O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sexta-feira, 20 de novembro de 2009

BEATRICE

É no soneto que me realizo
inteiramente, à minha dimensão,
é no soneto, sem qualquer senão,
que atinjo a perfeição, no meu juízo.

Nos seus catorze versos rivalizo,
tanto no ritmo como na expressão,
com tantos outros vates de eleição
de cujas obras-primas me autorizo.

Tudo me serve para meter nele...
mas de entre tudo quanto se refira
é sobretudo o Amor que me compele.

Só me lamento de não ser Orfeu
para me ouvindo Deus, ao som da lira,
por pena me deixar... ir vê-la ao céu!

JOÃO DE CASTRO NUNES

Coimbra, 20 de Novembro de 2009.

3 comentários:

Paulo Feitais disse...

Grande maquineta! É que não falha!
Tudo consegue enchouriçar nos versos...
Os temas mais difíceis e adversos
E até mesmo a menos lustrosa palha.

Engrenagem assim não tem igualha
Aqui ou em qualquer lugar do mundo
Em que a carenagem da fantasia
Consinta engrenar-se com a tralha
Que cai nesse poço negro e sem fundo

Da monotonia do dia-a-dia.
E o aparelho tem um maquinista
Com um ego maior que um elefante

No fio das palavras, trapezista
Julga-se da Poesia um gigante
A dar aos leitores sacos d'alpista.

João de Castro Nunes disse...

E ainda vossemecê não viu nada! Apenas... uma amostra. Quanto a si... vá lubrificando a sua maquineta, que range por todos os lados, correndo o risco de gripar. Afine o cavaquinho! JCN

João de Castro Nunes disse...

Que coisas tão bonitas de mim disse
este gentil polígrafo Feitais!
Estou-lhe muito grato. Quanto ao mais,
é pena... não passar de palermice!

JOÃO DE CASTRO NUNES