O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Na sequência de enlaces e implosões...

Luva

Dá-me a tua luva
Dá-me o teu colchão
Deixa-me só um bocado mesmo caído morto
Daquele limiar da noite
Um certo vagar deserto onde o conforto habite
Onde suspires o incerto e arrebites
Na solidão

Dá-me a tua luva
Dá-me a tua mão
Seda, cetim, lã, pele, marfim
Pura
A tua cobertura ebúrnea

Dá-me essa pupila
Vê se me invades decididamente
Com amor e alarde e ataque
Efusivamente
Tipo norte-americanos no Iraque

Dá-me o prado da janela do comboio
A cheirar a uva
Dá-me a tua turva esperança
Dá-me a tua curva estrada
Não me importa e não me estorva com efeito nada
Senão a tua lembrança sem ti

Dá-me o teu Inverno
Cada tua estação
Faz-me teu eterno e derradeiro amado e perdão
Dá-me a tua luva
Dá-me a tua luva
Dá-me a tua mão

1 comentário:

Anónimo disse...

Que luxo de luva !...