O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Limiar

Eu tenho um paramento
A tua longe-ideia
A carne-firmamento
Da saudade que ateia

Eu sinto um pensamento
Um músculo que arreia
Um mar de vazamento
O meu sangue sem veia

Os teus olhos estão foscos no meu passado
Os teus olhos são tocos na minha estrada
O meu fosso é mais escuro que a madrugada
Antes da risada ébria dealbar da cama de lã sideral

Eu tenho uma vertigem
A tua sobrancelha
A tua carne viva
Em máxima centelha

Intuo um horizonte
As tuas mãos pousadas
Na minha boca-fonte
Nas minhas namoradas

4 comentários:

Anónimo disse...

Hey Mr Tambourine Man: Gosto do teu universo! Gosto da imaterialidade palpável das tuas vertigens, horizontes...do teu pensamento,sangue sem veia.

Anónimo disse...

Olá Ana. Sou na verdade, antes, uma menina Tamborim:) Grata pelo teu gosto.

Anónimo disse...

Quando disse Hey Mr Tambourine Man, estava-me a referir ao Sr Bob Dylan que escreveu uma música chamada "Mr Tambourine Man". Algo no teu poema e no teu nickname se associou e me fez lembrar uma passagem da letra dessa mesma música. Passo a transcrever:Then take me disappearin' through the smoke rings of my mind,
Down the foggy ruins of time, far past the frozen leaves,
The haunted, frightened trees, out to the windy beach,
Far from the twisted reach of crazy sorrow.
Yes, to dance beneath the diamond sky with one hand waving free,
Silhouetted by the sea, circled by the circus sands,
With all memory and fate driven deep beneath the waves,
Let me forget about today until tomorrow.

Anónimo disse...

Sim, entendi, já me haviam passado a letra:) mas obrigada, engraçada a associação.