O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sexta-feira, 3 de outubro de 2008

CRIS-e

A coisa parece que está preta

Para os muros

muros, muralhas,
fortalezas
contrafortes

sobretudo estas coisas todas em língua de
S. Magestade
-o inglês de Libra –
e do livra-te (acrescentamos nós em bom alentejano)

porque estas coisas todas
no esperanto actual se dizem WALL
para rimar com Fall
e o Berlin Wall
não foi mais do que o prenúncio de WALL-
Street
Fall

Estou- me nas tintas para que se desmorone
A fortaleza do dinheiro
- a Wall Street de Nova Iorque –
para que rua
o indigente Palácio da Bolsa de Lisboa

Roque
Amorim
Berardo
Cintra
Azevedo
Não me dizem nada

Abramovich diz-me muito menos
Do que MaiaKowsky
Prefiro de longe
O nosso se calhar teso Herberto Hélder
Ao multimilionário Bill Gates

Ó gente do dinheiro
Não há dollar
Libra euro
Que valha um poema ingénuo do
Mais obscuro e anónimo dos poetas

A vossa fama passa
A vossa ganância de dinheiro morre com o vosso
Último suspiro.

Estão agora à rasca? Tremem que nem varas verdes
Pela insegurança dos frutos
Das vossas falcatruas?

Tremam pois – a mim pouco me importa
A minha Bolsa de Poetas está segura
Pessoa
Eugénio
Ramos Rosa
Não precisam de injecções de capital

É neles que as minhas
Economias estão depositadas.
Leio-os quando vou para a cama
E adormeço
Como se não devesse nada ao Mundo
E o Mundo
A mim nada me devesse.

E como é bem melhor
Ó fátuos milionários de pechisbeque
Com um “principezinho” levitar
Do que fazer todas as viagens
Que possam estar
Nos teus livros de cheques

4 comentários:

Anónimo disse...

Platero

apostei tudo na mesma bolsa que a sua! E que valor o que eles nos dão e emprestam à vida...até o Herberto Helder...

Receba uma rosa poética, uma de Rilke para o seu jardim.

ainda esta semana escrevi sobre o poema continuum...foi bom ver aqui o nome deste poeta português: Herberto Helder.

platero disse...

Isabel

obrigado pela sua opinião. A nossa Bolsa - riquíssima e segura -não está sujeita aos sobressaltos mundanos de manobras das Finanças.

cada vez mais gente acredita na sua sustentabilidade até ao fim dos tempos - porque é feita de sonhos, que é a moeda mais segura que alguma vez foi inventada.

não foi isso que nos disse Gedeão?

beijinho para si

Anónimo disse...

Foi. Este "foi" é um sorriso. Grande Gedeão que conheci novinha por causa do professor de português que tocava e cantava para me fazer sorrir, mas nos fazia florir. Há professores que são jardineiros e sabem os jardins poéticos de cor! Que grandes e que fortuna tão grande quando os deixam ser e poder ser.

Retribuo o beijinho que lanço também para as suas paisagens amplas, planas onde um dia de outono cheguei para ensinar. O primeiro livro que abri no Alentejo onde dei aulas foi de Rilke e chorei de tanta beleza dentro e fora de mim. Depois as flores floriram e os poetas continuaram a reflorescer por todo o lado.

Anónimo disse...

Parabéns!...Um abraço!