O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 6 de outubro de 2009

Do tornar-se igual a Deus como condição para o compreender

"É pois desta maneira que deves conceber Deus: tudo o que é, ele o contém em si como pensamentos, o mundo, ele mesmo, o Todo. Se pois não te tornas igual a Deus, não poderás compreender Deus: pois o semelhante não é inteligível senão ao semelhante. Faz-te crescer até corresponderes à grandeza sem medida, por um salto que te liberte de todo o corpo; eleva-te acima de todo o tempo, torna-te Aiôn [Vida eterna]: então compreenderás Deus. Tendo estabelecido no teu pensamento que nada te é impossível, considera-te imortal e capaz de tudo compreender, toda a arte, toda a ciência, o carácter de todo o ser vivo. Sobe mais alto que toda a altura, desce mais baixo que toda a profundeza. Reúne em ti mesmo as sensações de todo o criado, do fogo e da água, do seco e do húmido, imaginando que estás simultaneamente por todo o lado, sobre a terra, no mar, no céu, que não nasceste ainda, que resides no ventre materno, que és adolescente, velho, que estás morto, que estás para lá da morte. Se abranges pelo pensamento todas estas coisas simultaneamente, tempos, lugares, substâncias, qualidades, quantidades, podes compreender Deus"

- Hermes Trismegisto, Corpus Hermeticum, XI, 20.

6 comentários:

Anaedera disse...

Comprendê-lo é fácil, mas é doloroso fazê-lo entender aos Homens, pois estes na sua maioria vêm apenas o resultado da sua criação, imcompreendendo o caminho para o atingir.

João de Castro Nunes disse...

AIÔN

(Poema... ainda em bruto)

Sou semelhante a Deus, porque quis
que fôssemos iguais, formando um todo,
porque ele decidiu ser deste modo,
como se fosse idêntica a matriz!

Por isso mutuamente, há que dizê-lo,
nos compreendemos ambos de bom grado
sem precisar de borla nem capelo,
pois sábio dentro dele já nasci.

Neste contexto, pois, somos um só
ainda que, conforme reconheço,
não seja do meu lado senão pó!

Não terei fim, vivendo eternamente,
porque até onde chega a minha mente
também não terei tido... algum começo!

JOÃO DE CASTRO NUNES

João de Castro Nunes disse...

Repito o primeiro verso, por haver saído incompleto:

Sou semelhante a Deus, porque ele quis

JCN

Paulo Borges disse...

Na verdade o que não começa não acaba... A questão é como poderão existir dois incriados, homem e Deus...

Compreender é fácil, experimentar plenamente é difícil. Daí vem a dificuldade de o fazer entender aos homens... e até aos deuses. Há que passar do intelecto à Vida.

Saudações no Indizível

João de Castro Nunes disse...

Tem razão, Professor: não pode haver dois incriados! Só que na minha interpretação, não filosófica, mas tão-so humanística, do "Corpus Hermrticum", Deus ao criar-nos incorporou-nos a ele, passando a fazer parte da sua natureza, única... incriada. Poeticamente... discorrendo! Tão-somente. Será que, se ainda existisse, a inquisião me pouparia às suas labaredas?!... JCN

Anaedera disse...

Da punição inquisidora, apenas não terá sido poupado Deus na sua manifestação humana.
Também acredito na criação divina, mas também sei quão dificil é na "carne" fazer entender a uns e outros a união de todos!
obg