O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 13 de outubro de 2009

Mãos


Deixa cair no colo, em repouso,
as tuas mãos cativas!
Côncavas ou convexas,
Elas são o avesso e o direito
de uma mesma Saudade.

Às vezes, até parece que cantam
como pássaros implumes...
São como nuvens,
São como pássaros!
Juntas, não se prendem
Segredam!

Ouvem em oração
o Silêncio do canto
em que voam, aturdidas!...
Separadas asas
do vazio coração
da Hora plena!

Às vezes tardam, as mãos...
Às vezes são, no ar,
O traço luminoso do desejo e da espera.
Outras, dançam,
Em infinitos espaços
A eterna dança das horas:
Suspenso voo do salto cego!

E são os dedos que se agitam
e tremem na maçã do dia,
o redondo fruto de colhê-lo
Liso e novo:
coração implume de pássaro ardente.

São como plumas, os dedos,
cativos das paisagens dos olhos.
São como rosas as pétalas dos dedos
Cativos e saudosos da ausência dos teus!

10 comentários:

João de Castro Nunes disse...

Pedras, não: antes um punhado de diamante negros com ocultos raios de luz no seu interior como estrelas na escuridão da noite! JCN

Paulo Feitais disse...

as mãos... pombas imaculadas e insectos necrófagos. Com elas fazemos e desfazemos os nós que somos, o que somos nós sem elas? :)

Semente disse...

Adoro mãos, Saudades!
O que dizer???

ADORO MÃOS!

Para mim. estão ao mesmo nível dos olhos. Para mim, falam a mesma língua do olhar. Mãos e olhos são uma linguagem que pretendo passar o resto da vida a entender e a falar :)

Adoro Mãos*

João de Castro Nunes disse...

BEIJO-TE AS MÃOS

Beijo-te as mãos, amor, beijo-te as mãos
as minhas tanta vez acarinharam,
beijo-te as mãos do modo que as beijaram
às damas nos salões os cortesãos!

Beijo-te as mãos que tu dizias feias,
mas que eram para miim como as das fadas,
distintas, elegantes, delicadas,
esculturais, ainda que não creias.

Beijo-te as mãos como beijaste as minhas
pelo amor que te dei, que ambos nos demos
durante o longo tempo que vivemos.

Beijo-te as mãos até à exaustão,
com toda a alma, todo o coração
posto a teuss pés no solo onde caminhas!

JOÃO DE CASTRO NUNES

João de Castro Nunes disse...

Repito o segundo verso, por incompleto:

que as minhas tanta vez acarinharam,

JCN

fas disse...

Sentes cair no colo
As tuas mãos cativas
De nuvens e de rosas
Aquelas que aturdidas
Na dança de asas plenas

Tiveram sentidas
Saudades serenas

Do colo dos segredos
Que libertam sentidos

Maçãs e poemas
Na pluma dos dedos

Paulo Borges disse...

Belos poemas, Saudades e Soantes!

João de Castro Nunes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
João de Castro Nunes disse...

De fariseus... está cheio
hoje ainda o nosso meio!

JCN

Anónimo disse...

Eu só posso agradecer por estas vossas palavras, que não tentam definir o mundo, nem indefinir o definido dele, mas que são doces de ouvir, sem vaidade... com muita Amizade as recebo.

Aproveito para me dirigir (desculpem!) ao Franciso e agradecer-lhe este belo poema.

Um beijo a todos.