O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

O tempo, a realidade (jogo do ser e não-ser) e a fuga da realidade (tendo em vista a liberdade)

O tempo passa e nada permanece o mesmo.
Tudo está sempre a mudar.
Umas coisas deixam de ser, esgotado o seu karma,
Outras vêm a ser, a partir das outras.
É o jogo do ser e não-ser, dominado pelo tempo.
O tempo é a mudança operada nas coisas,
A sua essencial instabilidade, desequilíbrio,
Entre o uno e o múltiplo, o finito e o infinito, o definido e o indefinido, o tudo e o nada,
Algoritmo que não controlamos.
E nesta roda viva de ecos, gritos, brilhos, sombras - fantasmas,
Tudo vai acontecendo, vindo a ser e deixando de ser, cheio de dores de pranto e parto, e de alegria,
Por obra não sabemos de quem.

E, por vezes, apetece-nos fugir e é o que fazemos:
conversamos; lemos um livro; vemos um filme; brincamos; damos uma solitária volta de carro pela noite escura, calcorreando o brilho psicadélico das luzes da cidade; fodemos como animais bestiais; matamos...

Libertamo-nos do jogo pelo esquecimento do jogo. Há verdadeira liberdade no acto. Enquanto dura. Poderá durar para sempre - um após outro, após outro...- e será que o queremos?

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