O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Sudário de Silêncio



Despe mais o teu corpo
Despe mais os teus véus,
as tuas vestes, a tua poesia!
Despe mais o teu sangue, a tua ferida
Despe-me (te) solenemente;
Despe mais ainda em mim a tua alma.


E quando fores só luz
E brilhares como uma transparência de ti:
Despida estrela da terra e do chão;
Quando já nada tiveres para despir:
Nem palavra, nem silêncio,
Nem infinito espaço
nem infinito tempo
Quando fores só luz de Luz
Despe-te ainda mais de ti e de mim.


E sê-me no imo Um Nada trasparente,

mais do que luz!
Deposita em meu colo esse Nada de palavras
Deixa -o florir no canteiro de mim!
E vamos colher as estrelas
Em outra dimensão que nos iguale em sonho!


Em outro Real nos quisémos Anjos
Em outros olhos nos quisémos boca
E com nossa saliva colámos as palavras
Ao Nada que sabemos e somos:
Sudário do nosso vazio e conhecido rosto

De Poetas.


Maria Sarmento

8 comentários:

Paulo Borges disse...

Cara Saudades, deixou-me sem palavras para dizer a beleza e verdade deste poema! Gratíssimo

João de Castro Nunes disse...

Indiscutivelmente... é Poesia! JCN

João de Castro Nunes disse...

"VAMOS COLHER ESTRELAS"

Em nnoites de luar, de lua cheia,
"vamos colher estrelas" sem a mão
levados pelas asas da ilusão
que fronteiras não tem... na minha ideia!

JOÃO DE CASTRO NUNES

Quem continua? JCN

João de Castro Nunes disse...

Segunda qudra:

Se for preciso levo uma candeia
que pode ser meu próprio coração
que sempre ao rubro está como um carvão
que ao mais ligeiro sopro se incendeia.

JCN

João de Castro Nunes disse...

Rematando, em verónica:

No escuro brilham como os pirilampos
que à borda dos caminhos e nos campos
derramam luz que de si mesmos brota.

Vamos colhê-las, pois! seguindo a rota
dos nossos sonhos que não têm limites,
por guia tendo só... nossos palpites!

JOÃO DE CASTRO NUNES

Sujeito a polimento. JCN

rosário disse...

loved!

João de Castro Nunes disse...

Sensibilizado! Nem sempre atiram pedras! JCN

Anónimo disse...

Grata pelas palavras, mesmo as não ditas: as que em silêncio mais nos falam; as que despidas mais nos despem, as que veladas mais nos mostram o rosto ausente que nos interroga no sîlenciar que nos escorre em palavras...

Um abraço.