O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Tentação das Almas Condenadas


Senhor, se o cálice é para mim, se é para ser bebido, que o tornes amargo e insuportável aos sentidos, assim me lembrarás o que sou. Torna-o, pois, Senhor, de vagaroso beber, para que não precises de recordar-me tantas vezes o quão imperfeito sou. Se o cálice é para ser por mim bebido, deixa-me deitar-lhe fogo, assim me lembrarei de mais alguns males que tenha provocado. Se o Cálice, Senhor, está vazio (o que duvido), deixa-me enchê-lo de beijos, assim verás como o engano é doce, e a Serpente astuta. Se não é para ser bebido o que o cálice contém, para que me enganas com o oferecer-mo?



Se o Cálice é Silêncio, oculto até no seu revelar, porque o procuramos sem cessar, para o fazer calar...Aqui é Silêncio porque simplesmente não sei a resposta. Nem a poderia saber, sob o risco do cálice não ser o Cálice.

4 comentários:

Marta Rema disse...

lindo. lindo lindo...

Anónimo disse...

maisha,

Não a conheço bem, ainda não tive tempo, pois poucos foram os comentários que aqui tem deixado, mas agradeço as suas palavras. Posso dizer-lhe com toda a sinceridade, que também acho lindo!
E se assim for para as duas (mesmo que só para uma fosse, já será lindo isso que é para ambas lindo.


Um abraço, maisha

Luiz Pires dos Reys disse...

No Silêncio do Sem Nome - que diz palavras indizíveis a quem saiba silenciar(-se) - abre-se a corola do Cálix da Rosa que cruza, ao fogo de Excalibur, o coração do guerreiro que na luz a treva poete, exangue de amor ao Amor, esse mesmo de que, falando e escrevendo-se, Luiz Vaz foi eterno cantor, morrendo de seu mesmo nascer...

Anónimo disse...

Eu procuro o cálice. Preciso dele para me ocultar. Para nele arder, para nele me fulminar. Mas outras vezes penso, não é o mundo o cálice? E o cálice é a pira transfigurada?

Ai como o procuro! Confessar isto demora...