. Isso tirando, só virtudes... teologais, tanto cristãs como budistas, conforme as ocasiões e circunstâncias. Nada de radicalismos... revolucionários... ao gosto do senhor BAAAL. Sem ânimo de ofensa, evidentemente. Só porque "il me plait" ou "pour talent de bien faire". Tudo coisas finas.Coisas de virtude, para me penitenciar dos "evaristos" e quejandas safadezas. Passe uma esponja! JCN

Anónimo disse...

Caríssimo J.C.N,

Encontro-lhe também génio, Senhor Prelado... só para que lado?

Agora sem brincadeiras, respeito-o, evidentemente e acho-lhe muita graça e... bem...(sorriso) também talento sonetístico... já o quadrístico... é mais o meu sulista amigo Platero... desculpa se a brincadeira foi longe (foi só uma pedrinha!!!)

Com Amizade,
Uma boa noite.

P.S. E um beijinho, só porque disse que eu tinha "graça" e "engenho". Mas, acredite que é deveras genuíno e espontâneo, muito bem humurado e também... com ternura. Pronto. Já disse!

Anónimo disse...

ah! o "humurado" não é murado, mas
"humorado".

Esta é mesmo para "provocar" Damien, de Guéis...

Saúde, Damien!

João de Castro Nunes disse...

Trabalha-se para Góis ser declarada património da humanidade. A variante Guéis... vai ser mais uma achega. Soa bem! JCN

Anónimo disse...

Toda a acção que leva nobreza é louvável.

João de Castro Nunes disse...

Sobretudo quando, em vez de araminhos, tem arminhos! JCN