Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Um espaço para expressar, conhecer e reflectir as mais altas, fundas e amplas experiências e possibilidades humanas, onde os limites se convertem em limiares. Sofrimento, mal e morte, iniciação, poesia e revolução, sexo, erotismo e amor, transe, êxtase e loucura, espiritualidade, mística e transcendência. Tudo o que altera, transmuta e liberta. Tudo o que desencobre um Esplendor nas cinzas opacas da vida falsa.
"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".
"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"
- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente
Saúde, Irmãos ! É a Hora !
Se estiver interessado em Cursos de Introdução à Meditação Budista e ao Budismo, bem como sobre outros temas, como Religiões Comparadas, Fernando Pessoa, Mestre Eckhart, Saudade, Quinto Império, contacte: 918113021.
13 comentários:
Terá isso a ver com a saudade que sentimos diante de certas paisagens, diante das vastidões do mar, do deserto ou da montanha?
" Essas madrugadas deixaram em mim, para sempre, não sei que fria sensação do mistério e do silêncio e o terror sagrado das paisagens."
Teixeira de Pascoais
Creio que a saudade que sentimos diante da paisagem é a saudade de havermos sido devorados, de a paisagem estar dentro de nós, nós dentro dela ou de nós e ela estarmos dentro de algo sem dentro nem fora.
Talvez seja isso que se sente como mistério e silêncio em terror sagrado.
Para mim, adentrar-me na floresta, olhar, tocar nas árvores,nas pedras, no chão, lembra-me e faz-me sentir a minha finitude: tudo aquilo que é tão velho me sobreviverá.
Também por isso, o campo inspira-me ficar, recolher,pura deter. O mar impele à partida, a desvairadas intentonas.Ambos pincéis na minha pintura/paisagem individual.
O mundo também tem fome
também nos deseja e possui
O combate inútil e vão da história e da civilização para lhe fugir
quanto mais julgamos dominar a natureza mais estamos já a ser devorados por ela
devorados, digeridos e evacuados em nada
Paisagem é, creio, qualquer âmbito sensorial (ainda que onírico) de sentido, carregado de fala silenciosa.
Há paisagens que devoramos com os sentidos, e outras que nos devoram o sentido, ou de sentido.
As primeiras, no devorarmo-las, mais nos devoram, de tão ávidos estarmos delas.
As segundas, apossando-se de nós, mais largueza íntima nos permitem, posta a vastidão e o excesso de "empaísamento" que nos apossa.
Isto constitui, ao que se me afigura, a paisagem enquanto tal: o ver de alguma parte do mundo, "enquadrado" num âmbito com-plexo (ainda que possa ser simples) de "detalhes" que como tal interagem connosco, a que o sentir confere um nexo e carrega de significado.
Não há paisagem independente do ver: é o ver, sentindo (com todos os sentidos), que a faz.
No limite, a natureza é, na verdade, antropófaga.
Comer não é ter fome de ser comido?
A uma certa fome, que a si mesmo se devora em processo uroboros, porventura inútil:
Falar é não ter medo de ser calado?
Pois que pensas e dizes senão Uroboros? Não é esse o símbolo-rosto que escolheste?
Escrever/inscrever é coisa diversa de auto-morder-se!
Tem, precisamente, a parede sem porta que vai do ex-crever, pelo des-crever, ao ins-crever, triádica triunívia!
Ademais, o bisturi que escreve/inscreve fá-lo mutuamente no pulso: ali, onde se irmana o sangue e se cumpre os pactos da liberdade...
... sobremaneira aqueles, da mais iludente roda urobórica, que se rompe ...
(grato pela observação...)
Tudo é voragem que se auto-devora e, simultaneamente, jejum infinito.
Assim, continuaremos ad aeternum passeando estultamente sobre o fio da lâmina, "decepados" pelo todo, em duas metades que são o todo de partes outras...
Mais vale a holónica de Koestler...
É bem mais libertadora e "comprehensive"...
PASCAL QUIGNARD!
Enviar um comentário