O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

O balbuciar das águas
tímpanos de prantos antigos
na pele da tarde
o longe goteja no outro lado da parede
com que o silêncio se faz escuta de homem
o mundo a soltar-se e a regressar à frescura
da fonte
já só sede e esquecimento
espiralada
a perder-se de ser
os calafrios são pegadas de inquietação
nos cabelos da despedida
das máscaras e dos medos
das dores e dos segredos
do frio
e da queda que se antecipa no depois
mesmo a vertigem
é um querer ainda
um traço na negação altiva do espaço
há que rasgar o dentro e o fora
o sangue do princípio
bebido
com a boca
o nariz
os olhos
em amálgama
para nada
sem então
até que não

Sem comentários: