O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Enlouquecer alegremente, transfigurar o universo e morrer de luz

Preparava-me para publicar algo do que de mais devastador e incómodo este grande iconoclasta às nossas mentes mimadas dirigiu e eis que me deparo com esta passagem redentora, sem lhe poder resistir... Compaixão ou fraqueza ?...

“Gostaria de perder a razão com uma única condição: ter a certeza de me tornar um louco alegre e jovial, sem problemas nem obsessões, folgazão de manhã à noite. Se bem que deseje ardentemente êxtases luminosos, não os quereria no entanto, pois são sempre seguidos de depressões. Quereria, em contrapartida, que um banho de luz de mim brotasse para transfigurar o universo – um banho que, longe da tensão do êxtase, conservaria a calma de uma eternidade luminosa. Teria a ligeireza da graça e o calor de um sorriso. Quereria que o mundo inteiro flutuasse neste sonho de claridade, neste encanto de transparência e de imaterialidade. Que não houvesse mais obstáculo nem matéria, forma ou confins. E que, neste paraíso, eu morresse de luz”
- Emil Cioran (1911-1995), Sur les Cimes du Désespoir, in Oeuvres, Paris, Gallimard, 1995, p.31.

3 comentários:

Anónimo disse...

lindo. não interessa o nome que lhe dêem, compaixão ou fraqueza.
e, aliás, que não ponhamos a questão sequer.

Ana Margarida Esteves disse...

Lindíssmo este trecho ... Finalmente começo a entender Cioran, a quem me apresentou uma pessoa a quem muito amei mas que pouco consegui compreender ...

Mas por favor, manda-nos a bofetada que este Irmão escreveu, que nós andamos a pedi-las ...

Anónimo disse...

"Ide! Tendes leis e tendes tratados.../ Eu tenho a minha loucura!/ E ergo-a como um facho a arder em noite escura/ e sinto espuma e sangue e cântico nos lábios (...)"