sexta-feira, 25 de janeiro de 2008
Eros humano, Eros divino
"Ora, pelo facto de que o mistério divino, tal qual se propõe à religião esotérica, se enuncia na Unidade do amor, do amante e do amado, se há uma via de acesso pela qual o iniciado possa aproximar-se deste mistério e vivê-lo, esta via não pode senão ser única; ela é indicada no próprio enunciado. O tâwhid esotérico não pode ser compreendido, vivido e realizado senão na e pela experiência do amor. É o amor (o Eros) humano que abre o acesso ao tâwhid esotérico, porque o amor humano é a única experiência efectiva que pode, no seu limite, fazer pressentir e por vezes realizar a unidade do amor, do amante e do amado [...].
"Não se trata senão de um só e mesmo amor e é no livro do amor humano ('ishq insâni) que é necessário aprender a ler a regra do amor divino ('ishq rabbâni) [Rûzbehân, Jasmim dos Fiéis d' Amor, 160]"
- Henry Corbin, En Islam Iranien. Aspects spirituels et philosophiques. III - Les Fidèles d'Amour. Shî'isme et Soufisme, Paris, Gallimard, 1972, p.67.
"Não se trata senão de um só e mesmo amor e é no livro do amor humano ('ishq insâni) que é necessário aprender a ler a regra do amor divino ('ishq rabbâni) [Rûzbehân, Jasmim dos Fiéis d' Amor, 160]"
- Henry Corbin, En Islam Iranien. Aspects spirituels et philosophiques. III - Les Fidèles d'Amour. Shî'isme et Soufisme, Paris, Gallimard, 1972, p.67.
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2 comentários:
“Foi um beijo único que durou uma hora e catorze minutos. (…) Depois, ambos, como em sonhos, sonâmbulos, subiram a escada escura, que rangia sob os seus passos, atravessaram um sombrio corredor e no quarto, inundado pela penumbra de um precoce crepúsculo de chuva, deixaram-se cair em cima da coberta rugosa que tapava sombriamente a cama e retomaram o beijo que haviam interrompido, com os rostos orvalhados da chuva ou de lágrimas, nem eles sabiam. (…) E, como num brusco acesso de humildade, perante ele ou perante Deus, em acção de graças, caiu de joelhos, (…).
(…) a perturbação dos dois era ainda grande de mais para lhes permitir conhecerem o encantamento, sabiam apenas que estavam juntos e tinham de se procurar.”
Hermann Broch, Os Sonâmbulos, vol.I, pp. 42-43
Como poderia o amor que é expressão do absoluto exprimir-se de modo terreno?!
Se o amor fosse algo de e entre o familiar o que o distinguiria dos outros sentimentos menos exacerbados? Se ele não for igualmente experiência do divino, qual seria a sua especificidade relativamente aos restantes sentimentos? Temer o amor, não é temer o outro estranho que nele pode em simultâneo estar escondido? E, pelo facto de Eros não poder ser visto, não nos permite isso ver na proibição da visibilidade do seu rosto, Deus? Aquele que ama, ama o universo (Novalis disse que aquele que está apaixonado vê o seu amor em miniatura em todo o universo) e ama Deus, ou o divino. Está ele mesmo a descobrir o que é para além de si. Está em excesso e menos dedicado ao “eu”. Penso até que se despede dele e muda de nome. Anda à procura de um jardim para esbanjar a sua juventude eterna e ser nu, como na infância de si e do mundo.
“ Creio com a mais profunda fé que só numa terrível exacerbação da estranheza, só quando esta é, por assim dizer, levada ao infinito, ela se pode tornar no seu oposto, no conhecimento absoluto e pode então desabrochar aquilo que, à sua frente, paira como objectivo inatingível do amor mas que o constitui: o mistério da unidade. De uma lenta habituação recíproca, de uma recíproca familiarização não nasce mistério nenhum.” op.cit. p. 105
Beija-me… Beija-me ainda, mas com cuidado para não acordares a louca curiosidade de Pandora. Deixa que a caixa seja o embrulho e o embrulho a promessa do que ela jamais poderá conter. Não desvendes o mistério, não reveles o segredo. Se a caixa se abrir todo este espectáculo se dissolverá. Um espectáculo cercado de fogos incandescentes e de feras que cruzam asas e garras em lances temíveis. Olha como os seus olhos reluzem como diamantes genuínos na noite querendo ofuscar-nos com tamanho brilho. São uma ilusão tremenda e viva que atemoriza e fascina, mas que nos estão a brindar uma espécie de glória sem suporte nem aplausos. E é neste interlúdio entre tudo e coisa alguma, que somos a força do mundo, vendaval, mar alto, espírito puro, rasgo destemido.
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