segunda-feira, 28 de janeiro de 2008
Enlouquecer alegremente, transfigurar o universo e morrer de luz
Preparava-me para publicar algo do que de mais devastador e incómodo este grande iconoclasta às nossas mentes mimadas dirigiu e eis que me deparo com esta passagem redentora, sem lhe poder resistir... Compaixão ou fraqueza ?...
“Gostaria de perder a razão com uma única condição: ter a certeza de me tornar um louco alegre e jovial, sem problemas nem obsessões, folgazão de manhã à noite. Se bem que deseje ardentemente êxtases luminosos, não os quereria no entanto, pois são sempre seguidos de depressões. Quereria, em contrapartida, que um banho de luz de mim brotasse para transfigurar o universo – um banho que, longe da tensão do êxtase, conservaria a calma de uma eternidade luminosa. Teria a ligeireza da graça e o calor de um sorriso. Quereria que o mundo inteiro flutuasse neste sonho de claridade, neste encanto de transparência e de imaterialidade. Que não houvesse mais obstáculo nem matéria, forma ou confins. E que, neste paraíso, eu morresse de luz”
- Emil Cioran (1911-1995), Sur les Cimes du Désespoir, in Oeuvres, Paris, Gallimard, 1995, p.31.
“Gostaria de perder a razão com uma única condição: ter a certeza de me tornar um louco alegre e jovial, sem problemas nem obsessões, folgazão de manhã à noite. Se bem que deseje ardentemente êxtases luminosos, não os quereria no entanto, pois são sempre seguidos de depressões. Quereria, em contrapartida, que um banho de luz de mim brotasse para transfigurar o universo – um banho que, longe da tensão do êxtase, conservaria a calma de uma eternidade luminosa. Teria a ligeireza da graça e o calor de um sorriso. Quereria que o mundo inteiro flutuasse neste sonho de claridade, neste encanto de transparência e de imaterialidade. Que não houvesse mais obstáculo nem matéria, forma ou confins. E que, neste paraíso, eu morresse de luz”
- Emil Cioran (1911-1995), Sur les Cimes du Désespoir, in Oeuvres, Paris, Gallimard, 1995, p.31.
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3 comentários:
lindo. não interessa o nome que lhe dêem, compaixão ou fraqueza.
e, aliás, que não ponhamos a questão sequer.
Lindíssmo este trecho ... Finalmente começo a entender Cioran, a quem me apresentou uma pessoa a quem muito amei mas que pouco consegui compreender ...
Mas por favor, manda-nos a bofetada que este Irmão escreveu, que nós andamos a pedi-las ...
"Ide! Tendes leis e tendes tratados.../ Eu tenho a minha loucura!/ E ergo-a como um facho a arder em noite escura/ e sinto espuma e sangue e cântico nos lábios (...)"
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