O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Até onde vai o poder da imaginação?

Procurei sem procurar e deparei-me com um deus adormecido.

Não era outro que não eu!, imortal consciência que, eternamente, repousava para mim própria e vivia a história de um outro, criado, que não eu, este que chora e ri, no mundo.

Acredito piamente que tudo ocorre dentro de uma consciência; nesse sentido, sou completamente idealista, se me quiser chamar nomes. Como ocorre, ainda não tenho a certeza mas, provavelmente, pelo poder da imaginação.

Um dia, há pouco tempo, enquanto estudava na faculdade, disse a um colega que era possível que as nossas imaginações fossem mundos. Ele tentou refutar-me, dizendo que esses mundos são incomunicantes de imaginador para imaginador. Penso que a ideia é irrefutável.

Agora, ocorre-me, esta ideia vai muito de encontro ao que Giordano Bruno, a um nível não imaginário, afirmou; que existiam infinitos mundos, seres e modos.

Certo é que continuo a perguntar-me, não o que há (ok, por vezes...), mas como é possível que haja. Um acto puro da imaginação?

1 comentário:

Paulo Borges disse...

É muito interessante a concepção de uma imaginação originária, ontogónica, não representativa, mas criadora, de onde procedem os vários modos da ficção eu-mundo... Supõe todavia um inimaginável primordial, que nela e por ela se manifesta e determina nas múltiplas formas do haver isto e aquilo. Além do pensamento oriental e do esoterismo islâmico (ver os trabalhos de Henry Corbin sobre o "mundo imaginal"), seria interessante ver os românticos alemães, o pensador francês ainda vivo Stanislas Breton (a sua concepção de um "nada imaginário") e, entre nós, o incontornável Pascoaes e algum Pessoa. Entre outros, claro.