O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sábado, 25 de outubro de 2008

Sobre o Todo

I.

Será o todo apenas a soma das partes?
Para mim, o todo é mais do que a soma das suas partes.

Se calhar não estou correcto. Muito provavelmente.
Mas parece-me ser demasiado limitativo que o todo seja apenas a soma das partes.

Se algo for criado a partir de uma parte, fará com que o todo seja ainda mais todo.
Ou seja, se uma parte evoluir, o todo que daí surgir será diferente daquele que apenas seria sem essa evolução.

II.

A minha intuição é que é precisamente isso que faz com que o universo não seja apenas um, mas uma multiplicidade de possibilidades intermináveis.

Cada possibilidade nova, abre-nos um universo dentro do universo.

III.

O mesmo tempo dá origem a vários espaços e até a desfasamentos dimensionais dentro do mesmo espaço e tempo.

Diferentes frequências que coexistem no mesmo espaço

Será apenas a soma das partes o todo?
in Livro dos Pensares e das Tormentas

3 comentários:

rmf disse...

Um fractal apresenta um tipo especial de variância ou simetria que relaciona o todo com suas partes: o todo pode ser dividido em partes menores, cada uma delas como um reflexo do todo. Pense-se numa couve-flor: cada florículo pode ser desmembrado e é, em si mesmo, uma couve-flor. Os pintores, acostumados a observar a natureza de perto, já sabiam disso, sem esperar a ciência.

Mas, caro Vicente, não responde ao que pergunta...
Porque a minha visão assenta sobretudo em pressupostos científicos, permito-me a quebrar, ou tentar quebrar esses e outros dogmas com vista a dizer que um todo também só o é porque por partes é constituído. Quanto maior o todo por associação de partes menor será por distribuição das mesmas, quando fraccionado.

Esta, a sua pergunta, dá realmente que pensar!
E com geometria de fractais pelo meio, mais elucidados ficamos, ou não... :)

Mas a pergunta não está formulada para uma resposta rápida e despropositada, portanto... permita-me deixar a resposta em forma de questão.

O que obtém da adição, associação e ou distribuição de todo o infinitamente pequeno?

Um abraço, Vicente.

Anónimo disse...

Será que a realidade se pode pensar em termos de todo e partes?

Vicente Ferreira da Silva disse...

Vergilio,

realmente a questão procura uma reflexão poética.

Mas também permite algumas incursões pelo domínio da física de particulas.
Se considerarmos a possibilidade do bosão de higgs, e de reflectir neste nivel, note que a multiplicidade de formas de vida, que são incomensuráveis, aparece a partir da mais simples unidade. Por outras palavras, do um, não surgiu apenas mais do um mas também o dois. Certo?

Para além disso, também temos que considerar a "questão" da massa, porque sem massa, não haveria universo e, logo, nós também não seriamos.

Por fim, para ficar com uma pequena ideia, para mim a física e a filosofia estão na base de qualquer raciocinio. O português e a matemática são linguagens, os modos como expressamos esses saberes.

Se não for abuso, leia "Cartas frente ao Mar" em In-finito Azul.

(Por favor, desculpe a demora na resposta, mas estava atrapalhado com prazos de entraga para o doutoramento. Abraço).