O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 13 de janeiro de 2009

a última vez/valter hugo mãe

organizei uma festa para a qual
convidei apenas os meus
amigos suicidas. fazemos tudo como
se fosse a última vez

queres vir ao meu inferno

gostava de te mostrar as pequenas
cabeças falantes guardadas nos lugares mais
escuros da minha casa. gostava que
ouvisses o que dizem

os mortos, encostados às paredes e com
problemas de equilíbrio, disciplinam-se
lentamente. vês a minha casa

vou buscar o meu coração. guardei-o aqui
algures e, por ti, tenho a certeza, vale a
pena voltar a encontrá-lo e correr todos os
riscos de novo

cuidado com o cão, não morde, mas é
pesado e pode tirar-te o fôlego com as
patas no peito e depois vou querer
beijar-te

achas que podes não morrer antes

há champanhe e bolo de chocolate


Valter Hugo Mãe

folclore íntimo
Cosmorama Edições

2 comentários:

Anónimo disse...

Cheguei a este poeta pelas mãos de um aluno que é hoje também poeta, ou já o seria e nessa altura pouco o pressentia. É um poeta que vale muito a pena ler. Penso que ainda ninguém aqui o tinha trazido. Obrigada por aqui o ter deixado.

Um sorriso

Marta Rema disse...

sublinho as suas palavras Isabel! este poema é brutal