O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Somos êxtase: porque sacrificar ao desprezível ?

"A civilização não é senão uma fina película à tona de um caos ardente" - Friedrich Nietzsche, A Vontade de Potência
"Temos de possuir um caos no íntimo para dar à luz uma estrela dançarina" - Id., Assim Falava Zaratustra

Somos este caos a incendiar a fina película. Arderemos apenas nesse fogo ou renasceremos na luz-dança estelar ?

Profunda gratidão a todos os que crescentemente visitam, publicam e se expõem neste blogue, despidos, travestidos ou mascarados. Um blogue é por natureza uma serpente auto-devoradora, como a Vida: tudo o que surge logo é engolido por algo novo. Saibamos todavia remexer e explorar o ventre da serpente, porque nele se encerram verdadeiras preciosidades.

Sinto que carecemos de redescobrir uma cultura da intensidade e da profundidade, que nos confronte com a descoberta, experiência e superação das nossas mais ignotas e amplas possibilidades. A alternativa é o que já acontece: distracção, diversão e agitação fútil, este passa-tempo moribundo a que se chama vida.

Sim, sendo êxtase, porque sacrificar ao desprezível ?

2 comentários:

Luar Azul disse...

Haverá algo de desprezível neste mundo? Sacrificamos o que vemos como desprezível, sacrificamo-lo em nome do que amamos. Mas quando sou Um com algo não o posso desprezar, nem tão pouco o posso amar (porque o amor é um afastamento). A linguagem do sacrifício não cabe na Unidade.

Posso apenas cantar com ele uma música a muitas vozes, a polifonia de uma solidão encantada, que como gotas num Oceano são e não são

O Mesmo.

Paulo Borges disse...

Entendo o desprezível como essa mesma dualidade que nos leva a sacrificar e desprezar (ou amar, nesse sentido) alguma coisa. Agora, num ponto de vista absoluto, que por isso mesmo não é ponto de vista algim e não se pode expressar, é claro que nada há de desprezível. Às vezes ao falar tentamos dizer o que é, da forma menos inadequada; outras procuramos despertar certas reacções que acreditamos libertadoras. Foi este o caso.