O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Água do Mar

O tempo cura tudo, dizia a minha avó. A água do mar cura as feridas. Tantas pessoas a quererem que o tempo não passe tão depressa e eu à espera que ele passe o mais rapidamente possível. Passa Tempo, passa. A água do mar cura as feridas, o tempo cura tudo, só a água do mar cura tudo. Quero afogar-me devagarinho neste mar, deixar-me cair suavemente até à areia do fundo, macia, perder-me entre os corais e os peixes multicoloridos, talvez ser devorada por um tubarão ou salva por um golfinho, mas nunca cedo demais. Quero mergulhar no azul, verde e prata do esquecimento. Quero que o fogo se apague na água salgada, que o sol se filtre em luz branca no macio do ventre do planeta. Quero perder a memória, que o coração se plante no fundo e crie raízes e que as correntes abanem suavemente as veias e artérias desfeitas e as abracem. Quero que a mente se recrie ostra e os cabelos, algas, verde-escuras. Quero que as mãos se transfigurem em pequenos cavalos marinhos e as pernas em barcos afundados por piratas. Quero que a boca se esqueça das palavras e solte os beijos todos na espuma do mar. Quero que os ouvidos ensurdeçam para tudo o que não seja o cantar das baleias. Quero que as asas se soltem nos albatrozes e nos papagaios do mar. Quero que os braços se agigantem em tímidos marmotos que brincam. E no final, quero descer ainda mais, muito mais, ao coração da Terra, curada pela água e regressar núcleo vivo, equilíbrio, plenitude e brilhar na aurora boreal.

7 comentários:

Semente disse...

É verdade!
Cura mesmo TUDO!

posso mesmo garantir. E não é por ser Serreia*
ANtes, é por isso que me transformei em Sereia*. Porque a água do mar me curou muitas vezes. Muitas MESMO!

Beijinhos para a Madalena*

Anónimo disse...

a àgua do mar até cura a vida

Anónimo disse...

Isso mesmo, grande baal! A água do mar cura a grande doença a que deu origem.

Paulo Borges disse...

Muito bonito! Plena imersão na Matriz. Desejo consciente ou inconsciente de regeneração no Caos originário?

Laura disse...

Este blog é um mundo estranho... mas mesmo assim gosto de aqui estar. Beijinhos para a Sereia. baal e mata-esfola, gosto do vosso sentido de humor. Paulo, nunca medito sobre o que escrevo, não faço a menor ideia.

Anónimo disse...

Mas eu não quis ter humor! Falava e falo mesmo a sério!

Anónimo disse...

É um mundo estranho mas que se entranho!