terça-feira, 20 de janeiro de 2009
Água do Mar
O tempo cura tudo, dizia a minha avó. A água do mar cura as feridas. Tantas pessoas a quererem que o tempo não passe tão depressa e eu à espera que ele passe o mais rapidamente possível. Passa Tempo, passa. A água do mar cura as feridas, o tempo cura tudo, só a água do mar cura tudo. Quero afogar-me devagarinho neste mar, deixar-me cair suavemente até à areia do fundo, macia, perder-me entre os corais e os peixes multicoloridos, talvez ser devorada por um tubarão ou salva por um golfinho, mas nunca cedo demais. Quero mergulhar no azul, verde e prata do esquecimento. Quero que o fogo se apague na água salgada, que o sol se filtre em luz branca no macio do ventre do planeta. Quero perder a memória, que o coração se plante no fundo e crie raízes e que as correntes abanem suavemente as veias e artérias desfeitas e as abracem. Quero que a mente se recrie ostra e os cabelos, algas, verde-escuras. Quero que as mãos se transfigurem em pequenos cavalos marinhos e as pernas em barcos afundados por piratas. Quero que a boca se esqueça das palavras e solte os beijos todos na espuma do mar. Quero que os ouvidos ensurdeçam para tudo o que não seja o cantar das baleias. Quero que as asas se soltem nos albatrozes e nos papagaios do mar. Quero que os braços se agigantem em tímidos marmotos que brincam. E no final, quero descer ainda mais, muito mais, ao coração da Terra, curada pela água e regressar núcleo vivo, equilíbrio, plenitude e brilhar na aurora boreal.
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7 comentários:
É verdade!
Cura mesmo TUDO!
posso mesmo garantir. E não é por ser Serreia*
ANtes, é por isso que me transformei em Sereia*. Porque a água do mar me curou muitas vezes. Muitas MESMO!
Beijinhos para a Madalena*
a àgua do mar até cura a vida
Isso mesmo, grande baal! A água do mar cura a grande doença a que deu origem.
Muito bonito! Plena imersão na Matriz. Desejo consciente ou inconsciente de regeneração no Caos originário?
Este blog é um mundo estranho... mas mesmo assim gosto de aqui estar. Beijinhos para a Sereia. baal e mata-esfola, gosto do vosso sentido de humor. Paulo, nunca medito sobre o que escrevo, não faço a menor ideia.
Mas eu não quis ter humor! Falava e falo mesmo a sério!
É um mundo estranho mas que se entranho!
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