O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 7 de outubro de 2008

Luz e Sombra

Sou apenas sombra.
Tu és luz.


Caminho misturada com outras sombras e com outras luzes, que não são a minha sombra nem a minha luz.


Porque só posso existir se tu existires. Só tu podes fazer com que eu seja visível, perceptível.

Então, espero que existas, que apareças, que te faças brilhar, luzir...
Espero pelo momento em que tu te dês a conhecer, para que eu possa, de facto, existir. Espero pela tua luz quente que me vai envolver, como se fosses um sol.

Até lá, não sou nada. Nem sombra.
Não tenho existência confirmada.
Ninguém sabe, porque ninguém viu.

Sou apenas alma. Alma à espera de luz.
E é a tua luz que me vai dar forma e vida e cor.



original publicado no blog da Sereia*

6 comentários:

luizaDunas disse...

Olá Sereia,

Percebo perfeitamente essa ausência de luz que traz sombra e espera. E que às vezes é mesmo uma grande luz o que nos assombra.

Semente disse...

Olá Luiza,

às vezes penso que sou eu que vejo mal, que sou pitosga.

:)

Obrigada pelas palavras amigas*

rmf disse...

Porque às vezes ficamos de boca aberta, especados, em frente ao absoluto...

Queria em ti um Sol que nem sempre perdura,
Queria em ti a luz.
Queria em ti o mar que nem sempre regressa,
Queria em ti a paz.
Queria em ti um deus que nem sempre me espreita,
Queria em mim a voz.
Queria em ti o ar que nem sempre se oferta,
Queria-Me em ti veloz.

Entre a luz e a sombra, há um espaço povoado pela presença imaginada de uma alegoria passageira, tal como o vento, sem elas.

Cartas de Amor... quem as não tem?

E porque tanto "queria" tem uma razão de ser, deixo-te este "querer", que não é meu, embora esteja marcado para sempre com a indelével tinta da poesia, no sangue em fuga tubular do imaginário circular e cíclico, de um coração, que também é meu.

"Queria de ti um país de bondade e de bruma.
Qeria de ti o mar de uma rosa de espuma..."
Mário de Cesariny

rmf disse...

*Queria

Semente disse...

Obrigada, Vergílio!

Sou uma eterna insatisfeita!
Quero sempre qualquer coisa que nem sei se deve ser minha (não no sentido de posse, mas antes de proximidade), nem sei se um dia deve chegar até mim...

Um dia vou acordar e perceber que os Deuses me deram sempre tudo a dobrar, eu é que nunca perbeci

;)

rmf disse...

percebi...