O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

"Ela está condenada! Está salva!"

À Ana Moreira, que comemorando o seu aniversário ontem tão generosamente nos prendou com o magnífico "Faust", de Charles Gounod, no São Carlos.
Esta litografia de Wilhelm Hensel (1794-1861) ilustra o "Sie ist gerichtet! Ist gerettet!" ("Ela está condenada! Está salva!"), o instante sublime em que Margarida recusa a possibilidade de libertação que Mefistófeles e Fausto lhe oferecem e se entrega, como vítima sacrificial, ao cadafalso, assimilando-se assim ao Cristo cuja ressurreição imediatamente após se proclama.
Possamos nós assim nos oferecer, transmutando no coração toda a dor e treva em luz, pelo bem de todos os seres!
Gratos, Ana!

13 comentários:

Anónimo disse...

Transmutar toda a a dor e treva em luz, pelo bem de todos os seres!? Quem é que quer fazer isso? O pessoal hoje só quer é curtir, material ou espiritualmente! Quem é que é capaz do amor e da intensidade espiritual de se oferecer à dor e à morte pela redenção do mundo? Quem é que é capaz de imitar Cristo?

Os poetas, os artistas, os filósofos, a espiritualidade narcísica e soft-core da New Age, a astenia, melancolia e falta de tomates que invade o mundo?

Deixem-me rir...

Luiz Pires dos Reys disse...

Realmente, meu caro Gabriel Moreira, os tomates estão muito caros, nos dias que correm.
Culpa, bem me parece, de quem também os não tem, que nos (des)governa.

Que sugere?
Tomates a Primeiro-Ministro?
Tomatada geral?
Eleições para Assembleia dos tomates de Bruxelas?

E, ouça lá?
O Alberto João também não tem?
Coitado do senhor! Mas, olhe que engana bem!
Isto há surpresas, hein ...!

Bem, eu poderia aqui ir buscar umas citações "giras" de Rabelais, por exemplo, para debatermos esta "temática" tão "central" no ser humano, sobretudo nos meninos: a dos entremeios.

Mas,meu caro Gabriel, esclareça-me?

E se, um dia, viermos a ter uma Primeira-Ministra (Ferreira Leite, à parte, claro, porque é Leite, e não dá com tomate: azeda a coisa), que faremos então se viermos a ter uma "Menina" a governar a meninada toda?
Como fica isso de tomates?
Faz um implante?
Estou apreensivo, sabe?

Presumo que o meu amigo não seja nada dessas coisas perfeitamente inúteis tipo "poetas, artistas, filósofos" (uma corja de inúteis!) que não servem nada, e muito menos para dar governo ao mundo que temos sem tomates, perdão , sem governo.

O que poderá ajudar-nos então?

Estou farto de coçar os ... (não não, não é isso...) cabelos, e nada: não me surge nenhumínima ideia que seja.

Sabe que eu quando li o seu nome até me assustei.
Li Gabriel Marcel, e fiquei a modos que entre o confuso e o perplexo: imaginei que estivéssemos já no juízo final. Mas uff... . não!
Assim , ainda temos tempo para isto dos ditos... os tais... os "coisos"...

Fico à espera da sua sugestão.
Que sugere para tal "carestia tomatal"?

Abraço, deixando-o rir, claro...
(Eu também estou!)

Luiz Pires dos Reys disse...

Peço evidentemente perdão a Paulo Borges e a Ana Moreira, por baixar o nível do excelente post (tanto mais metendo Gounod e seu belo Faust, pelo meio), mas apenas procurei dar o meu modesto contributo para esta nova versão do Encoberto: a dos ... encobertos.

Mas, a bem dizer, isso era óbvio.
Se está encoberto, ainda que o Encoberto seja cada um de nós, está tudo encoberto, até os...

Abraço amigo a ambos.



P.S.

Paulo, surgiu-me agora ("Não sei porquê"!).
Podia pensar-se na organização duma "Tomatada Lusófona", como há as há, penso, em Espanha...
Que acha?
De outro jaez, claro!
À portu'guisa!
(com armadura sebástica e demais apetrechos...)

Anónimo disse...

A irrisão do Lapdrey é uma fuga a questões bem sérias... Este não é daquele humor que liberta. Neste caso destoa.

Anónimo disse...

É verdade que há uma grande fraqueza espiritual... É o destimo das civilizações, que declinam na mera busca de distracções e bem-estar, físico ou psíquico.

Anónimo disse...

Meu caro Gabriel, responda-me só a uma pergunta e seja sincero:você acha-se capaz desse amor e dessa intensidade espiritual?

Ria-se à vontade, a comédia é uma forma de expiação, e parece-me que você precisa mais de se entregar ao riso do que à dor. Se acha que não faz parte desse "pessoal que só quer curtir» e se se acha capaz de imitar Cristo, então faça-me o favor de ter os tomates para aprender a amar: NÃO JULGUE! Pelo bem de todos os seres e pela redenção do mundo ponha-se mas é a transmutar essa treva medonha que está a obscurecer o seu coração. Se você está realmente dispoto a oferecer-se à dor e à morte, marque um encontro pessoal, e a sós, com esse seu ego narcísico, e talvez aí o Amor de Cristo lhe revele o que você ainda não compreendeu.

Meu amigo, não precisa de pedir que o deixem rir, ninquém lho pode impedir. Ria-se, que é também uma forma de sofrer, e contribua assim para a redenção do mundo. Só lhe pedia é que não ofendesse a mensagem de Cristo com o tipo de comentários que acabou de fazer. Acho que seria um bom começo...

Luiz Pires dos Reys disse...

Caro Anónimo X.,

Onde está a fuga a questões? Questões sérias? Quais são elas?
Apenas vi generalidades em forma de crítica bota-abaixo.
Lindo, de sério!

O humor não é para libertar, é para humidificar, como a própria palavra o diz. É uma espécie de primo da América da palavra humilde, que também é aquosa.

Quanto a destoar.
Embora tenha ouvidinho afinado, há coisas em que não procuro lá muiro fazer coro.
Isso é que destoava, de mim para comigo.

Joana,

A fraqueza espiritual, tal como qualquer outra, não é de pôr em causa: ela é simplesmente um facto.

O que pode e deve ser posto sempre em questão é a hipocrisia dos "espirituais" de domingo de manhã, com mãozinhas postas à saída da missinha, e que à entrada nem se dignam sequer a olhar para a consciência, ao verem um pedinte ou um próximo necessitado (Isso é com o governo, dizem! Pois! Deus, qualquer dia, é também com o governo!).

Mas, é claro, cada um faz a figura, figurinha ou figuraça que bem quer, e não se é obrigado, por enquanto, a ser bonzinho. "Mauzinho" é que , por vezes, certas necessidades levam a certas maldades.
A balança de pagamentos destas atrocidades farisaicas tem muito que contar.


Quanto ao destino das civilizações, que declinam.
Tal como em Sodoma e Gomorra: "eles comiam, bebiam e dam-se aos prazeres...". Até que algo com que (pobres) não contavam, se deu.

Aliás, seja isto ou não verdade, o que não está aqui em causa. Pode ser considerado mero exercício de retórica: "Nem um só justo restava em Sodoma e Gomorra". Restasse, e o "castigo" não teria vindo.

Isto pode ler-se a vários níveis e de vários pontos de vista, um dos quais é considerar que uma só pessoa pode mudar o destino de muitas: coisas como "efeito borboleta" ou "teoria do caos" mostram como uma simples distorção determinado padrão pode inflectir uma "tendência". Tão "simples" como isso.

Faça pois cada um o seu "trabalho de casa", e a coisa pode ir mudando quanto a "astenia, melancolia e falta de tomates que invade o mundo"...

Anónimo disse...

Gabrielinho, Gabrielinho, cá estás tu outra vez com esse teu egozinho...

Acorda, rapaz, que já tens idade para ter juízo!

Deixa-te dessas infantilidades e mostra que és um homem com tomates!

Anónimo disse...

Se o Gabriel é crítico, judicativo e moralista, os outros ainda são bem piores, não tendo a humildade de reconhecer que, através do ego do Gabriel, alguma mensagem sem ego pode estar a passar...

É triste.

Laura disse...

Gabriel, por mim, acredito no amor como força suprema e não tenho vontade nenhuma de curtir, enquanto houver alguém a sofrer no mundo. Escolheu o nome de um arcanjo, que significa força. Deve e pode questionar. Quem, realmente, é capaz de imitar Cristo? Penso que cada um de nós e foi essa a mensagem essencial de Cristo.

Anónimo disse...

Querido anónimo, o Gabriel tem tanto ou mais ego do que qualquer um dos outros. Mensagem sem ego? Uma vez que te consideras mais humilde do que os outros, explica-nos então onde está essa mensagem sem ego.
Triste triste, é um ego convencido de que não tem ego, mais toda a sua hipocrisia.
Mas julgo que o Gabriel, se quiser, pode muito bem defender-se e explicar melhor a sua mensagem.

Eu, pessoalmente, estou óptima e farto-me de rir com esses egos que estão tão empolgados com a sua importância de não terem ego, que não sabem falar de outra coisa, e adoram julgar os que não são como eles.

Anónimo, muito sinceramente, um ser humano que verdadeiramente não tenha ego não teria o mais pequeno interesse em participar neste blogue: deixaria a sua opinião sincera, para depois fugir daqui a sete pés...

Anónimo disse...

Que estupidez, avaliar se os outros têm ou não ego! O que está em causa é se faz sentido o que as pessoas, com ego ou sem ego, aqui escrevem!... E eu acho que o que o Gabriel escreveu faz todo o sentido!

Ana Moreira disse...

Paulo,
O privilégio foi meu. Partilhar aquele instante convosco, meus queridos amigos, foi precioso.
Que a noite nos seja sempre clara!

Caro Gabriel,
Quando se fala de luz, fala-se sobretudo de claridade, a claridade que dissipa a ignorância dualista. Falamos de sabedoria, da sua qualidade irradiante que rasga os véus que encobrem a visão abrangente e total. Ninguém aprecia mais a noite, ninguém defende mais a visão profunda, mais funda que os olhos, que vê até no mais escuro breu, que esta humilde serva. Amar tudo indiscriminadamente, sem forma nem credo, como a heroína de Gounod, Marguerite, Margarida.
Ela, que podia ser ele, um ser humano qualquer, a aprender quão difícil é agir e não agir. Ela que vos interroga através da minha mão a tactear letras no teclado do computador, a compor frases interrogações:
Quantas vezes a acção é mais semelhante a uma pulsão?
Quão difícil é ter poder de escolha?
Quantas vezes somos enredados pelo momento?
Quantas vezes somos pescados e não pescadores?
Quantas vezes o amor que sentimos desencadeia o ódio, a incompreensão e a dor nos que nos rodeiam?
E no final será que alguma vez compreenderemos, como ela compreende, à custa dos nossos erros, a responsabilidade do acto individual, como um simples acto pode desencadear um turbilhão de acontecimentos dolorosos. Será que alguma vez nos entregaremos a um amor maior, mais sábio e equânime,
de peito rasgado, aberto e amplo porque a coragem acende-se-nos no peito, e a culpa e a dúvida se apagam.

P.S. A Margarida não sofre do complexo de castração, não tem inveja do pénis. Se me permite; a Margarida tem é uma grande peitaça.