O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

A nossa mais funda saudade

A nossa mais funda saudade é de um não sei quê, porque a nossa mais funda saudade é disso que somos e isso que somos não tem conceito nem palavra que o pense e diga. Nem sequer "ser" ou não. É por esta desmesura, este abismo, este infinito não poder caber nem em nós, nem no mundo, nem em si, que há saudade. Pelo menos enquanto nos virmos como existindo e sendo isto ou aquilo, receosos da abertura sem contornos que irradia, como um coração silente e súbito, na deslumbrada penumbra da nossa ilusão: esta ilusão de sermos nós "próprios", este sonho-pesadelo que nos alucina em morte-vida.

2 comentários:

Anónimo disse...

Senti-me montanha estendida para o céu numa íntima proximidade cheia de espaço! Por vezes há homens que dão a impressão de nos abrir um “ infinito” não condicionado que ecoa por todos os lados e põe os corações abertos como que a cantar hinos silenciosos. O que eles dizem, a nós só nos faltou dizer ou saber enquadrar. Mas é só impressão…

Paulo Borges disse...

É só impressão. A vida é a abertura desse infinito. Ninguém em particular a possui, representa ou expressa. Nela todos os sinais se dissolvem na direcção que indicam: todo o espaço, sem rotas nem rumos, sem guias nem viandantes. Somos espaço e todos os ventos, em todas as direcções, toda a energia do mundo, a nossa ébria montada.