O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 22 de janeiro de 2008

O Baile de Máscaras

Sebastião entrou na sala encapuçado, à sua volta mil e uma máscaras deleitavam quem por elas amor fundo bradasse.

Escolheu uma com vulcão e lágrima, passeou-se, olhou e viu, outras tantas lágrimas, outras tantas faces... Escolheu outra e outra e outra... Faces de Deuses e Demónios, Santos e Sádicos, Despojados e Conquistadores, Heróis e Vilões...

Em tudo amou, em tudo entrou, com tudo se apaixonou, em tudo vibrou, só se perdeu quando se identificou, mas mesmo quando se julgou fragmento nunca foi mais que aparência...

No seu íntimo, para lá do visível e do invisível, dançava intocável e incorruptível, num tempo sem qualquer memória, o que não tem nome nem nunca terá...

2 comentários:

Ana Margarida Esteves disse...

Quaisquer reminiscências de Stanley Kubrick são mais do que mera coincidência ... "Eyes Wide Shut", o filme mais mal compreendido do Século XX, talvez por ser o seu Epitáfio ... Que viajes em paz pelas esferas cósmicas e para além delas, irmão Stanley!

Luar Azul disse...

Há filmes que basta ver uma vez para deixarem em nós como que o rasto indelével de uma mensagem profunda, que se calhar há muito conhecíamos, mas não de forma desperta ou explícita. Por exemplo, no meu caso, o Ran do Kurosawa, o The Fountain, ou The Mirror Mask, são filmes que "entram" bem na minha concepção do mundo. Já o Kubrick é diferente, tenho de ver muitas vezes até sentir que compreendo o que ele quer transmitir. Por exemplo vi o Shinning umas 7 ou 8 vezes até que a solidão do que quer ser génio, acima da paisagem, isolado do mundo, se evidenciasse ao meu olhar.

O eu, o culto da genialidade, a necessidade da fama, é o que me parece estar na base desse filme. Mas a primeira vez que o vi (era miúdo) só me pareceu um filme assustador (aquele sangeu todo e o machado, etc).

O "AI", legado do Kubrick, também já o vi umas cinco ou seis vezes e ainda descubro muita coisa nele. Quanto ao Eyes Wide Shut, lembro-me muito bem dos rituais das mulheres nuas, algo ali me cativa ferozmente, mas o filme em si permanece um mistério na sua mensagem. Pudera, ainda só o vi duas vezes!!

Isto tudo para dizer: agradeço tudo o que me puderes dizer que me elucide sobre o filme, pistas precisam-se!!! ^_^