O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


domingo, 4 de janeiro de 2009

para quem goste da simplicidade

Sou rural - devo dizer que começo invariavelmente os dias
ateando um lume de lenha numa chaminé que podia ser uma cidade

cheguei a casa
tomei um banho
não muito grande
-do meu tamanho

do meu tamanho
do meu feitio
cheguei a casa
tomei um banho
não muito quente
não muito frio

um quente abraço a todos

14 comentários:

Anónimo disse...

Platero, é por isso que esu gosto muito de ti. Completo como um fruto. Querias! (não que eu te comesse é evidente), mas que às vezes, quando conversava mais contigo. Agora, se sair mais talvez te veja, e dos teus olhos saiam logo essas estrelinhas que estão lá sempre a brilhar, e parecm que choram de riso. Já tinha dito isto antes, não tinha?

Um abraço, meu amigo, da Maria.

Anónimo disse...

E dei muitos errinhos e omissõeszinhas. Fica assim.

platero disse...

MARIA - perdôe-se-me o nó-cego na ética bloguista, mas só pode ser assim.
Leio as tuas guerras filosóficas sobretudo com Landrev, admiro de vocês todos uma fina cultura afiadora de talentos, invejo a memória selectiva do Paulo Borges, de há "séculos" me delicio, mesmo com o que não entendo, do quase conterrâneo António Telmo - mas não te esqueço em casa, na Cozinha, escamando um peixe vermelhusco, tomando um tinto, e conhecimento pela rádio,da morte de um dos 3 Pablos mundiais -Cazalls (?) desaparecidos nesse ano.
e lembro-me tb de escrevermos ambos no nosso RODAPÉ, eu sobre as máquinas que represavam água para o gado, todos tinhamos o sonho lindo da Reforma Agrária, não menos enternecedor do que o próprio projecto da lusofonia, e lembro-me, Maria, eu, que não havia merda que me fizesse chorar, numa dessas noites de fumo de tabaco no nosso Portugal, sentir as lágrimas escorrerem ao saber que a Maria dos poemas eras tu.
Olha, puxaste-me pela língua...

Anónimo disse...

Platerito,

E foi a morte do Sartre, década de 80. E foi a leitura de Maria Lisboa. "A fita desfiada e amarela que trazes ao pescoço...
"Sarte morre, exactamente aqui... tinha a hora, o dia e a data (a seguir)... onde é que estão Platerito, essas datas todas e todos esses sonhos de acção e revolução. Homens inteiros e outros mitos crísticos...E o Jazz a desfiar memórias... e os franceses todos: Ferré,e Prévert e Paul Élouard... e Rimbaud e todos os barcos bêbados, e todos os excessos... Les Fleurs du Mal,Baudelaire e... a casa sempre cheia de "bandidos" com barba e revolução até à cintura... e os teus olhos, meu bom Platero, a rir e a chorar por una pobrecita de una poesia de tu irmanita... Sophia, dizias...

Não digo mais nada. Porque me falaste à memória e pelo que tu és, um grande abraço, companheiro.

Já não estás no Divor?

Anónimo disse...

E parecendo o que é, uma conersa de amigos, que os temos aqui, e é o que é...e o peixe que se deixava ser escamado, era tarefa (ingrata, convenhamos), mas nela nos concentravámos e mais nos entregávamos(não sei),a essa tarefa, maais penosa do que falar de poesia. De filosofia, sabes,não sei nada, e de poesia... também não.
Valeu!

Anónimo disse...

E parecendo o que é, uma conersa de amigos, que os temos aqui, e é o que é...e o peixe que se deixava ser escamado, era tarefa (ingrata, convenhamos), mas nela nos concentravámos e mais nos entregávamos(não sei),a essa tarefa, maais penosa do que falar de poesia. De filosofia, sabes,não sei nada, e de poesia... também não.
Valeu!

Anónimo disse...

Upss, repetição.

Não sei se, de algum modo, alguma vez mais seremos a simplicidade que somos. Eu não me canso de o dizer. Disse-te que gostei imenso do conteúdo do teu post?

Já me calei.

Anónimo disse...

Não querendo quebrar nem o silêncio nem o continuum que entre duas almas amigas se estabelece,venho deixar a minha lareira acesa. Na minha infância e durante a adolescência havia uma lareira, a das tias de minha mãe, que acendia ainda de madrugada. Também tinha muita beleza.... A lareira era pintada com cal no verão e enegrecia de inverno. E todo o santo dia servia para tanto...ela aquecia, ela crepitava na minha imaginação e no meu frio do mundo que sempre o tive, ela cozia a sopa, o caldo, o leite que bebia, ela iluminava, ela aconchegava, em seu redor, à noite, contavam-se histórias. A minha mãe começava, depois a tia que morreu em Outubro, depois os homens iam deitar-se, as mulheres continuavam. Eu ouvia. De verão a lareira entristecia e eu sentava-me sozinha a olhar para ela. No meu frio do mundo sempre a lareira me aqueceu. Agora, está a casa fechada, a lareira não se acende. Mas tenho e mantenho as suas labaredas na alma. A lareira que nunca deixará de crepitar dentro de mim. E a lenha que levava a casa da velhota Amália, sozinha na casa do canto...ela sempre me dizia, "ai menina que me salvas do frio", mais os cântaros de água de verão, "ai menina que mem matas a sede..."
A aldeia, se eu pudesse dizê-lo assim, diria que é uma das principais casas da saudade.



Sobre os peixes:

nessa mesma casa no pátio, havia uma pedra e uma amendoeira. Às vezes, na canícula de verão, o meu pai leva-nos ao Douro para tomarmos banho no rio. Alguém oferecia peixes às netas da Ana Pêra, minha avó materna e mãe da escola naquela terra, e eu ouvia, ao cair na noite, as mulheres a escamar e a cantar junto à pedra debaixo da sóbria e torta amendoeira.

Cenas que tenho gravadas na alma como se pinturas de António Lopez fosse...

Estava tão fria na triste lida das folhas com cabeçalho e rodapé dos exames...


desculpem ter-vos interrompido. Também gosto de lareiras e ainda sinto o cheiro dos peixes do rio nas noites quentes que já não há...

belo serão este, mas a mim falta-me a lareira...sobram-me memórias!

Semente disse...

eu gosto, Platero :)

gosto da simplicidade e também vivo no campo :)

ADORO!

platero disse...

a LAPDREY

as minhas melhores desculpas. A pressa e algum desassossego provocado pela matéria levaram a que quase o tratasse (ah, e o vício da ruralidade)por Land-Rover.
Posso considerar-me redimido?

às
Sereia
Saudades
Isabel - um beijo
conversaremos com mais tempo

Luiz Pires dos Reys disse...

Ohh, amigo Platero, mas que pena!

E eu que estava já aqui a acostumar-me a uma certa sonoridade " à la Romanov".
Sei lá, tipo Lapdreiev !!??
Bolas! Não se faz: tirar o bombom da boca da criança.

Mas, pronto!
Está absorvido, perdão, "absolvido" pelo meu (desa)sossego.
"In nomine patri..."


Até sempre, amigo Platerov
(eh eh!)

Salamaleque fidalgo às damas!

Anónimo disse...

Na minha casa, nos dias frios, olham-me sempre as labaredas alaranjadas e crepitantes. Não há companhia melhor que esta, conta-me histórias e aquece-me a alma de uma tal forma que me faz ficar a olhar para as chamas, esquecida do tempo e de tudo.Às vezes peço também companhia a um porto e sinto-me cada vez mais quente, mais aconchegada e reconfortada! E os meus lábios são cada vez mais de carmim...
Quando era mais pequenina - ainda o sou- adorava ficar na lareira da minha avó, era muito maior que a minha, tão grande que podia sentar-me lá dentro, num banco pequeno que ela tratava por "mocho". Pedia-me para ler enquanto me assava castanhas, aquelas castanhas eram mais deliciosas que as de agora!

Paulo Borges disse...

Ao Platero e a todos,

Comoveram-me o início do dia! Comovo-me sempre com as memórias sentidas do irreversível e resvalo para a prima ínvia da saudade que é a melancolia. Acenderam-me tantas lareiras na alma, eu que tenho uma num apartamento em Lisboa que pouco acendo...

Grato!

Anónimo disse...

Sim, gosto de toda aquela simplicidade na casa da aldeia, do quintal, da eira, das searas, dos pastos, das medas, das cibanas, dos palheiros,dos animais: tantos!, da família reunida e daquela lareira…
Ah, foram tantos os serões, as histórias, conversas, gargalhadas, risos e sorrisos … tantas lembranças à lareira naquelas longas noites de Inverno… se as fosse nomear gastaria, como se dizíamos antigamente: “rios de tinta e estradas de papel”…

Sorrio …
Sabem, numa família extremamente religiosa, conservadora e tradicionalista, até o Terço rezávamos todas as noites, à lareira! E como éramos muitos fazíamos escadinha… Ah, e quantas vezes fingíamos estar “perdidos de sono” para apressar as bênçãos dos Pais e irmos p’ra cama! Na verdade, éramos uns “fiteiros”! O que nós riamos … sacanas! Mesmo.