O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Convocação à dança de ser






Da voz que, de lés a lés de todos os universos, a todos convoca à dança do Um com um, do Todo com o todos, do ninguém de todos com o tudo de ninguém.

Seres magoadamente solitários seremos tanto mais quanto menos queiramos ser dádiva, dom, entrega, comunhão do que se não divide, do que não tem partilha, do que é tudo para nós em todos, em ninguém.

Nenhum de ninguém – eis o lugar em que somos quando, num "instantâneo" clarão, que em nós "rasgue" o que em nós é túnica sempre inconsútil de ser, e então tudo em nós for beijo que não escolhe a quem, abraço que já abraçado está, alegria que não tem como não ser, amor que, contradição e paradoxo de si, será uroboros de nós no que de nós jamais partira.

De Yulunga, dança que sagra cosmos na não-diferença entre micro e macro aspectos, atravessando todos os universos sem dimensão, nos encontramos sempre, sempre que a pulsão imóvel do ser em nós seja o Saltarello extático em que nos dançamos uns nos outros, na sagaz folia de estarmos vivos e de sermos infantes coroados, por tudo, em todos: divinos e sumamente belos.

A todos vós indistintamente, e a cada um muito em particular, o meu abraço, no abraço a Paulo Borges, convocador desta nossa dança.

Bem hajam! E...“hajam-se”!

6 comentários:

Anónimo disse...

Danço!

E voo num sorriso para além de mim.

Anónimo disse...

Amigo Lapdrey,

É profumdo, alto, sublime, nobre, humide, belo, verdadeiro e elevado esse canto. Nobre louvor à vida e à dança de ser. Amei.

Um bom ano para si.

Paulo Borges disse...

Confesso que foi a dança que me trouxe algumas das experiências mais fundas do sem fundo, para sempre inscritas na memória do indizível... Nela, a verdadeira convocadora, te e a todos abraço, Lapdrey.

Luiz Pires dos Reys disse...

Isabel,
Talvez ser seja mesmo esse sorriso que dança: no além de si...
Beijo que sorri...

Saudades,
Ser dançante, vivendo em louvor: talvez assim seja o amar ser...
Abraço que dança.

Paulo,
Do mais fundo do que de mais profundo em nós haja, creio que entre a vastidão do convocar e a intimidade do comungar, se nos abre o que em nós, dançando, é eterno ser extáctico...
Abraço "extremi-dado"...
Saúde!

Anónimo disse...

Dançar é então danser?

Luiz Pires dos Reys disse...

Concordo consigo, caro Anónimo.
Dan-ser, sim: desde que o chão que tal extática movência de ser pise seja o não-ser, que" aí" é dançado pelo nada de tudo.
Abraço.