quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
Os portugueses
Mudança de penas
- Vai ser o quê?
- O que ainda não foi!
- Ah! Ya, podes crer. Já tenho tudo combinado com o Joca e as amigas, 400 kms por percorrer, vai ser de arromba.
- Eu cá ando nos preparativos há mês e meio, vê tu bem! Estavam vocês descansadinhos a hibernar, estava eu a trabalhar nas connections.
- Boa, então não pode falhar, dá cá mais cinco! < Trrriiiimm > Tou tou? Sim, sim, ok, é na boa, ya, no prob, xauzão.
- Quem era?
- Alteração de planos. Afinal vou com a minha primeira escolha, o Costa. Diz que descobriu um ambiente fantástico com umas vibes espectaculares para a cena ser. Temos de ir agasalhados e levar um bloco de notas. E o teu, onde vai ser?
- Pá, o meu é onde tudo acontece: o espaço sideral. Já estou a ver as neon lights a levarem-nos aos céus com sistema de flutuação incluído, e as fluorescências! Man, digo-te já, hoje é que vai ser! O cabrão do Jorge ainda me ligou à tarde, queria que eu fosse com ele para o far oeste, que vai haver euforia à discrição e o caraças mas eu não papo grupos, pus-me a milhas!
Informamos que, por motivos de ordem climática, a passagem de ano foi adiada para depois de amanhã. Pedimos desculpa pelo incómodo.
- Oh que cacete, pá! Estes gajos realmente têm sempre de lixar a vida a um gajo.
- Foda-se, ó Miguel, mas não podes esperar mais uns dias?
- Népias, se esperar transformo-me em sapo. Além do mais, se o limite é 365 dias por algum motivo é, não?
- Sim, tens razão, esperámos 365 dias por isto, vei ser hoje, tem de ser hoje, vamos a isso.
Entretanto ainda não se sabe se foi, esperemos pelos resultados ou o leitor escolhe: a) Foi, b) Não foi.
a vida é revolução
musil
à revolução!
Feliz Ano Novo a tod@s, inimigos, indiferentes e amigos!
Desejo um Feliz Ano Novo a tod@s - inimigos, indiferentes e amigos - , um Ano, uma Vida, um Mundo e um Universo livres de fronteiras, sejam mentais, emocionais, nacionais, linguísticas, culturais, religiosas, ideológicas, sociais, de sexo ou de espécie! Desejo-me e desejo-vos isso desejando-me e desejando-vos a Realidade, desde sempre livre de si e de todos os demais muros e ilusões que as nossas pobres mentes inventam para se torturarem a si e aos outros.
Sejamos livres, sagazes, amorosos, felizes e contagiantes, como dizia Agostinho da Silva!
E que a Serpente sempre morra e renasça do âmago de nós.tudo.nada!
Saudações fraternas
para começar bem o ano
a filosofia e as suas questões ii
eu vou lá estar, reparem quem também estará...
8/janeiro
dirk hennrich, elementos para uma paisagem europeia (14.30).
excelente ano para os amigos da serpente e que o seu 'veneno' nos transmute.
último de 2009
A alma não se acalma
com morangos hidropónicos
nem com gadgets nipónicos
com fios em vez de veias
a rosácea dum rosto
na antecâmara do ir além
róseos lábios de carne acesa
no sem refúgio da perdição
a alma não tem alma
só a profundeza do coração
só a agudeza da inquietação
nos mastros de ter partido
o vento soprado do longe
a hybris de ter nascido
não tem terra a visão da alvorada
a cintilação do mundo
na retina que cega de rotina e satisfação
é fome e nada mais
não se acalma com a ondulação inconstante
de não ser daqui
é matéria e tudo o mais
a montanha da montanha
o mar do mar
a imensidade da imensidade
a alma da montanha do mar da imensidade
búzio de se descobrir na praia
a escuta que a si própria se alimenta
extravasa o acto de escutar
a cada momento morre no fundo do mar
o que acima da terra se eleva
as asas são feitas de sol e maresia
a alma é volátil
destapada evapora-se pelo gargalo de ser alguém
comam-se os morangos a saber a terra
a vida higienizada é um opiário de aviário
é uma merda de placidez que só consola
os fatos do acordo ortográfico
são para vestir e para analisar
em busca de porquês
destoam sempre com camisas sem gola
embora possam usar-se sem gravata
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
é assim a vida
musil
à saudades,à isabel e aos outros (pois é só nos lembramos da beleza,á luta)
Kundalini: o advento do V Império?
[Joseph] Campbell escreve:
Será isto idiotice, superstição ou ilusão?
O INV(F)ERNO DO MEU DESCONTENTAMENTO
Livro de Horas de "Saudades-do-futuro"- Serpentes de Mar
(Para os da Serpente (e os do Jardim): Livro de Horas de Saudade. Horário e sabor das "poisagens" de alma. Livro das horas de uma entrega às Índias de Alma do Corpo alado dos Poetas não regressados. Poesia e Verdade?:))
"Serpente do Mar"
O Silêncio engole-me os desejos e um deus vivo entra na pele desse extremo arrepio. Corta o silêncio em dois uma fina navalha de bruma!
O que sinto e o que penso: poentes nascidos no avesso do ser. Por regressar!
Quem me dera morrer (me) na inocência azul de uma bola de frescura, na minha testa em febre! A Natureza de uma coroa na cabeça de uma Serpente.
A aura do mar levantou a beleza, a pedir perdão aos céus de dor tão supremamente bela!
Não posso sentir o que penso. Não posso dizer o que sinto. O Silêncio engole-me, como em uroboros(a) serenidade o mar aceita a luz nele entrada.
Uma luz entra nos poros, lisa, luminosa. Ir para onde sopra o vento ou dele desatar o nó que chia no apertar estreito da manhã. Um regresso para passados do futuro.
Escrever é uma paisagem das horas, uma companhia de solidão.
Há litanias na voz. O mar é uma maçã de vento. Não espera o sabor do dia. Há pomos que têm jardins na boca.
Uma baía é um mar fêmea. Atracam nela os barcos como horas de atraso no porto. Deitam-se os sóis, acordam os dias! Não há barcos para a Alegria! Vem ver-me dormir, tristeza! Literatura das horas!
Sem o Real existir não haveria matéria, nem sólida nem rarefeita, para construir castelos que suspendem o próprio ar, sem peso; nem haveria poemas para saudar as coisas que vivem na imaginação do Real.
Crescem nas suas asas: os sonhos! Vejo a aura do sol nas minhas costas!
Há palavras que se comem, outras, desaparecem esbatidas na paisagem, como cinza de neve a derreter no céu-da-boca húmido das palavras mais leves. Com essas e com as outras fazem-se barcas, que são nuvens, desfeitas: sopros de pétalas!
Os barcos estão há tanto tempo parados! As âncoras são poema condenados a navegar: Ulisses de uma Penélope longe dos barcos. As gaivotas atravessam o ar. O instante é perfeito.
Há vento entrado no pescoço do mar. Ainda a beleza da vida brota em luz!
Há um momento em que a vida transborda da taça da palavra. Que seja Azul, lápis-lazúli da alma. Quem tarda?!
A luz, ombro a ombro com o azul, inventa o horizonte. Há barcos desde a véspera. São recortes de não regresso, são poentes olhos na paisagem.
UM ANO CHEIO DE BELEZA, DE BONDADE E DE VERDADE!
FELIZ 2010!
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
"Desejo libidinal", por Isabel Rosete
De um intenso querer.
Inspiro o prazer ansiado
Desejado
Que me des-assossega.
Na minha Alma
Penetra
Vulnerável vidro
Disposto a quebrar-se
Em mil pedaços
Espalhados
Pelo chão
Dispersos
Por todos os lugares
Lançados
Soltos
Sem ordem
Sem ligação
Nem relação possível.
A amargura
Instale-se no meu peito
Por esse outro que não vem.
Está aí
Mas, não aqui!
Paira no meu pensamento
Consome-me visceralmente…
Deixa-me só!
"Eterno retorno do Amor", por Isabel Rosete
Uma força que move e comove
Despista
Rói
Corrói
Destrói...!
Cego e surdo
Táctil e visual
Move-nos
Para a realidade
Do intolerável
Para o possível
Do impossível
Para o imaginável
Do inimaginável
Para o sonho
Do in-sonhável…
Para o infinito
Do próprio finito
Para a alucinação
Da sensatez
Para a irrazoabilidade
Do razoável
Para as correntes tumultuosas
De um mar sem fim…
Para o ilimitado
De todos os limites
Conscientes
Ou inconscientes.
Assim é o Amor
Uma força tremenda
Gigantesca
Arrebatadora
Desmedida
Enorme.
Assim é o Amor
Sempre dentro de um tempo redondo
De um eterno retorno
Do mesmo e do outro
Com princípio e fim.
A Kundalini
O que é o "diá-logo" entre culturas, um dos maiores desafios do tempo presente?
"Entre, por um lado, o consenso mole do diálogo sempre suspeito de ser um alibi ou de esconder mais insidiosamente as relações de forças sob a sua aparente abertura e, por outro, o clash anunciado - constatado - assim como o apelo à defesa identitária do "Ocidente", que outra via que não tombe para nenhum lado: que não seja nem utópica, nem defensiva, nem de compromisso? Ou "diá-logo" não é algo antes a retomar e repensar, mas decidindo desta vez conferir a sua plena exigência a um e a outro dos seus componentes [...]? Fazendo compreender, por um lado, no diá do diá-logo, a distância do afastamento, entre culturas necessariamente plurais, mantendo em tensão o que está separado: um diálogo, ensinaram-nos os Gregos, é mesmo tanto mais rigoroso e fecundo quanto mais atiça teses antagonistas; e, no logos, por outro lado, o facto de que todas as culturas mantêm entre elas uma comunicabilidade de princípio e que tudo, do cultural, é inteligível, sem perda e sem resíduo. [...] [após afirmar que o diálogo é "operatório"] Mas operatório em quê? Não que quiséssemos a todo o preço conciliarmo-nos com o outro, ou que encontrássemos já nele [no diálogo] prescritas regras formais, mas simplesmente porque, para dialogar, cada um deve imperiosamente abrir a sua posição, colocá-la em tensão e instaurá-la num frente a frente. Não pois porque cada um seria movido por uma finalidade de entendimento, ou porque a lógica do diálogo revelaria um universal pré-estabelecido, mas porque todo o diálogo é uma estrutura eficiente - operativa - que obriga de facto a reelaborar as suas próprias concepções, para entrar em comunicação, e portanto também a reflectir-se"
- François Jullien, De l'universel, de l'uniforme, du commun et du dialogue entre les cultures, Paris, Fayard, 2008, pp.247-248.
arevistaentre.blogspot.com
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
é preciso comemorar
cansa-me e enfada-me;
porque invocar a razão
quando servimos a folia?
de resto, todos os estribilhos são bons
quando brincamos com o folgazão:
prova-o epicuro.
não procuremos apolo
quando é baco o nosso escanção;
riamos!bebamos!
e zombemos do resto.
hipócrates a todo o bom bebedor
prometia cem anos.
que importa,afinal, se por desgraça
a perna claudicante
já não pode acompanhar um tendão,
a mão continue lesta!
se sempre bons bebedores,
até aos sessenta brindarmos,
riamos!bebamos!
e zombemos do resto.
se querem saber donde vimos,
a coisa é fácil;
mas, para saber onde vamos,
é preciso ser hábil.
sem nos inquietarmos, enfim,
usemos até ao fim
a bondade celeste!
é certo que morreremos;
mas é verdade que estamos vivos;
riamos! bebamos!
e zombemos do resto.
honoré de balzac
bom ano (desculpem a seca... mas falta-me o vinho.)
Conto de Natal (por causa da quadra)
Era um dia como tantos. Da padaria ao fundo da rua desprendia-se o aroma do pão cozido no secreto da noite, junto ao alcatrão da rua uma leve neblina tornava a vida impensável sem o equilíbrio dos deveres na balança, sempre adulterada, do sacrifício.
O que tinha este dia de diferente em relação a todos os outros era que seria o seu último dia de vida sobre esta terra. Disso João nada podia saber. Acordara como sempre às 5 da manhã sob o influxo do relógio despertador. Um despertar de lata entre as paredes bolorentas do quarto onde o sono o levava a passear para fora do conforto pardacento duma solidão de homem de cinquenta e dois anos, demasiado feito pela vida. A gravata tinha em comum com as calças e a camisa que acabara de vestir esse ar demasiado vincado de roupa tratada na engomadoria, sem rituais de gente que se apruma, só a frieza infalível das máquinas operadas pelas meninas da Rua de S. Brás, recém-caídas no mundo laboral do part-time e do ordenado mínimo. Era uma gravata falsa, com um nó que não se desfazia. Presa por baixo do colarinho azul por um elástico.
O relógio marcava 5 e 45. Faltava pouco para o autocarro parar na paragem do outro lado da rua. À porta da barbearia o relógio a imitar o antigo continuava preso nas 7 e 45. Por essa razão só estava certo dois minutos em cada dia.
João passava grande parte do dia acertado com o relógio da fábrica de rações para animais. A sua função consistia em pesar os camiões que entravam e saíam. Dependia das suas anotações o acerto de contas com os fornecedores. Tonelada a tonelada enchiam os silos o seu bojo. E o ar tinha sempre aquela espessura que lhe era dada pelo pó dos cereais precipitados de grande altura para dentro dos silos. Os bombeiros diziam que havia perigo de explosão, se não fossem tomadas todas as precauções. Davam sempre como exemplo um documentário televisivo que mostrava uma catástrofe provocada pela explosão duns silos de cereais na América. »Eh João! Já viste como ficavas aqui feito em granulado?»
«Vai-te catar, Luís da Maçaneta! Hoje és tu que pagas um copo!» Depois do copo de branco, se fosse ainda antes das 10 da manhã, de Favaios, se estivessem quase na hora de almoço, ou da imperial, se o dia já tivesse entrado na tarde, cada um regressava às respectivas funções. Por vezes João tinha que pousar o copo de sopetão sobre o balcão por causa do ronco esbaforido duma buzina de camião - «Ó camelo, isso não é para partir! Vê lá se tens mais tento nas unhas!»
Depois duns berros trocados com o condutor do camião obrigado a uma espera irritante, a pesagem dava lugar a mais uma ida ao café do Chico, desta vez para suavizar a contrariedade do camionista calhado na rifa da ausência do posto. Coisa para poder dar origem a mais um desagravo, se o dia for de muito serviço.
Ao volante do autocarro vinha quase sempre o Manel Costa, um conterrâneo amigo de infância e companheiro nas sortes, em Lamego. Ficaram ambos incorporados, mas só o Manel foi dar com os costados ao Ultra-mar. João fora enviado para os Açores, onde viveu o melhor período da sua vida. Foi lá que se fez escriturário. E de lá veio, findo o serviço militar, assumir o encargo da pesagem dos camiões naquela fábrica junto ao rio no Poço do Bispo. Picava o ponto, religiosamente, ás 6 e 30. A essa hora já havia uma fila de camiões à espera. Alguns condutores iam estacionar o camião ao princípio da noite junto à porta da fábrica, para poderem despachar-se bem cedo. Assim podiam fazer mais um ou dois fretes, se o dia lhes corresse de feição. A burocracia do porto, muito mais pesada se a mercadoria passasse pela alfândega, equivalia a duas ou três bocas a comer o ganho do dia, tal era a quantia que ficava por apurar devido aos atrasos. Era preciso olear as engrenagens. O dinheiro das 'gratificações' chegava a quase todos, dos encarregados aos estivadores.
João vivia nesse mundo e por vezes era agraciado por causa dos muitos favores que fazia, dado que conhecia muito bem os meandros daquele pântano onde todos podiam viver sem atropelos. Quando havia encrenca, fazia um telefonema ao Fonseca da alfândega, ou mandava um bilhete à menina Noémia da contabilidade para apressar um pagamento. Tudo operações francas, sem mácula. Era assim que se vivia, a amizade era uma troca de pequenos favores, bastava que alguém lhe chegasse em aperto para que a sua generosidade entrasse em acção. Era assim mesmo com os motoristas que ali apareciam pela primeira vez, vindos da província. Alguns perdiam-se nos meandros do trânsito caótico de Lisboa. Chegar ali já era por si só uma odisseia. Alguns quando voltavam traziam um garrafão de azeite ou de bagaço. Vivia tudo como uma família.
Uma vez por mês fazia-se uma patuscada, na primeira 6ª-Feira de cada mês. O Antunes trazia bacalhau do armazém e cada um entrava com o que podia.
Nesse dia o Manel Costa iria participar. Trazia dois garrafões de morangueiro, acabados de chegar da terra. «Ah João, hoje vamos matar saudades lá da Laje Grande! Olha que esta é pomada do Varandas, até parece que estamos a provar as uvas morangueiras da Fonte da Roda. Lembras-te quando o pai dele nos corria aos berros e com ameaças de chumbo no traseiro?» Se lembrava! Bons tempos. Ah Manel, como o tempo se nos some por entre os dedos... Parece mentira... daqui a pouco estamos na outra margem a olhar para a banda de cá...
João, João, deixa-te de lamúrias. Estamos a chegar ao teu destino, pega lá nos garrafões. Depois do turno apareço no café do Chico. O que é que tens, homem?
Era uma tristeza fina, sem razão. Aquela humidade vinda do rio ainda envolta em escuridão ensopava qualquer possibilidade de alegria íntima. João desceu do autocarro, acenou ao solitário condutor que àquela hora da manhã tinha ainda muito poucos clientes. E ficou a ver o autocarro a descer a rua, com um garrafão em cada mão, sentindo o peso daquele vinho impossível de encontrar fora do lagar onde fora pisado, três meses antes. Tinha uma cor clara, a lembrar o petróleo com que se lavavam as engrenagens do portão da fábrica, por causa da ferrugem.
Foi sem espanto que viu o autocarro do Manel a subir a rua a apitar e com os piscas ligados. Lá dentro um polícia estava sobre um vulto deitado nos primeiros bancos da frente, como se lhe estivesse a apertar o peito para que não fugisse, ou para o agarrar a preceito, algum ladrão... àquela hora da manhã era estranho. 6 e 12. Chegara um pouco mais cedo nessa manhã. O Manel vai cá com uma cara... parece que viu a morte. Vai-lhe fazer bem esta pinga! O garrafão assim elevado à altura da sua cara parecia-lhe mais um relicário do que uma simples vasilha. O vinho de tão leve seria mais espiritual do que outra coisa. Isto só nas goelas do prior depois da missa! Isso porque o morangueiro, não subia aos altares, era um vinho que fazia bem a transição do sagrado para o profano. A pontos de poder até embebedar o demo. O leve travo a enxofre que lhe vinha da mecha acesa dentro do barril na preparação para a fermentação final do mosto, parecia um convite a mais sulfurosas práticas. Nada que um homem não pudesse fazer sem se ver a queimar nas chamas definitivas do inferno dos danados. Há sempre tempo para a conversão final, nem que seja no transe da agonia. Tudo fica registado para memória futura, quando os defuntos forem vomitados pelas entranhas da terra ou regurgitados pelos abismos dos mares. Não fica cá ninguém para semente.
Mas que diabo! Em frente aos portões da fábrica não se avistava vivalma. O sol nascia inundando toda a rua duma profusão de tons dourados. Lá ao fundo o rio parecia um cadinho a manar ouro derretido. No muro branco da fábrica que se estende até quase ao fim da rua, os murais revolucionários ganham a pouco e pouco uma paleta de cores exuberantes, com cintilações metálicas. Uns verdes magníficos, uns azuis incandescentes, uns vermelhos acobreados, vivíssimos, como sons de trombeta, profundos, bem entranhados no inusitado daquela manhã sem memória...
Em vez dos sons da cidade a despertar, ouvia-se o emaranhado do vento sobre as ervas duma pradaria sem fim. Ao longe o chilreio dos pássaros tornava-se cada vez mais encorpado, uma tapeçaria de melodias agitadas, emaranhadas, indecifráveis na sua caótica emergência, como se um animal gigantesco se preparasse para levantar voo e cobrir com as suas asas translúcidas toda a extensão do mundo.
Uma torrente de ratos precipitava-se dos orifícios do muro da fábrica. João lembrou-se da desratização, constante devido à presença de cereais, mas intensificada nessa semana. Os danados dos ratos até vencem o mais intenso dos venenos! Mas foi sem o susto habitual que João se deparou com este espectáculo, eram ratos de todos os tamanhos, pareciam alegres e com os olhos muito vivos, a pelagem luzia-lhes como se tivesse sido escovada e tratada à maneira dos cães de companhia. O caudal de roedores encheu a rua em direcção ao rio e ao fundo, contra a luz multicolor dum sol nunca visto,os ratos erguiam-se no ar, pássaros de plumagens incandescentes, e partiam em direcção ao sul subindo cada vez mais alto até se transformarem em nuvens estonteantes dando ao céu uma textura de tela setecentista, trabalhada com a paciência embriagada dum qualquer mestre barroco.
As pedras da calçada aveludavam-se e quase não se sentiam debaixo dos pés.
João reparou num papel com uma cruz negra colocado nas vidraças do café do Chico. Por baixo da cruz, a mesma caligrafia garatujada que anunciava o prato do dia e o preço das bifanas e dos pregos, sentenciava: «hoje não abrimos por ser um dia de grande pesar». Será que o Benfica perdeu outra vez? O Chico era mais que fanático, doente. Grande burro! Será que lhe morreu alguém? Vou-lhe ligar para saber o que se passa.
Alguns metros mais abaixo, a cabine telefónica brilhava como se tivesse sido restaurada durante a noite. Sim senhor. Uma obra digna de quem a fez... a companhia dos telefones está a esmerar-se. Lá dentro o telefone parecia saído dum filme dos anos quarenta. Com as peças metálicas dum dourado cortante, parecia um adereço palaciano, ali, numa das ruas mais humildes da Lisboa operária... Quanto tempo ficará ali a tentar os gandulos? Bem... O que interessa é que pode ter serventia.
As moedas enfileiradas na calha que termina na ranhura que as engole ao ritmo da conversa que se animar a partir do momento em que de lá se atenda a chamada, os números marcados sem que se sentisse a habitual resistência das engrenagens do aparelho, do lado de lá toca a chamar. Mas é um toque estranho, longínquo, abafado pela limpidez da luz que passava pelos vidros límpidos da cabine telefónica. Ninguém respondia. Será que foi ele quem morreu? Mas, como, se as garatujas eram dele? Hum... logo se verá.
Voltou ao café e ao tocar na porta viu que esta se abria. Entrou. Não se sentia o habitual cheiro a fritos. Só um aroma de vinho de primeira, exuberante, a lembrar aquelas tardes em que se festejava o aniversário de algum amigo, a comer bom presunto e a beber o vinho especial que o Chico só servia nessas ocasiões. Poisou os garrafões em cima do balcão. Abriu um e encheu um copo. Era a bebida mais luminosa que tinha presenciado em toda a sua vida. Fechou os olhos e bebeu. Lentamente. Mal se sentia a presença do líquido na boca. Toda a sensação de estar vivo se alargava em redor. Pela primeira vez fazia sentido ter nascido. E para quê? Para ser um pobre diabo... Mas apesar de tudo fazia sentido.
«Oh João!Seu molengão! Quanto tempo é que me fazes estar à espera?» O José Rodrigues? Não tinha morrido já, o José Rodrigues?! «Oh malandro! Não tinhas morrido?». «A ti o que te interessa isso? Mete-te na tua vida e faz o teu trabalho!».
E lá estava o camião, novinho em folha. O mesmo que fora parar ao ferro-velho de Fernão Ferro (ferro com ferro... ironia!). Para quê tanta pressa? E vais descarregar o quê? A guia de transporte estava em branco... Vou descarregar o que eu quiser, agora trabalho por conta própria, sou patrão de mim mesmo...
O José vivia em constantes arrelias com o patrão, um ricaço com um armazém em Campo de Ourique e que para além de negociar em cafés tinha uns camiões que faziam transportes para outras empresas. Era frequente ouvir da boca do Zé o seu mote preferido: 'cada patrão, cada cabrão!' Enfim estava livre. Podia andar com o camião por onde quisesse. «Não queres um copo de morangueiro?»
«Até que não é má ideia». E despacha-te que daqui a pouco passa por aqui o funeral. É triste: um gajo morre e levam-lhe a carcaça a passear logo frente ao seu local de escravidão. Mas tu gostas disto aqui, não é João? Para ti já não há mundo para lá destas paredes, não é?
E não havia. Era a sua vida. Não se imaginava a fazer outra coisa.
O Despertar
"Tu consegues ser cada vez mais bêsta / e a este progresso chamas Civilização!"
[...]
Tu, que te dizes Homem!
Tu, que te alfaiátas em modas
e fazes cartazes dos fatos que vestes
p'ra que se não vejam as nódoas de baixo!
Tu, qu'inventaste as Sciencias e as Philosophias,
as Politicas, as Artes e as Leis,
e outros quebra-cabeças de sala
e outros dramas de grande espectaculo...
Tu, que aperfeiçoas a arte de matar...
Tu que descobriste o cabo da Boa-Esperança
e o Caminho-Maritimo da India
e as duas grandes Americas,
e que levaste a chatice a estas terras,
e que trouxeste de lá mais Chatos pr'aqui
e qu'inda por cima cantaste estes Feitos...
Tu, qu'inventaste a chatice e o balão,
e que farto de te chateares no chão
te foste chatear no ar,
e qu'inda foste inventar submarinos
p'ra te chateares tambem por debaixo d'agua...
Tu, que tens a mania das Invenções e das Descobertas
e que nunca descobriste que eras bruto,
e que nunca inventaste a maneira de o não seres...
Tu consegues ser cada vez mais bêsta
e a este progresso chamas Civilização!
[...]
- José de Almada-Negreiros, poeta sensacionista e Narciso do Egypto, A Scena do Odio,14 de Maio de 1915.
serpenteemplumada.blogspot.com
AVATAR ou da inevitável derrota da Civilização às mãos do Sagrado natural e animal
AVATAR, um filme bastante interessante, para jovens e não só, que mostra que a civilização ocidental continua a fazer a autocrítica e o processo de si mesma, retratando-se como a inevitável perdedora, enquanto dominada pela ignorância, a vontade de poder e a ganância, em confronto com uma cultura ligada ao sagrado, à natureza e aos animais. Um filme susceptível de muitas leituras, que não se reduz aos espectaculares efeitos visuais a 3D.
domingo, 27 de dezembro de 2009
"[...] os portugueses típicos nunca são portugueses"; "Nenhum povo se despersonaliza de modo tão magnificente"
- Fernando Pessoa, in Sensacionismo e outros ismos, edição de Jerónimo Pizarro, Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 2009, pp.218-219.
Palavras a ponderar, depurativas do provincianismo identitário, ainda que não plenamente livres dele...
umoutroportugal.blogspot.com
Sampaio Bruno (1857-1915)
A Saudade é o movimento em que tudo participa para uma reabsorção em Deus. A partir de uma diferenciação inicial, há sempre desejo de regresso. A vontade de viver destina-se ao regresso à consciência pura, à unidade primordial.
Adepto de um vegetarianismo que pudesse até poupar as plantas - alimentação química. Não matar para viver. As alterações psico-fisiológicas trariam um Super-Homem no futuro.
O Homem está no mundo para procurar a evolução de si e de todas as coisas. A alma embora não se possa conhecer plenamente, sempre se pode ir conhecendo mais um pouco.
Crítico de todas as ideias antropocêntricas, não vê a Humanidade como o fim último da criação.
in, Sampaio Bruno, A Ideia de Deus (1902).
cf., Paulo Borges, Filosofia em Portugal (apontamentos).
Esfera Armilar - Da identidade histórico-cultural como limite a superar
A história e a cultura constituem poderosos sistemas de condicionamentos e automatismos mentais, emocionais e práxicos que convidam, por via gregária e irreflectida, a um regime de consciência parcial, incapaz de compreender e aceitar a realidade humana, cósmica e divina na sua totalidade plural e complexa. A fixação de uma dada identidade histórico-cultural é, por isso mesmo, um notável contributo para o estreitamento da consciência e para o sofrimento e conflitos daí resultantes. Por isso mesmo, a cultura mais poderosa é aquela que a si mesma se não vir como um fim em si e antes como um meio para se libertar de si mesma. É esse o projecto da "cultura portuguesa", assumida por Vieira, Pessoa e Agostinho da Silva como trampolim para a universalidade, mediação para além de todas as mediações, sejam elas lusitanas ou lusófonas. O melhor de Portugal e da lusofonia é o que neles se esquece de se rever e assinar no espelho do mundo. O pior de Portugal e da lusofonia é o que no mesmo acto deixa a mácula da assinatura. Medíocre é o que se afirma. Grande o que se esquece. Supremo o que nunca se nomeou.
umoutroportugal.blogspot.com
sábado, 26 de dezembro de 2009
"Da Saudade como Via de Libertação"
Da Arte como libertação dos gregarismos patrióticos e religiosos
- Fernando Pessoa, "Os Fundamentos do Sensacionismo", in Sensacionismo e outros ismos, edição de Jerónimo Pizarro, Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 2009, p.185.
cedo para desejar BOM-ANO?
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
Oração Natalina
Assaltados pelas aflições, descobrimos o Dharma
E encontramos a via da libertação. Forças malignas, obrigado!
Quando as mágoas invadem o espírito, descobrimos o Dharma
E encontramos felicidade duradoura. Mágoas, obrigado!
Pelo mal causado pelos espíritos, descobrimos o Dharma
E encontramos o destemor. Fantasmas e demónios, obrigado!
Pelo ódio das pessoas descobrimos o Dharma
E encontramos benefícios e felicidade. Vós que nos odiais, obrigado!
Pela cruel adversidade, descobrimos o Dharma
E encontramos a via imutável. Adversidade, obrigado!
Por sermos impelidos a tal por outros, descobrimos o Dharma
E encontramos o sentido essencial. Todos vós que nos impelis, obrigado!
Dedicamos o nosso mérito a todos vós, em paga da vossa bondade.
|Longchempa, cit. in Patrul RINPOCHE, O Caminho da Grande Perfeição, trad. de Paulo Borges, Ésquilo, 2007, p. 232.
e no percurso das águas nasciam filhos
que mais tarde lhe vinham acordar ao mar revolto
Ela costurava os seus vestidos
com o fio de uma extensa lágrima
para depois de pronto ver-se no fim de tudo
Ela sabe que o sonho tem horas
que é o tempo fechar os olhos
e acordar primeiro que as galinhas
Mas quando fazia colares de amoras
para que os homens pudessem falar dela
era então que uma estrela lhe nascia
algures entre o sexo e o peito
natal - irmandade
a lápis em caxias
'encontramo-nos
nesta sala
setenta e dois camponeses
do couço
e de montemor.
sempre
sempre nos demos
como irmãos.
vocês devem continuar a fazer o mesmo'
mário castrim
ainda existe esperança
no que alcanço deles
verdes são aqueles
que esperança dão.
se na condição
está serem verdes
porque não me vedes?
camões (tem que em letra pequena, jcn)
bom natal a todos e renovadas esperanças.
Feliz Natal!
se não nasce hoje na minha alma?"
- Angelus Silesius, Peregrino Querubínico
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
BOM NATAL
O regresso em nós de D. Sebastião ou o fim do sebastianismo
D. Sebastião
Sperai! Caí no areal e na hora adversa
Que Deus concede aos seus
Para o intervalo em que esteja a alma imersa
Em sonhos que são Deus.
Que importa o areal, a morte e a desventura
Se com Deus me guardei?
É O que eu me sonhei que eterno dura,
É Esse que regressarei.
O segundo poema que tem como título “D. Sebastião” é o primeiro dos cinco “Símbolos” que abrem a terceira parte, “O Encoberto”, da Mensagem. Nele o poeta volta a dar voz a um rei que – falando sempre como esse ser “que há” e não “que houve”, ou seja, como imortal dotado da “grandeza” de ser livre da “Sorte” - exorta a que esperem pelo seu regresso aqueles que ainda permanecem escravos da comum condição mortal e humana, reproduzindo a sua submissão ao Destino enquanto cadáveres adiados que procriam. D. Sebastião continua a ser aqui, numa coerência rigorosa, a figura de um rei-Outro, de uma consciência desperta que exorta os que esperam o seu regresso ao mundo dos homens a que não esperem que regresse o mesmo que partiu. Efectivamente, tendo-se convertido No que se sonhou, tendo-se tornado Naquele que se desejou, um ser emancipado do Destino, e sendo isso “eterno”, não pode senão ser “Esse” que regressará. Não faz sentido assim que o esperem com uma expectativa adequada ao que foi e já não é nem poderá nunca mais ser, não faz sentido que o esperem com a predominante esperança sebastianista que sobrevive à possibilidade do regresso físico do rei desaparecido em Alcácer-Quibir e se converte num paradigma da mentalidade portuguesa em épocas de crise e profunda insatisfação, fruto da laicização da expectativa messiânica: a expectativa de que surja um mero líder político, redentor da pátria oprimida e decadente, restaurador da ordem ameaçada e condutor da nação em períodos de crise da identidade e sentido da sua vida histórica. O D. Sebastião de Pessoa exorta a que o esperem, mas não como o Mesmo, antes como Outro, não como mortal, antes como imortal.
D. Sebastião exorta ao fim do sebastianismo comum, recordando que o seu fracasso humano, pessoal e histórico não foi senão o reverso do divino dom de uma oportunidade superior a todo o triunfo bélico e a todo o poder e glória temporais. Caindo “no areal e na hora adversa”, segundo a percepção mundana e exterior, D. Sebastião na verdade acedeu ao “intervalo” da imersão da “alma” “em sonhos que são Deus”, concedido pelo divino aos “seus”, ou seja, aos que o buscam acima de tudo, aos seus “amigos”.
O que são este “intervalo”, esta imersão e estes “sonhos que são Deus”? “Intervalo”, do latim intervallum, é o espaço ou distância entre dois pontos ou lugares, que etimologicamente são duas paliçadas ou trincheiras (vallum), também com o sentido de baluartes, defesas, protecções. O “intervalo”, ainda segundo um dos sentidos da palavra latina, sugere-se como o repouso ou descanso da “alma” em algo que não a pré-ocupa com a construção de limites e muros autoprotectores, o repouso ou descanso da “alma” relativamente a toda a pré-ocupação, mental, emocional ou física, com a separação entre uma coisa e outra, a divisão entre si e o outro, a defesa e o ataque, a dualidade, o medo e a (in)segurança. Livre de tudo isso, é no intervalo disso tudo, na “pausa” (outro sentido do intervallum latino) de toda essa agitação, que se pode abrir e absorver plenamente “em sonhos que são Deus”. Ou seja, no contexto da Mensagem, viver a “loucura” daquela ânsia de “grandeza” trans-mundana e transcensão de toda a “Sorte”/condição mortal que se converte nisso e é já isso mesmo a que ardentemente aspira. O desejo veemente dessa “grandeza” insuperável é já a vibrante e imanente epifania do divino. Como escreve Pessoa no poema “D. Fernando. Infante de Portugal”: “E esta febre de Além, que me consome, / E este querer grandeza são seu nome / Dentro em mim a vibrar”. É isso que torna o sujeito “cheio de Deus” e é isso, e apenas isso, que o pode ressuscitar, já em vida, de ser a “besta sadia” e “cadáver adiado que procria”, vergado pelas indomadas “forças cegas” ao triste contentamento com a vida doméstica e vegetativa. É isso, e apenas isso, que o pode ressuscitar do tempo dos quatro impérios e operar a sua superação no Quinto, a “verdade” pela qual “morreu D. Sebastião” (cf. o poema “O Quinto Império”), que evidentemente nada tem a ver com qualquer domínio mundano, temporal e político. Do mesmo modo que em D. Sebastião o ser “que há” transcende o “que houve”, assim também o Quinto Império transcende o plano onde decorrem e se dissipam os quatro, não podendo propriamente dizer-se que venha temporalmente após eles, enquanto símbolo de uma possibilidade que transcende o tempo e o espaço e que é a própria possibilidade do homem ou da consciência se imortalizar.
A alma de D. Sebastião está pois “imersa / Em sonhos que são Deus”. O que é, todavia, “Deus”? A palavra procede da raiz indo-europeia dei, que significa “tudo o que brilha”, donde vem o sânscrito deva (deus), o iraniano daeva (demónio) e o português dia [1]. Deus indica não um ser ou um ente, algo que exista e possa ser objecto, algo que possa ser visto por alguém, mas antes a própria luz invisível que torna todas as coisas visíveis, em termos inteligíveis ou sensíveis, o ilimitado espaço luminoso que é matriz de todas as possibilidades de manifestação e consciência, o nada inerente ao aparecimento de tudo [2](* cf . também o "nada que é de tudo" em Agostinho da Silva). É aí que verdadeiramente cai, imerge e reside o D. Sebastião transfigurado, que realiza a suma potencialidade de todo o homem. É nisso que se guarda, baluarte sem defesas e assim inexpugnável pela derrota no “areal”, “a morte e a desventura”. É Isso, afinal, que se sonhou e tornou, num sonho/desejo/imaginação criadora (ou desveladora) que converte o amante na coisa amada (cf. Luís de Camões), que realiza isso que imagina, em tudo distinto daquele sonho ilusório e irreal que preside à história do mundo e dos homens e à sucessão dos quatro impérios mundanos. “O” que se sonhou, esse “Deus”/matriz intemporal de toda a manifestação, transcende a consciência temporal e a sua ilusão intrínseca, sendo da ordem do eterno. É só “Esse” que D. Sebastião pode regressar, não o rei humano morto ou desaparecido no areal, ou um seu substituto, mitificado pelo sebastianismo e esperado pelos sebastianistas de todos os tempos, mas o sujeito transfigurado em Deus, dei-ficado, ou seja, iluminado. Desperto e livre, em nada se distingue desse espaço primordial, anterior a todas as coisas e de todas envolvente como a matriz que as possibilita, mas que, na experiência mundana e condicionada, apenas se abre nos inter-valos entre uma coisa e outra, entes, pensamentos, palavras e acções.
Cabe a este respeito recordar um fundamental poema inglês de Pessoa, “The King of Gaps”, “O Rei das fendas/brechas,/aberturas/hiatos/lacunas/vazios/intervalos/abismos”, que muito ajuda a compreender o “intervalo” em que está imerso o D. Sebastião pessoano. Este “rei desconhecido”, senhor de um “estranho Reino dos Vazios” com o qual coincide, figura isso que há “entre” uma “coisa” e outra “coisa”, o intervalar e não entificado espaço vazio que se desvela entre as entidades, o fundo informe onde as formas se recortam e definem, bem designado como “entre-seres”. Se num sentido parece assumir a função de um Mesmo indiferenciado, perante o qual tudo o que nele se delimita surge como as múltiplas formas da sua alteridade, ou se noutro sentido podemos pensá-lo como o Outro enquanto transcende e envolve todas as formas do mesmo, num outro sentido podemos reconhecer-lhe uma transcensão mais radical, tanto do mesmo como do outro, tanto do idêntico como do diferente, na medida em que estes se constituam no âmbito de uma relação mútua entre formas e entidades que só se torna possível por haver esse espaço não-entitativo do “estranho Reino dos Vazios” que permite a constituição e o reconhecimento da relação e do relacionado.
Seja como for, é Nisso que imerge D. Sebastião e é Isso/Esse que anuncia regressar. Este segundo poema dedicado a D. Sebastião confirma a transfiguração do herói épico e trágico, malogrado protagonista histórico, num intemporal avatar espiritual, qual Bodhisattva ou Redentor gnóstico que, desperto e iluminado, se dirige aos homens, pela voz de Pessoa, seu poeta-profeta, ensinando-lhes já a necessidade de transformação da sua esperança quanto ao seu futuro regresso para junto deles, que tudo indica nada ter a ver com uma redenção política e temporal, mas antes com o exercício de um magistério espiritual que não visa senão conduzi-los ao mesmo estado livre e desperto, à mesma libertação da “Sorte”, à mesma ressurreição, dei-ficação ou iluminação.
Esta é uma possibilidade de leitura, que não contradiz outra, mais funda e acalentada pelo próprio Pessoa, em que o regresso de D. Sebastião, como é aliás mais adequado a uma potência espiritual, não é tanto exterior quanto interior, podendo dar-se a qualquer momento em todo o homem que evoque em si o mesmo que D. Sebastião evocou. D. Sebastião, ou seja, uma potência espiritual desperta e livre do espaço e do tempo, regressa efectivamente em todo aquele que deseje a mesma libertação da “Sorte” e se afunde no mesmo “intervalo” divino, na mesma luminosa matriz primordial de todas as coisas [3]. Que isto seja susceptível de uma expressão colectiva, adverte-o também Pessoa, ao dizer do “mito sebastianista, com raízes profundas no passado e na alma portuguesa”: “Comecemos por nos embebedar desse sonho, por o integrar em nós, por o incarnar. Feito isso, cada um de nós independentemente e a sós consigo, o sonho se derramará sem esforço em tudo que dissermos ou escrevermos, e a atmosfera estará criada, em que todos os outros, como nós, o respirem. Então se dará na alma da Nação o fenómeno imprevisível de onde nascerão as Novas Descobertas, a Criação do Mundo Novo, o Quinto Império. Terá regressado El-Rei D. Sebastião” [4].
Regressará, em nós, D. Sebastião, mas, fundamental não o esquecer, Outro, jamais o mesmo. O que implica que, em nós, o mesmo morra e deixe aparecer o Outro.
Assim se desencobre o Encoberto. O que reside entre cada coisa, pensamento, palavra e acção
[1] Cf. Odon Vallet, Petit lexique des mots essentiels, Paris, Albin Michel, 2007, pp.63-64.
[2] Cf. Jean-Yves Leloup, “Notre Père”, Paris, Albin Michel, 2007, pp.173-174.
[3] É isso que salientamos neste texto decisivo: “A metempsicose. A alma é imortal e, se desaparece, torna a aparecer onde é evocada através da sua forma. Assim, morto D. Sebastião, o corpo, se conseguirmos evocar qualquer cousa em nós que se assemelha à forma do esforço de D. Sebastião, ipso facto o teremos evocado e a alma dela entrará para a forma que evocámos. Por isso quando houverdes criado uma cousa cuja forma seja idêntica à do pensamento de D. Sebastião, D. Sebastião terá regressado, mas não só regressado modo dizendo, mas na sua realidade e presença concreta, posto que não fisicamente pessoal. Um acontecimento é um homem, ou um espírito sob forma impessoal” – Fernando Pessoa, Sobre Portugal. Introdução ao problema nacional, recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Morão, introdução e organização de Joel Serrão, Lisboa, Ática, 1979, p.196.
[4] Cf. Ibid., p.255.
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
o espelho ( junho 2009), Maribel Sobreira
Poema de Natal
A Plenitude
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
O Partido Pelos Animais deseja-lhe Boas Festas!
Não se esqueça de olhar pelo planeta também durante esta quadra! O PPA partilha consigo algumas ideias para um Natal amigo dos animais e do ambiente:
Luzes
Minimize a utilização de luzes na árvore de Natal e exteriores, substituindo-as sempre que possível por velas. Desligue-as sempre durante o dia e quando a família já não estiver a usufruir do espaço.
Embrulhos
Abra os presentes com cuidado, de modo a poder reutilizar os papéis de embrulho. E nos presentes que oferecer, seja criativo e dispense os papéis de embrulho comerciais! Jornais, revistas, folhetos publicitários, desenhos dos seus filhos ou netos, tecidos velhos - são muitas as possibilidades para um embrulho ecológico e original. Evite utilizar fita nos embrulhos.
Postais
Substitua os postais físicos por postais electrónicos: poupará no papel utilizado para fazer o postal e no combustível necessário ao seu transporte.
Sacos e embalagens
Durante as compras, opte por produtos que não incluam embalagens desnecessárias e recuse o saco plástico nas lojas sempre que não precisar dele.
Árvore de Natal
A maioria das árvores de Natal artificiais é feita em materiais não-biodegradáveis, não-recicláveis e, muitas vezes, tóxicos. Se já tem uma, reutilize-a pelo máximo de tempo possível, mas se tiver que adquirir uma nova, opte por uma árvore natural com raiz, que possa, depois do Natal, ser replantada num local onde tenha espaço para crescer.
Decorações
Evite comprar novas decorações de Natal, sobretudo em plástico. Reutilize e crie os seus próprios enfeites!
Evite o desperdício
O Natal é a época da solidariedade e do amor, mas em muitos casos também do excesso e do desperdício. Escolha uma abordagem diferente. Ofereça prendas feitas por si, por exemplo. Ou aposte no comércio justo, contribuindo assim para uma maior justiça económica e social.
À mesa
Não faça do sofrimento animal um dos ingredientes da sua ceia - faça uma ceia de Natal vegetariana! No blog Receitas Vegetarianas encontrará as versões amigas dos animais dos seus pratos natalícios favoritos!
www.partidopelosanimais.com
ppa-receitas-vegetarianas.blogspot.com
domingo, 20 de dezembro de 2009
"A crítica é menos eficaz que o exemplo"
- Agustina Bessa-Luís, in 'Contemplação Carinhosa da Angústia'.
Reproduzo este sagaz trecho da sagaz Agustina, agradecendo à Sofia que o publicou no Facebook.
Estamos sempre a tempo... de aprender com os animais
O urso só queria mesmo brincar e abraçar... (Tão quentinho!)
O cão só queria mesmo dar beijinhos... (Que bom!)
E nós?...
Quando aprendemos alguma coisa?
FELIZ NATAL A TODOS!
Dê carinho... não custa dinheiro!
(Agradeço à Patrícia Bruno que me enviou as imagens)
MERDA!
Fallencia de tudo por causa de todos!
Fallencia de todos por causa de tudo!
De um modo completo, de um modo total, de um modo integral:
MERDA!
- Álvaro de Campos, Ultimatum
sábado, 19 de dezembro de 2009
solstício de Inverno
A loucura de D. Sebastião
D. Sebastião
Rei de Portugal
Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.
Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura, que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?
O primeiro dos dois poemas que têm como título “D. Sebastião” constitui a quinta quina do “Brasão” português, a primeira parte da Mensagem, que interpreta o simbolismo heráldico das armas nacionais e convida a relacionar esta quinta quina/D.Sebastião com o Quinto Império. O poema dá voz ao rei assumindo a loucura de que foi acusado, mas dando-lhe outra razão que não a da patologia ou insensatez. A sua loucura consistiu em querer “grandeza / Qual a Sorte a não dá”. “Sorte”, sobretudo com maiúscula, parece ter aqui o sentido de Destino, Fado ou Fortuna, e não tanto de acaso. A “Sorte” é a necessidade que rege o universo e à qual nem os deuses escapam (cf. Moira, Ananke, Heimarmene), subordinando todos os entes à impermanência universal e às vicissitudes dos lugares, ora superiores, ora inferiores, que ocupam no mundo, e às experiências, ora felizes, ora infelizes, que nele conhecem.
Esta “Sorte” evoca o tema arcaico, antigo e medieval da Roda da Fortuna ou do samsara, presente no Oriente e no Ocidente. Pessoa refere-se várias vezes, na sua poesia, a este tema, falando por exemplo da “roda universal da Sorte” e relacionando-a, significativamente, com a “ficção”, “sonho” ou ilusão universal que faz ao sujeito supor-se na existência o mortal que afinal não é. A loucura de D. Sebastião consistiu assim, não propriamente na temeridade da aventura africana ou no ideal supostamente anacrónico que a moveu, mas antes no haver desejado, num e para além de um acto heróico dificilmente justificável pela razão humana, uma “grandeza” que não pode ser dada (e retirada) pela Sorte. Que “grandeza” pode ser essa senão a transcensão e libertação da própria “Sorte”, a transcensão e libertação da Roda da Fortuna ou do samsara, a suprema aspiração humana? Ou seja, se recordarmos a interpretação do poema “Quinto Império”, a transcensão e libertação do próprio sonho/ilusão que preside aos “quatro / tempos” do movimento do mundo, imperando sobre a consciência e a vida mediante as “forças cegas” que dominam a “alma” enquanto uma “visão” desperta e livre as não domar. Neste sentido, a “verdade” pela qual “morreu D. Sebastião” é o próprio fim da ilusão que preside ao destino do mundo, o fim do regime de consciência adormecida, onírica e iludida figurado, em termos históricos, pela sucessão dos quatro impérios: Grécia, Roma, Cristandade, Europa. A “verdade” pela qual “morreu D. Sebastião” é o próprio Quinto Império, como figura do Outro desse regime de consciência que há que transcender: não tanto uma nova soberania mundial, assente na parcialidade de uma dada cultura, ordem jurídica, concepção moral e religiosa ou cosmopolitismo comercial, mas antes o Despertar da falsa pretensão à universalidade de todas essas ilusões, o Despertar dessas e de todas as ilusões, o Despertar da ilusão universal que preside à consciência, ao tempo e à história dos homens.
O D. Sebastião histórico é claramente transfigurado num protagonista da loucura, da boa hybris ou desmesura, que deseja a suma e insuperável “grandeza” do Despertar enquanto libertação da falsa realidade de todas as supostas condições da existência no mundo. É a “certeza” dessa possibilidade que natural e necessariamente não cabe em si, pois haver um “si” é ser ou supor-se algo ou alguém no mundo, é estar situado e logo limitado, submetido e determinado na cadeia e teia de causalidade da ordem universal. São essa loucura e essa “certeza” que afinal o fazem sair de si e o ilimitam, levando-o a trespassar e transcender a própria condição humana e mortal, assegurando-lhe a transfiguração que lhe confere um outro modo de ser, actual e imortal, que nada tem a ver com o “ser que houve”, tornado um cadáver jacente no “areal” de Alcácer-Quibir. O D. Sebastião a que Pessoa dá voz já não é a pessoa do rei histórico, desaparecido em Alcácer-Quibir em termos reais e simbólicos, mas antes a consciência desperta e imortal emergente do soçobro daquele ser humano e mortal.
É ela que agora nos fala a partir de um estado transcendente e liberto, exortando-nos a assumirmos a sua “loucura”, “com o que nela ia”, o desejo de transcender a “Sorte”, como o seu mais precioso legado. Somos nós esses “outros” que podemos assumir o exemplo libertador do rei transfigurado assumindo a sua “loucura” transcendente, iluminativa, libertadora. Pois sem isso, recorda, que somos nós, “que é o homem / Mais que a besta sadia, / Cadáver adiado que procria?”. Ou seja, sem a loucura que visa transcender a condição mortal de todo o ente, não só não cumprimos o pleno potencial da nossa própria humanidade, como nem sequer a exercemos, mantendo-nos num patamar de infra-humanidade e numa vida falsa que mais não é senão morte que se adia enquanto, pior ainda, se reproduz noutros cadáveres adiados fabricados pela mentalidade familiar, escolar e socialmente dominante. Como dizem Teixeira de Pascoaes e Agostinho da Silva: “Só há homem quando se faz o impossível”. Ou seja, aqui, a transcensão da própria condição humana.
Ser “besta sadia, / Cadáver adiado que procria”, é afinal, se regressarmos ao poema “O Quinto Império”, permanecer na “apagada e vil tristeza” (Luís de Camões) de uma vida doméstica autosatisfeita, sem “sonho” e voo para mais além, ou na felicidade vegetativa de uma vida já sepulta. Como antídoto disso, a “loucura” de D. Sebastião é o descontentamento que leva o homem a cumprir-se domando as “forças cegas” “pela visão que a alma tem”. Deixar de ser “besta sadia, / Cadáver adiado que procria”, é despertar e libertar-se desse regime de ilusão e autogratificação medíocre que preside à “noite” do mundo e ao seu tempo dos quatro impérios que evanescem julgando-se eternos: “Grécia, Roma, Cristandade, / Europa”. Deixar de ser “besta sadia, / Cadáver adiado que procria”, é “viver a verdade / Que morreu D. Sebastião”, ou seja, cumprir a suma possibilidade da condição humana: a sua própria transcensão, a imortalidade. É esse o sentido mais fundo e amplo do Quinto Império, a soberania do Despertar libertador.
A actual civilização cumpre o seu destino: ser a condição galopante da sua própria impossibilidade
A actual civilização cumpre o seu destino: ser a condição galopante da sua própria impossibilidade. O que é uma excelente notícia, não fora o sofrimento que causa e causará a milhões de seres...
umoutroportugal.blogspot.com
As alterações climáticas, o consumo de carne e a solução vegetariana - Comunicado à Imprensa do Partido Pelos Animais
Unidas sobre as Alterações Climáticas, momento fundamental na definição do rumo do
planeta, que o Partido Pelos Animais naturalmente aplaude, sobretudo pelo envolvimento dos mais importantes líderes políticos mundiais e pela sempre positiva exposição mediática de que o tema está a ser alvo. Contudo, e porque os olhos do Mundo se viram nesta altura para Copenhaga e para a Dinamarca, não podemos deixar de recordar os milhares de baleias e golfinhos massacrados anualmente nas Ilhas Faroé em nome de uma bárbara tradição, repudiando que práticas deste género possam persistir no século XXI perante a conivência da coroa dinamarquesa, que detém soberania sobre o arquipélago.
O Partido Pelos Animais tem acompanhado a Conferência de forma atenta e interessada e
pretende por isso manifestar a sua preocupação perante a atenção quase exclusiva dedicada ao dióxido de carbono, votando à indiferença outros gases com efeito de estufa e, acima de tudo, outras possíveis soluções para as alterações climáticas. Estamos absolutamente de acordo com a noção de que a redução das emissões de dióxido de carbono é uma prioridade a que todos os países devem dedicar atenção e investimento, mas preocupa-nos a irrelevância atribuída a outros gases, nomeadamente ao metano, até por se tratar daquele cujas emissões seria, provavelmente, mais fácil reduzir.
O metano é um gás cujo potencial de aquecimento global é de 25, ou seja, cada partícula de metano contribui para o aquecimento global 25 vezes mais do que uma partícula de dióxido de carbono. Embora as emissões de metano para a atmosfera sejam consideravelmente inferiores às de dióxido de carbono, a sua influência nas alterações climáticas é determinante e está rigorosamente documentada. Além disso, mais de metade das emissões de metano devem-se a actividades humanas,
enquanto para o dióxido de carbono essa proporção é inferior a 5%. Por essa razão, a
redução das emissões de metano teria um impacto muito mais significativo na sua
concentração na atmosfera do que a redução das emissões de dióxido de carbono. Assim,
apontar baterias para a redução das emissões de origem antropogénica de metano é tão ou mais importante para o futuro da Terra do que no caso do dióxido de carbono.
A maior fonte de metano de origem antropogénica é a agropecuária
intensiva, em particular o sistema digestivo dos ruminantes. O consumo massivo de carne por grande parte da população ocidental alimenta hoje uma indústria altamente poluente, que além das emissões´de metano contribui também largamente para a poluição dos lençóis freáticos e é responsável por 91% da desflorestação da Amazónia desde 1970 o que por sua vez favorece também a emissão de dióxido de carbono para a atmosfera.
Pelo exposto, o Partido Pelos Animais, a par de diversas organizações de todo o mundo e de Sir Paul McCartney, que discursou sobre o tema perante o Parlamento Europeu há duas semanas, acompanhado e apoiado pelo Prof. Rajendra Pachauri, presidente do Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas, assume
a sua convicção de que a melhor forma de lutar contra as alterações climáticas é promover activamente a redução do consumo de carne.
Além dos óbvios benefícios para a saúde e em termos de direitos dos animais, é hoje claro que optar por uma dieta sem carne, ou pelo menos diminuir o seu consumo, é uma das decisões individuais com maior e mais positivo impacto ambiental. Por esse motivo, cabe às entidades políticas nacionais e internacionais a divulgação clara desses dados e a sensibilização das populações para essa necessidade. O Partido Pelos Animais considera que esta questão não deveria, de modo algum, estar ausente da agenda da Conferência de Copenhaga, pelo que aqui regista a sua veemente discordância.
De acordo com o seu Manifesto e Declaração de Princípios, o Partido Pelos Animais assume o compromisso de informar os cidadãos e convidá-los à reflexão sobre esta matéria. Nesse âmbito, avançámos recentemente com uma proposta para um Dia Vegetariano por semana, à 3ª feira, confiando na adesão de todos aqueles que partilham das nossas preocupações ecológicas e com o bem-estar dos animais. Insistiremos continuamente na crucial importância deste tema, na expectativa de que não volte a ser excluído do debate político, social e mediático sobre as alterações climáticas e as grandes questões ambientais.
Quartafeira, 16 de Dezembro de 2009
A Comissão Coordenadora do Partido Pelos Animais
Para mais informações contacte:
Paulo Borges
918113021
www.partidopelosanimais.com
geral@partidopelosanimais.com
Fontes:
Intergovernmental Panel for Climate Change, Working Group I (2001). Climate Change 2001:
The Scientific Basis. Contribution of Working Group I to the Third Assessment Report of the
IPCC [versão electrónica]. Cambridge University Press. Cambridge e Nova Iorque. Acedido
em 14 de Dezembro de 2009.
http://www.grida.no/publications/other/ipcc_tar/
Intergovernmental Panel for Climate Change, Working Group I (2007). Climate Change 2007:
The Physical Science Basis. Contribution of Working Group I to the Fourth Assessment Report
of the IPCC [versão electrónica]. Cambridge University Press. Cambridge e Nova Iorque.
Acedido em 14 de Dezembro de 2009.
http://www.ipcc.ch/publications_and_data/publications_ipcc_fourth_assessment_report_wg1_r
eport_the_physical_science_basis.htm
Livestock a major threat to environment (2006, 29 de Novembro). FAO Newsroom. Acedido
em 14 de Dezembro de 2009.
http://www.fao.org/newsroom/en/news/2006/1000448/index.html
Margulis, Sergio (2004). World Bank Working Paper No. 22: Causes of Deforestation of the
Brazilian Amazon [versão electrónica]. The World Bank. Washington, D. C.. Acedido em 14 de
Dezembro de 2009.
http://wwwwds.
worldbank.org/servlet/WDSContentServer/WDSP/IB/2004/02/02/000090341_2004020213
0625/Rendered/PDF/277150PAPER0wbwp0no1022.pdf
Mohr, Noah (2005). A New Global Warming Strategy: How Environmentalists are Overlooking
Vegetarianism as the Most Effective Tool Against Climate Change in Our Lifetimes [versão
electrónica]. EarthSave International. Acedido em 14 de Dezembro de 2009.
http://www.earthsave.org/news/earthsave_global_warming_report.pdf
Steinfeld, H., Gerber, P., Wassenaar, T., Castel, V., Rosales, M. e de Haan, C. (2006).
Livestock's long shadow Environmental
issues and options [versão electrónica]. FAO. Roma.
Acedido em 14 de Dezembro de 2009.
http://www.fao.org/docrep/010/a0701e/a0701e00.htm