O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Acaba aquilo
muito antes que a preocupação,
que a congeminação,
o suspense e o diz-que-disse acabe.

Acaba sem pendências afinal, quando acaba.
Quando acaba
o resto que ficou para trás acabou também, surpresa!

Não acaba como um fósforo a apagar-se
cujo qual quem assiste sabe muito bem,
à medida que assiste,
quando acaba.

Acaba e já ninguém diz nada
como preparação para se dizer muita coisa.

Acaba sem apagar-se, fica tudo boquiaberto e também mais calmo.

Acaba a vida
sem metáforas quando acaba,
e um corpo que vai a enterrar
não sem antes, com certeza, haver velório
para lembrar, se calhar,
que já tinha acabado
ou que nem tinha começado
ou que a questão não é essa.

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