"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".
"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"
- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente
Saúde, Irmãos ! É a Hora !
3 comentários:
Ocorre-me aqui aquele poema de António de Navarro, outro poeta tão esquecido injustamente.
Trata-se do poema XXVIII do conjunto titulado "Sortilégio Iluminado", uma das duas partes por se divide o livro "Guitarras em Madeira d'Asa", Editora Pax, Braga, 1974, pág. 59):
(Vai dedicado a José Marinho)
Algo se fez visão e sonho
Onde se encontre e seja...
Se bebemos d'uma água oculta
Logo nos desprendemos.
Sabe-se que há um crepúsculo
Passeando pelo sinuoso
Vértice inumerável e múltiplo.
Espera-se o músculo
Dos relâmpagos para o destino das coisas
E da sua cinza
Consagrante do silêncio imenso
Que se desvenda e infinda.
(Quem se sonha e realiza
Salvou-se ao menos n'essa aventura!)
Linguagem deveras sem tempo...
Recito para mim mesmo e re-cito-vos:
(Quem se sonha e realiza
Salvou-se ao menos n'essa aventura!)
Grato, Maísha, pela "talhadinha" de Bernardo Soares, ao pequeno almoço, e também pela foto, o seu quê onírica, de Carlos Rema.
outros há que o seu único sonho é poderem vir um dia a ter sonhos.
obrigado, Maisha
Esses são talvez os do "Portugal dos Pequeninos", caro Platero.
Não confundamos aquilo de que Bernardo Soares aqui fala:
ele fala do fracasso do sonho, não do sonho em si mesmo;
fala do viver sem um único sonho, e ainda assim fracassar.
Não estamos a falar também, embora sempre eles estejam presentes (mais do que todos nós, porventura - no seu silêncio de inocentes), de todos aqueles que nem sequer uma realidade têm, quanto mais sonhos para, a partir dela, os poderem ter.
Esses são, muito provavelmente, os nossos verdadeiros "juízes" de consciência e não só.
(Mas entendi bem, meu amigo, aquilo que queria dizer.)
"Sonhar é preciso!"
Enviar um comentário