O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 27 de outubro de 2009

uma espécie de mata-borrão do toda-a-gente-como-toda-a-gente-de-toda-a-gente




Nós pensamos assim porque as outras pessoas todas também pensam assim.
Ou porque – ou porque – no fim de contas pensamos assim,
Ou porque nos disseram isso, e pensamos dever pensar assim,
Ou porque assim pensámos uma vez, e pensamos que ainda pensamos assim,
Ou porque, tendo pensado assim, pensamos que assim havemos de pensar.

Henry Sidgwick

3 comentários:

Anónimo disse...

Se não girarmos: cabeça e bico, o pescoço a tudo isso... mesmo que, aparentemente pareçamos quietos, sem sair do lugar... Ainda pensamos - pobres pássaros! - que pensámos... e os porquês do pensar sem porquê que nos pensam.

Há muito de "assim pensar" por todo o lado para onde voltemos o "bico"...

Não há mata-borrão que aguente!(risos)

Beijo

Paulo Borges disse...

Retornará sempre o Mesmo? E morder e cuspir a cabeça da serpente, como em Zaratustra, será aceitá-lo?

Luiz Pires dos Reys disse...

"Morder" e "cuspir", vejo-os como dois actos num só gesto.

Um, o acordar que desperta para o que nos morde, quase indolor e inapreensivelmente, no que apreendemos e nos prende, e nos ilude com isso mesmo com que nos torna conscientes de que o não somos.

O outro, um vomitar no transe mesmo desse devorar.

Quanto ao Mesmo.
Se o tempo fosse "rectilíneo", sequencial, seria (creio) talvez circular e urobórico.

Mas, quem sabe, se o tempo não é antes uma "simples" conexão da consciência, sintonizada a determinado momento/âmbito de ancoragem escravizada em instantes, vividos como sucessivos, nessa teia de tudo com tudo que constitui este “jardim dos caminhos que se bifurcam” em que vivemos...

O "retorno eterno ao mesmo" é, talvez, apenas a "colecção" de nódulos/sinapses onde/por que tais linhas de tessitura interminável e infinita se correlacionam. Como as inumeráveis e indetermináveis conexões dos neurónios.

Isto, ainda que o Multi/Uni -verso seja, parece-me, mais do que um Megacérebro, e ainda que o que chamamos "cérebro" seja, por certo, mais do que simples mioleira e suas várias vizinhanças e extensões.