O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sábado, 17 de outubro de 2009

Cinemático

O extenso areal
vazio.

Repleto de
conchas.

Amo-as.

As ondas erguem-se
belas.

Lineares.

Tudo respira em
harmonia.

Silêncio.

A brisa anuncia
o vazio.

Deus fez o mundo
incompleto.

Tudo é
parcelar.

Não chega a
ser.

Pedaços de
nós.

Mergulho no mar
solitário.

Abraça-me.

Num instante sou
pleno.

Como um golfinho
ao longe.

Negro, brilha
submerge.

Causa espanto ao
passar.

Do areal leito
deito-me.

Reflicto nos meus
nadas.

Simplesmente sou, estou
aí.

Não mais que uma
concha.

1 comentário:

João de Castro Nunes disse...

Uma concha?... Sempre é mais que nada. Tomara eu! JCN