O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quarta-feira, 7 de outubro de 2009

filosofar não é outra coisa que capturar o caos na forma que continua a dizer a intensidade e o infinito.não é falso dizer que é um exercício perigoso

10 comentários:

Joana Serrado disse...

mas um poeta corre mais riscos, tem mais doenças profissionais (nevroses, suicidios, dependencias)...e no fundo, faz o mesmo, com menos palavreado.

baal disse...

joana não vou citar platão.
mas saliento qiue os poetas (apesar de heidegger afirmar o contrário) não des-velam, podem sentir, procurar, alegrar-se, sofrer, mas dificilmente conhecem, quanto às doenças profissionais talvez os poeta exijam demais de um mundo que dá o que tem. é possível que necessitem de um pouco de estoícismo, epicurismo e quejandos.

Joana Serrado disse...

Discordo completamente. Um poeta (ou poetisa, o feminino desvalorizado da gramática) transforma, salva, cria o mundo. (sentir, procurar, alegrar, sofrer, bem, retirando o procurar, são demasiado activos). O filósofo, sim, procura. Procura a descoberta que o Poeta (ou Poetisa) já fez, sentado na sua poltrona, na sua secretária, rodeado de livros e dicionários de sinónimos. E não corre risco, porque a sua tarefa é inacabada. O poeta, ao contrário, atinge a perfeição ou não a atinge, e então não é poeta.É poetiso.

baal disse...

joana contra(o)rio da poesia acredito que o filósofo 'sabe' transporta consigo a necessidade de uma armadilha de captura, capturar esta vida que não o é, e porque não dizê-lo (contrariando marx) transformá-la. um poeta transforma? um poeta age? parece-me que o poeta, esse sim, resta sentado na secretária do seu labirinto.

'le desir est revolutionnaire parce qu'il veut, toujours plus des connexions et d'agencements.'
deleuze

se estamos sujeitos a um estado de controlo o problema deve estar uma numa ontologia de base, nas categorizações, nos seus universais, é por isso necessário criar novos conceitos, uma nova geografia do pensamento, o mapa em constante construção e não o estático, a cópia , o decalque... eis o trabalho do filósofo.
os poetas (poetisas) são benvindos quando temos tempo para sentimentalismos.

Anónimo disse...

...Talvez que o poeta use a palavra para dizer o indizível, criando o dizível.
e... o filósofo pense o indizível para dizer o pensável, criando o pensamento.
Ambos andam às cabeçadas ao ar: o filósofo a pensar o que o poeta diz e o poeta a dizer o que o filósofo pensa. Mesmo que assim não seja pode dizer-se isto, é belo, mesmo que não verdadeiro. O filósofo buca a verdade e o poeta encontra-a, sem a buscar.
Um a zero. Ganha o poeta.

Beijos aos dois.

Joana Serrado disse...

sentimentalismos, baal? sabias que a palavra abstacta provem da palavra sentida, da experiencia? "ismos" , "ades", são abstrações do foilosófo. Nós temos tempo apenas para as sensações, e aí, claro "tocamos" o que vocês meramente "pressentem". Baal, ganhaste uma inimiga, ainda por cima, "sentimental!". Isto vai ser pior do que as brigas que temos visto ultimamente por aqui!

Beijinhos aos dois, especialmente à saudades, claro, que apesar de ser uma "ade" não se deixa cartografar na nossa (vossa?) língua (que os poetas vos deram e agora poem-na de fora!)

Anónimo disse...

Joana,

Quem é que põe a língua de fora?:)

Um sorriso para poetas e filósofos e outras "dades" e "ismos"...

A luta entre ..etas e ...ósofos:)

Beijos

baal disse...

o filósofo busca o primordial mesmo na linguagem, linguagem essa que o poeta utiliza para tentativas vãs de perceber e explicar o mundo ou o seu umbigo).

será joana que a palavra abstracta provem da palavra sentida..ou de construções que só ilusoriamente reflectem o existente e o sentido (construções de poetas)
é preciso voltar a criar a palavra e recriar o sentido do pensar (noavas imagens do pensamento), para isso os filósofos e os seus conceitos que são fluxos, são o meio nunca princípio ou fim, desterritorializam e reterritorializam num fluxo inacábel, no fundo na construção daquilo a que chamamos viver.
1-1 recuperação dos filósofos.
saudades, o filósofo a pensar o que o poeta diz?, que inversão , que perda de tempo para os filósofos.

abraço para ambas

ps. uma ajuda filosófica, vinha a calhar...

Anónimo disse...

Os filósofos encontram nos poetas um pensamento irracional que os move na tentativa de tocarem o abstracto de conceitos como "Imanência" e "transcendência" no interior da mesma imanência. Penso, baal, que o poeta ao viver um mundo que está para lá das fronteiras do Real,dizendo o indizível, tornando-o, uma e outra vez: mundo e não-mundo; verdade e mentira; artifício/natureza...
O poema situa-se no mesmo plano da ideia, inexiste existindo: dentro e fora do mundo. Situando-se perigosamente nesse nenhures: nesse nenhum lugar que imaterializa o real. Não é perigoso lidar com espectros. O poeta é um deles... e o filósofo, ama o poeta pela sua liberdade... alguns filósofos, evidentemente...


Uma boa tarde, baal

Não quero pontuar, nem peço voto (risos!) Volta a outra dança do real. Mas o poeta organiza o Caos no perigo infinito da sua inutilidade radical. O mesmo se diz do filósofo...

Boas reflexões...

Um beijo a ambos.

Nós não precisamos de poetas, precisamos de poesia!:)

Anónimo disse...

... «Conhecemos sem dúvida muitas coisas
sobre as relações entre a filosofia e a poesia.
Mas não sabemos nada acerca do diálogo
entre o poeta e o pensador, que
‘embora próximos vivem nos cumes mais separados’»
(Heidegger, 1969)...

O poeta não pensa o que escreve, é o que escreve... não é o filósofo o que pensa? A poesia é como o ser sem tempo, sem princípio e sem fim. O tempo bergsoniano?
Só a poesia permite que o homem se instala na eternidade, no sempre. Eduardo Lourenço em "Tempo e Poesia", aborda de modo muito interessante estas questões que situam a Poesia a nível de uma possibilidade de aproximar o homem do ilimite e indizível Abismo entre Infinitos. Ser e "religião".
Poesia e Verdade; Ser e Verdade; complexas matérias para os filósofos caoticamente ordenarem o seu cosmos...:)

Depois há as questões do saber e do Ser; e do Desaprender...

Vou talvez escrever um poema. Uma frase que não tem sentido nem utilidade, nem Verdade.

Não há ninguém por trás do poema. Esse é o perigo dos poetas.