O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Filosofia e saudade

"Die Philosophie ist eigentlich Heimweh - Trieb überall zu Hause zu sein"

"A filosofia é no fundo saudade - instinto de estar por toda a parte em casa"

- Novalis, Fragmente [Fragmentos, selecção, tradução e desenhos de Rui Chafes, Lisboa, Assírio & Alvim, 1992, pp.112-113].

Preferia traduzir "Heimweh" por "nostalgia", dor ("weh", "algia") do lar, casa, sede, terra natal, dor de uma intimidade perdida ou distante (cf. o inglês "homesickness"), mas neste caso cósmica, universal, na magnífica intuição de que a nossa verdadeira intimidade reside em não menos do que em todas as coisas. E reservar "saudade" para essa ardente busca do que há ainda para além disso, desse "não sei quê" de estranho e ignoto que fulge no imo da maior intimidade e que a torna o fundo sem fundo de uma inesgotável viagem de desencobrimento e ocultação... Disso está mais próxima a "Sehnsucht" germânica.

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