O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

"Noigandres", Arnaut Daniel (1180-1210)




"Vejo vermelhos, verdes, blaus, brancos, cobaltos
Vergéis, plainos, planaltos, montes, vales;
A voz dos passarinhos voa e soa
Em doces notas, manhã, tarde, noite.
Então todo o meu ser quer que eu colora o canto
De uma flor cujo fruto é só de amor,
O grão só de alegria e o olor de noigandres*."

"Noigandres", de Arnaut Daniel
(citado em Ezra Pound, "ABC da Leitura",Editora Cultrix, São Paulo, 1977, pág.185)


*Nota dos tradutores:
"noigandres, enoi gandres" - expressão provençal, de sentido incerto. Num dos seus Cantos - o XX - Ezra Pound narra este diálogo que teve com o notável provençalista alemão Emil Lévy a respeito da enigmática palavra:

"...Sim, Doutor, o que querem dizer com noigandres?"
E ele disse: "Noigandres! NOIgandres!
Faz seis meses já
Toda a noite, qvando fou dormir, digo para mim mesmo:
Noigandres, eh, noigandres,
Mas que DIABO querr dizer isto!"

4 comentários:

Paulo Borges disse...

Belíssimo, Lapdrey! Provençalizemo-nos mais, primaveremos a invernia!

Luiz Pires dos Reys disse...

Por lapso, não mencionei que a tradução do poema (refiro-me ao "Noigandres", e não ao Pound, em nota) é digna de registo.
É da responsabilidade do poeta Augusto de Campos que, como é sabido,
em 1952, com o seu irmão Haroldo de Campos e Décio Pignatari, lançou a revista "Noigandres" e o grupo literário com o mesmo nome, que lançou a poesia concreta no Brasil.

Anónimo disse...

Não Ouço Impalas Galopantes A Não Desfalecer Roxas E Sábias

Guilherme Paoliello disse...

Escrevi alguns comentários sobre o poema Noigandres em meu blogue.
http://gpaoliello.blogspot.com
caso algém se interesse.