O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Carta de um velho quando jovem

Depois do que te disse
descansei

escrevo-te sem endereço
no reverso do que fiz

não escolho as ruas onde moras

paro no verso
nunca atravesso

fecho-me na caixa do correio
à espera que me escrevas

melhor é acampar
no dedo direito deste magro braço d'água
cingido à complicação elementar
de estar vivo.


Boaventura de Sousa
Madison e Outros Lugares
Edições Afrontamento
1989

1 comentário:

Luiz Pires dos Reys disse...

Gosto disto ("escrevo-te sem endereço no reverso do que fiz"), que é algo interessante na maneira um pouco "semicúbica" de dizer arrependimento, mas confesso que não aprecio tanto, Liliana, a tónica geral,algo in-decisa, do poema.

Ainda assim, obrigado sempre, Liliana, por trazer aqui poesia. Mande sempre.


(Este Boaventura de Sousa, é o B. de Sousa Santos?)